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Política

8/01: Especialista considera apurar responsabilidade do Exército

Para professor, militares tinham intenções ao permitir acampamentos
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Gilberto Costa - repórter da Agência Brasil
08/01/2024 - 20:52
Brasília
Polícia e Exército se concentram na frente do QG do Exército para desmobilização de acampamento de bolsonaristas
© Marcello Casal JrAgência Brasil

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro aprovou, em outubro de 2023, o relatório final da senadora Eliziane Gama (PSD-MA). O documento pediu o indiciamento de 61 pessoas por crimes como associação criminosa, violência política, abolição do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Entre elas, o ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-ministros como Walter Braga Neto, da Defesa, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Anderson Torres, da Justiça.

Para a senadora Eliziane Gama, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, “foi autor intelectual e moral” dos ataques perpetrados contra as instituições, que culminaram no ataque de 8 de janeiro. 

O antropólogo Piero Leirner, professor titular da Universidade Federal de São Carlos e estudioso de questões militares, guerra e Estado, considera que, além intenções do ex-presidente Jair Bolsonaro apuradas na CPMI, havia mais interesses em jogo. O professor lembra que eles não permitiram desmobilizar o acampamento diante do Quartel-General do Exército, em Brasília.

“A coisa mais relevante que foi falada na CPI, no meu ponto de vista, que foi lá do Comandante da Polícia, foi que eles, antes tentaram desmobilizar o acampamento e o Exército não permitiu”, destaca.  

Segundo Leirner, os militares forneceram água, luz, banheiro e segurança no acampamento dos bolsonaristas diante do Quartel General do Exército em Brasília e “estavam totalmente conscientes do que acontecia ali”.

“Toda a ação foi elaborada de modo a parecer que foi uma coisa difusa, a ideia de que, sim, pode ter havido financiamento dos ônibus, das condições para o acampamento. Até o acampamento, não está sendo julgado. Está julgado a invasão aos Poderes. Me parece que tudo que aconteceu entre o dia um de novembro e o dia oito, está sendo minimizado dentro do processo, como se fosse coisas desconectadas. Se fosse pra levar a sério, a gente teria que ter todo o comando do Exército implicado nesse negócio, por ter permitido a ação e a atuação de militares, na concentração que essas pessoas tiveram até o dia oito de janeiro”, avalia.

O professor considera que os militares tinham intenções ao permitir a organização dos golpistas.

“Eu acho o seguinte: eles podiam, no primeiro dia de gente acampando na frente de quartel, ter desmobilizado. Eu acho que o projeto dos militares, de produzir essa horda, vamos dizer assim, essa massa golpista sim, tinha duas intenções. Era produzir uma faca no pescoço do governo Lula, como uma ameaça, obrigando Lula a entrar numa posição recuada. O segundo ponto: eles tinham o script do seis de janeiro americano na cabeça. E eles entenderam que isso aí poderia ser usado como uma massa de manobra pra queimar o Bolsonaro, que é o que eles precisavam fazer, pra entrar no novo governo como uma posição de vantagem”, explica.

O 8 de janeiro foi funcional aos militares para “entrar no novo governo, numa posição de vantagem” e manter sob seu controle áreas de interesse, como a Secretaria de Segurança Institucional, a circulação nas fronteiras, portos e aeroportos - como inclusive estabelece a missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), desde novembro de 2023, para os aeroportos e portos do Rio de Janeiro e São Paulo.

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