Venezuela: polarização entre classes mais ricas e população mais pobre divide o país

Venezuela

Publicado em 19/05/2018 - 07:53 Por Kariane Costa - Brasília

“Fuja do país onde um só exerce todos os poderes: é um país de escravos.”  A afirmação é de Simon Bolívar, revolucionário que lutou pela independência de países da América Latina, e, é ele também o grande inspirador dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela. Essa mesma frase é usada hoje para justificar, a fuga diária de milhares de venezuelanos do país.

 

No Judiciário, procuradores e juízes da Suprema Corte nomeados pelo Parlamento pediram exílio no exterior, após terem suas casas invadidas e serem ameaçados de prisão. O grupo de magistrados ainda delibera em um plenário em Miami (Estados Unidos), alguns juízes participam da sessão via internet desde o Chile e Panamá.

 

No Legislativo, após uma onda de protestos, no ano passado, Maduro criou a Assembleia Nacional constituinte, órgão que possuí poderes acima do Congresso Nacional, sem os parlamentares da oposição, que se recusaram a participar deste processo. Para o venezuelano Alberto Aguillar de 25 anos, a má gestão levou a crise ao país.

 

Sonora: “O governo é mal administrado, economicamente não tem emprego. O governo é o que administra o país e, por má administração, estou passando por isso.”

 

E, hoje, o país vive uma polarização, segundo o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Thiago Galvão.

 

Sonora: “A divisão, a polarização da sociedade e muito clara, entre a classe média, classe média alta, que é uma população branca, elitista e o restante da população, que é indígena, uma pequena parte da população que é negra, formada por trabalhadores. Então há uma divisão muito clara no país.”

 

A crise na Venezuela começou com a queda do preço do petróleo no mercado internacional. Segundo a Confederação das indústrias no país, a Venezuela tinha cerca de 12,5 mil indústrias privadas há duas décadas. Atualmente, apenas 4 mil ainda funcionam no país. Nos últimos anos, 500 mil estabelecimentos comerciais fecharam as portas. De acordo com o Conselho Nacional de Comércio da Venezuela, o número equivale a 60% do total. Muitos fecharam por meio de intervenção do governo, e outros foram saqueados, com o aumento da violência do país. A última intervenção do governo de Maduro foi no maior banco privado, o Banesco. A reportagem procurou a embaixada da Venezuela e eles não quiseram se posicionar sobre o tema.

 

Para a venezuelana Jennifer Bolívar, de 28 anos, as desapropriações agravaram a situação econômica.

 

Sonora: “Na minha avaliação, o que prejudicou o país é que houve muitas expropriações das empresas. Ao expropriar uma empresa, eles a paralisavam, não se produzia, e acabava fechando. Com isso, houve escassez de alimentos. A maioria dos alimentos que vem hoje para a Venezuela é importada, do Brasil e da Colômbia.”

 

O Banco Central na Venezuela é controlado pelo governo, e Maduro se recusa a divulgar dados oficias sobre a situação econômica. Mas, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação dos preços ao consumidor na Venezuela aumentará, até o final do ano, em 13.800%. O país bolivariano amarga, ainda, o primeiro lugar no ranking de maior inflação mundial. Como relata Edwin Herrera de 18 anos.

 

Sonora: “Tudo aumenta, tudo aumenta, entende? O governo não resolve. A Venezuela está ficando cada vez mais difícil.”

 

Mas, apesar dos índices negativos, boa parte da população apoia o governo de Maduro. O professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Thiago Galvão aponta os motivos.

 

Sonora: “Como no Brasil, a parcela da população mais pobre, de baixa renda, que não tinha nada e que foi preterida durante anos de governos que eram totalmente elitistas e que nunca olharam para essa população pobre. E que, de repente, com a chegada do Chávez ao poder, essa população passou a ter um serviço de atenção básica mínima, uma boa saúde, uma boa educação, acesso a energia de graça, gás de graça.”

 

Em uma das tentativas de frear a inflação, entra em vigor, em junho, o bolívar soberano. O governo vai cortar três zeros do atual bolívar. Outra medida na área econômica foi o lançamento de uma nova moeda virtual, a petro, que tem como garantia as reservas de petróleo venezuelanas. Foi o caminho achado por Maduro para lidar com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos ao país.

 

 

* Produção: Marcelo Brandão, da Agência Brasil

** Sonorização: Jaime Batista

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