Pacientes com hanseníase relatam falta de medicamentos na pandemia
A hanseníase, uma doença também conhecida como lepra, ainda provoca forte preconceito na sociedade, mesmo depois de comprovada a cura. No Brasil são diagnosticadas, por ano, cerca de 30 mil pessoas com a doença.
Nesse dia 31 de janeiro, último domingo do mês, é comemorado o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. Durante todo mês, a campanha Janeiro Roxo chama a atenção para doença, ainda negligenciada. E agora na pandemia, pacientes relatam a falta de medicamentos contra essa enfermidade doença no país.
Faustino Pinto é uma das principais lideranças em defesa das pessoas com hanseníase. Hoje ele é vice-coordenador nacional do Movimento de Reintegração Hanseniano – o Morhan, fundado em 1981.
Os primeiros sinais da doença apareceram em Faustino aos 9 anos. Apenas aos 18, de forma tardia, foi diagnosticado com a hanseníase.
Conhecida há milênios, e causada por uma bactéria - o bacilo de Hansen - nos casos mais graves, a hanseníase pode provocar deformidades físicas. O professor de dermatologia da Universidade de Brasília, Ciro Martins Gomes, explica os principais sintomas da doença.
A bactéria que provoca a hanseníase pode ficar encubada no corpo durante anos, por ter uma reprodução lenta. Por isso, para se transmitir o vírus é necessário um contato íntimo e prolongado. Na maioria das vezes é transmitida entre familiares.
Até a década de 1960, a internação, com isolamento, das pessoas com a doença era obrigatória. Os infectados eram levados de forma compulsória para colônias, hospitais e asilos. Filhos eram separados de pais, famílias eram destruídas, com violações profundas dos direitos humanos.
Mas tratamentos que possibilitaram a cura, levaram ao fim dessa segregação, permitindo um convívio social pleno das pessoas com a doença.
Importante destacar que a partir da primeira dose dos antibióticos, que devem ser fornecidos pelo SUS, os pacientes não transmitem mais a doença. O tratamento pode durar até um ano.
O médico Ciro Martins Gomes fala que o diagnóstico da doença é clínico, feito pelo exame dos médicos, mas que falta ainda conhecimento sobre a hanseníase no serviço de saúde.
Faustino Pinto reforça que ainda há preconceito institucional com os portadores da doença no serviço de saúde.
O Morhan vem recebendo denúncias da falta do PQT em todo o país, o principal remédio para cura da doença. O movimento aponta que o atraso na reposição do medicamento no SUS chega a mais de 3 meses.
Em nota, o Ministério da Saúde reconheceu o atraso na distribuição do PQT. A pasta informa que a doação do medicamento pela Organização Pan-americana de Saúde estava prevista para outubro do ano passado. Entretanto, testes realizados detectaram impurezas no lote, sendo necessário produzir novamente a quantidade do remédio que seria destinada ao Brasil.
O Ministério da Saúde ainda afirmou que está em tratativas para a chegada do medicamento o mais breve possível, mas não estipulou uma data.