Quem usa as redes sociais já deve ter se sentido perseguido por um assunto, uma propaganda, ou até por sugestões de filmes para assistir.
“No tempo que eu trabalhava com unhas: tudo que eu pesquisava, costumava aparecer muita coisa no Instagram relacionada a isso. No Instagram e em diversas outras redes sociais. Eu acho que isso é importante se você realmente quer se relacionar neste assunto”.
Aconteceu com a Brenda Senna, acontece comigo e com qualquer pessoa que acessa uma plataforma digital. E o responsável por isso tem nome: algoritmo. Se falasse, seria aquela “vozinha” que diz ao mundo digital o que nos dizer. Quem explica é a pesquisadora Jade Percassi, do Sou Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unesp):
“Como ele funciona? Ele guarda os dados de acesso toda vez que a pessoa está logada, ou seja, que ela está de alguma maneira vinculada a um perfil de acesso. Seja no Google, seja em outra plataforma, como, por exemplo, o YouTube, ou uma rede social, como Facebook, Instagram ou Twitter.”
O que, às vezes, se torna problema é que, por trás do algoritmo, existem pessoas que fazem a moderação dos dados. O que pode gerar distorções tanto no campo econômico, direcionando para propagandas que interessem às empresas, quanto no campo das ideias. Nesse caso, Jade Percassi diz que o plural e o democrático se perdem:
"As pessoas que têm um perfil ideológico mais de esquerda vão receber um reforço daquilo que elas pensam. As pessoas com um comportamento identificado mais de direita vão receber o reforço de ideias ou de perfis que correspondem aquilo que elas já pensam. Isso vai aprofundando, potencializando, uma polarização política da sociedade”.
O uso desses dados de forma indevida, a compra desses dados, alerta ela, pode levar a distorções maiores. Um exemplo aqui no Brasil foi a criação do Gabinete do Ódio, milícia digital antidemocrática disseminadora de fake news. Mas, segundo a pesquisadora, existem outras distorções graves:
“Uma série de problemas presentes na nossa sociedade, como por exemplo, o racismo estrutural, o machismo, o patriarcado, eles também são reforçados pelo comportamento algorítmico”.
Como exemplo, padrões de beleza reforçados por mais perfis de pessoas magras do que de gordas ou de pessoas brancas do que negras. De pessoas com maior nudez, com maior possibilidade de sexualização.
Para Jade Percassi são ciladas colocadas sem nenhum tipo de mecanismo de moderação. Então, e a neutralidade na rede, existe?
“A gente não pode ter ilusões. Apesar do acesso ser gratuito, nós estamos entregando algo de muito valor. que são nossos dados. Que permitem às grandes empresas, que são proprietárias das plataformas, e as empresas que utilizam as plataformas como veículos de propaganda para vender e direcionar a venda dos seus produtos, fazem uso do próprio comportamento do usuário. Você não paga com dinheiro, mas você paga com seus dados sobre quem você é e o tipo de comportamento que você tem".
Hoje em dia, já existe até uma discussão sobre a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em relação ao sistema de recomendação do algoritmo, mas essa é uma conversa pra nossa próxima reportagem.
A Radioagência Nacional apresenta uma série de quatro reportagens sobre o mundo digital, liberdade de expressão e desinformação. As matérias serão publicadas entre os dias 27 a 30 de março. Esta é a segunda reportagem da série (veja a relação completa abaixo):
- Educação midiática é caminho contra desinformação e fake news
- Entenda o que é o algoritmo, e como ele te influencia no mundo digital
- Marco Civil da Internet e LGPD: leis que regulamentam o mundo digital
- Combater disseminação de fake news é desafio para o Brasil e o mundo
*Ficha técnica da série Mundo Digital - Liberdade de expressão e desinformação:
Reportagem: Ana Lúcia Caldas
Produção: Michelle Moreira
Sonoplastia: Jailton Sodré
Edição: Paula de Castro
Publicação na Radioagência Nacional: Nathália Mendes