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Segurança

RJ: incendiar ônibus é demonstração de poder do crime, diz estudiosa

Complexo do Chapadão tem segurança reforçada nesta quinta (15)
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Priscila Thereso - repórter da Rádio Nacional
15/08/2024 - 14:59
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 14/08/2024 - Foto titada em  24/10/2023 – Carcaça de ônibus incendiado na Avenida Brasil, em Santa Cruz, zona oeste da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil

A quinta-feira (15) começou com a segurança reforçada no Complexo do Chapadão, na zona norte carioca. A medida é uma resposta aos episódios ocorridos na véspera, quando nove ônibus foram sequestrados e usados como barricadas, em represália à morte de um dos chefes do tráfico de drogas na região.

Ainda na quarta-feira, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, dois ônibus foram incendiados também a mando de criminosos, em represália a ações policiais.  

De acordo com a coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense, Carolina Grillo, incendiar ônibus virou modus operandi do crime na cidade do Rio de Janeiro.

“Esse repertório de queimar ônibus deixou de ser uma manifestação popular espontânea e passou a ser incorporado como um repertório de demonstração de poder por parte de grupos armados. Atualmente, a maioria das vezes em que a gente observa alguma cena de ônibus queimado, é a mando de algum chefe do tráfico ou de algum chefe de milícia, como forma de protesto, mas ao mesmo tempo como uma forma de manifestação do seu poder de interferir na paz pública”.

O RioÔnibus, sindicato das empresas de coletivos que circulam na capital, aponta que 32 veículos foram queimados nos últimos 12 meses, gerando um prejuízo de cerca de R$ 23 milhões. Outros 2.516 foram vandalizados e 135 sequestrados pelo crime para barricadas.

No estado, nos últimos dez anos, 423 veículos foram incendiados criminosamente, mais da metade na capital, de acordo com dados da Federação das Empresas de Mobilidade do Rio de Janeiro.

Esses números, no entanto, diferem dos registrados pela Secretaria de Estado de Polícia Civil de Segurança. A pesquisadora Carolina Grillo explica que há uma subnotificação. 

“Há um desinteresse em registrar e pelo fato de não ser essa uma categoria administrativa que gera uma estatística própria no Instituto de Segurança Pública. Não é um tipo penal específico, o incêndio a ônibus. E não se formou, não se construiu ainda isso como uma categoria administrativa a ser quantificada por parte das autoridades, porque as autoridades ainda não selecionaram isso como algo que mereça uma quantificação separada”.

O diretor de Comunicação e Relações Institucionais do Rio Ônibus, Paulo Valente, lembra que qualquer ato que impeça um coletivo de operar gera prejuízos para toda a população.

“Em princípio, a população usuária das linhas que passam por onde esse ônibus é sequestrado e utilizado como barricada, é prejudicada ali no bairro. Então, já impedido, no primeiro momento, o direito de ir e vir dos residentes do bairro. Normalmente essas barricadas são de manhã, o que impede o pessoal de seguir, normalmente, pro seu trabalho, pra sua consulta médica, pra escola... quando o ônibus é incendiado, aí fica complicado.  Porque o prazo de reposição de um ônibus hoje tá em torno de seis meses, porque é necessário se comprar um ônibus novo”.  

A violência também tem feito muitos rodoviários deixarem a profissão por se recusarem a assumir linhas, que passam em locais dominados por facções criminosas.  Informações do Sindicato dos Rodoviários apontam que, de 2022 a 2024, cerca de 250 motoristas abandonaram a profissão após situações de violência.

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