RS: município de Muçum teme perder indústria
Cerca de 50 dias após a enchente que cobriu 80% do centro urbano do município gaúcho de Muçum, a cidade teme perder sua maior indústria, do setor do couro. Os moradores continuam abalados, temem novas enchentes e alguns já decidiram emigrar do local. Para o prefeito Mateus Trojan, do MDB, a situação é angustiante.
"A nossa maior empresa, que chega a ter 500 funcionários em alguns períodos do ano, está em uma operação provisória com 80, 100 funcionários. Uma redução bastante brusca do quantitativo normal. E é uma dúvida da cidade se eles vão continuar. Tem um possibilidade deles encerrarem as atividades por conta do tamanho do prejuízo, e ter dificuldade de reconstrução no mesmo lugar. Então é uma angustia que a gente vivencia hoje. E tem que acompanhar pra ver se de fato ele vão continuar a atividade econômica ou não".
A pequena cidade de cinco mil habitantes, assim como outros municípios do Vale do Taquari afetados pela enchente de maio, vive uma onda de migração. Os moradores tentavam se recuperar da grande enchente de setembro de 2023, quando foram atingidos pela nova catástrofe climática de maio.
Segundo Trojan, as inundações anteriores a setembro não causaram grandes prejuízos. Agora, a prefeitura estima que 30% da área urbana precisará ser realocada.
O consultor de vendas Tiago Dalmolin, de 43 anos, vive em uma casa ao lado do Rio Taquari, e passados quase 50 dias da enchente, ainda limpava a residência. Ele decidiu abandonar a cidade.
"E aí eu optei por vir morar aqui por ser uma cidade tranquila, boa pra criar filhos. Enfim, uma cidade tranquila. Só que se transformou num pesadelo. Aí não tem mais como. Estou fazendo tratamento psicológico no meu filho mais velho por causa desses acontecimentos aí. Uma pena porque a gente não queria abandonar a cidade. Mas infelizmente a gente pensa nos filhos e a gente não quer mais passar por isso".
Na enchente de 2023, Tiago ficou com a mulher e os dois filhos por oito horas no telhado esperando resgate. Na de maio deste ano, conseguiu deixar a casa antes da água tomar toda a residência, chegando a 1,5 metro do primeiro andar.
A aposentada Elaine Deconto, de 71 anos, acompanhava a cunhada que foi visitar o túmulo dos pais no cemitério da cidade, às margens do rio, e que foi parcialmente destruído pelas correntezas.
"É muito triste. É muito doloroso. A gente acorda de noite e não acredita que a nossa cidadezinha de 5 mil habitantes... Era uma cidadezinha linda, toda calçada, com flores, jardins, árvores e agora olha nossa realidade. Não tem mais nada. Nem sei quantas pessoas já foram embora porque essa é a quarta ou quinta enchente".
O prefeito Mateus Trojan relatou dificuldades em reconstruir a cidade, principalmente por causa da burocracia estatal. Ele citou a demora na liberação dos créditos para o setor empresarial e dificuldades para reconstrução das moradias.
Tanto o governo do estado, quanto o federal têm lançado, nos últimos dias, diversos programas de auxílio para as famílias, empresas, municípios e, no caso da União, para o próprio estado gaúcho. Segundo o governo federal, mais de R$ 85 bilhões da União foram direcionados para reconstrução do estado, entre empréstimos, auxílios, suspensão de dívidas e outras ações.
Da Agência Brasil para Rádio Nacional.