Durante a pandemia, pacientes com os principais tipos de câncer iniciaram tratamento de radioterapia em estágios avançados da doença. Em 10% das cidades brasileiras, o câncer é a principal causa de mortes. E essa é uma das consequências da redução no número de diagnósticos da neoplasia, no Brasil, segundo um estudo do Observatório de Oncologia, que compara dados do SUS de 2019, 2020 e 2021.
A coordenadora da entidade, Nina Melo, explica que alguns tipos de câncer são mais difíceis de serem diagnosticados. Para piorar, a demora para detectar e iniciar o tratamento, durante a pandemia, reduz as chances de cura nos pacientes.
O estudo mostra ainda que, em 2020, houve uma redução geral de 26% em procedimentos para detectar os cinco tipos de câncer mais comuns, no Brasil: mama, próstata, colorretal, pulmão e estômago. Eles correspondem a mais de 200 mil casos de tumores malignos, por ano.
De acordo com a coordenadora do Observatório de Oncologia, Nina Melo, essa redução de diagnósticos, na pandemia, não significa menos casos. Ela cita dois principais motivos para isso.
Nina Melo explica que essa queda pode causar um aumento na mortalidade, nos próximos anos. Atualmente, as chamadas “neoplasias malignas” são a segunda causa de mortes no Brasil, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. Além de reduzir as chances de cura, a falta de rastreio adequado sobrecarrega o sistema de saúde no fluxo e, até mesmo, em relação aos custos de tratamento. Já que, de acordo com a pesquisadora, quanto mais avançado, mais caro de tratar.
Para se ter uma ideia, em 2020, ano em que a pandemia começou, as mamografias – principal exame para detectar câncer de mama - e os exames de câncer de estômago caíram em mais de 40 por cento, em comparação com o ano anterior. Já as biópsias tiveram redução de 29 por cento. Os exames de próstata reduziram 25% no primeiro ano da pandemia, os exames de câncer de pulmão caíram 23 por cento, e os de câncer colorretal, a redução foi de 25 por cento.
As diferenças também foram notadas entre as regiões. Para os cinco tipos de tumores pesquisados, a região Nordeste registrou, em 2020, a maior queda nos procedimentos de diagnóstico e tratamento. Essa redução superou a média nacional. Já no ano passado, foi a vez do Norte e Sudeste superarem a média do país.