Governo de SP diz que lotação de leitos de UTI é esperada para maio
O governo de São Paulo acredita que os leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) do estado começarão a ficar muito cheios a partir do mês de maio. A informação foi dada pelo secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann.
"Nós vivemos de cenários. Temos de entender que, se mantivermos esse grau de isolamento e distanciamento social, nós podemos inferir que provavelmente nós teremos uma lotação de leitos de UTI a partir do mês de maio. Temos duas reservas de leitos, uma que deve se esgotar até o final de maio e outra até o final de julho", disse Germann.
Hoje, a ocupação de leitos em São Paulo está próxima do limite. O maior número foi registrado no Hospital Sancta Maggiore Higienópolis, com 83% de ocupação. Em seguida, aparecem o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (77%), o Hospital Municipal do Tatuapé (77%), o Conjunto Hospitalar do Mandaqui (76%) e a Santa Casa de São Paulo (71%).
De acordo com o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, o doente grave tem ficado em média 14 dias internado na UTI. Já o doente grave que evolui para óbito fica mais de três semanas. O grande gargalo, segundo ele, é que não faltam apenas leitos de UTI, mas tudo o que compõe o atendimento do doente grave, que começa na enfermaria e pode ir até a alta após a permanência na UTI.
“Por que o estresse? Porque você precisa ter equipamento, não só respirador, e você precisa ter equipe de saúde treinada e protocolo", disse ele. Especificamente sobre os respiradores, acrescentou Uip, o governo tem trabalhado com a indústria automobilística para que ela possa começar a produzi-los. “Talvez nós consigamos que essa indústria possa produzir esses respiradores. A compra de respiradores no mercado internacional é uma compra competitiva. O mundo está comprando. Tem dificuldades. Mas entendo que muitas coisas podem ser resolvidas pela competência e criatividade do sistema brasileiro.”
Na manhã de hoje, Uip conversou com secretários de Saúde das cidades do Grande ABC, onde a ocupação de leitos já atinge também 70% de sua capacidade. “Isso é extremamente preocupante”, disse ele. “Já há uma pressão muito importante sobre o sistema de saúde pública do estado de São Paulo, principalmente na região metropolitana do estado”, disse ele.
Outro dado que Uip destacou foi o aumento no número de mortes por coronavírus no estado, o que vem demonstrando, segundo ele, a gravidade dos casos. “Isso demonstra a necessidade de mantermos e ampliarmos as medidas de distanciamento social e ficar em casa, porque isso tem impacto relevante na curva tanto de transmissibilidade, de morbidade de doença como também de letalidade.”
Ontem (14), a taxa de isolamento social na capital e também no estado de São Paulo estava em torno de 50%. O ideal é que chegue a 70% para evitar o colapso no sistema de saúde. “O número de 50% é bom, que altera a curva. Mas não é suficiente. Queremos e precisamos mais. Nosso objetivo sempre será alcançar os 70%”, ressaltou Uip.
São Paulo tem hoje 9.371 casos confirmados de coronavírus, com 695 óbitos. Há ainda 1.143 pessoas ocupando leitos de UTI e mais 1.215 internadas em enfermarias.
Para evitar a saturação dos hospitais por causa do coronavírus, o governador de São Paulo, João Doria, voltou a fazer um apelo para que as pessoas continuem em isolamento. “Não façam movimentações desnecessárias [indo para as ruas]. Ao fazê-lo, vocês estão colocando em risco as suas vidas e a de seus familiares e amigos. Ninguém quer hospitais lotados e cemitérios cheios. Por isso, precisamos de ruas vazias”, falou o governador, lembrando que a quarentena estabelecida para o estado de São Paulo vale, neste momento, até o dia 22 de abril.
Cesta básica
Doria disse que 20 mil cestas básicas do projeto Alimento Solidário começaram a ser distribuídas hoje para as famílias mais vulneráveis do estado. A intenção é entregar, até o final deste mês, 1 milhão de cestas básicas. O governo paulista pretende entregar 4 milhões de cestas de alimentos, 1 milhão por mês, até julho.
Saída de secretário
Doria lamentou hoje a saída do Secretário de Vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, que pediu demissão do cargo pela manhã. “Lamento bastante a sua saída do ministério”, disse.