Coronavírus avança para o interior paulista, diz secretário
“No final de abril e início de maio, chegamos ao patamar de 38 novas cidades [registrando casos de coronavírus] a cada três dias. Se seguir por esse caminho ao longo do mês, significa que todos os municípios do estado terão contágio de vírus até o final de maio”, disse Vinholi. “E estamos verificando aceleração nesse processo ao mesmo tempo em que as taxas de isolamento caíram no interior do estado de 52% para 47% em média, ao longo dos últimos 15 dias”, acrescentou.
“Em março, a cada três dias, sete novas cidades [apresentavam casos de coronavírus]. Em abril, 25 novas cidades a cada três dias. Em maio, 38 novas cidades a cada três dias. Há 50 dias, eram apenas 10 cidades [do estado que tinham casos confirmados de coronavírus]. Agora são 371 cidades [com casos confirmados]. Olhem a progressão dessa epidemia quando se olha o conjunto do estado. Não existe nenhuma região protegida neste momento”, afimou o diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, Dimas Covas.
O secretário municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, Geraldo Reple, que também é membro do Centro de Contingência, disse que a covid-19 [doença provocada pelo novo coronavírus] “está indo para o interio,r e com muita força”.Segundo Reple, isso preocupa muito o governo, já que algumas cidades paulistas não têm nenhum leito de unidade de terapia intensiva (UTI) ou leitos de estabilização para atender um doente de covid-19. “O que sabemos é que muitos municípios não estão preparados”, afirmou.
São Paulo tem, até este momento, 39.928 casos confirmados de coronavírus, com 3.206 óbitos. Há 3.767 pacientes internados em UTIs e 5.919 em enfermarias. A taxa de ocupação no estado é de 66,9%, mas, na Grande São Paulo, a rede hospitalar já beira o colapso, com 89,6%. “Na minha cidade [São Bernardo do Campo], inauguramos um hospital, há quatro dias, com 100 leitos, sendo 19 de UTI. E hoje já tem 13 pacientes nesses leitos. E tenho outro serviço com 100% dos leitos de UTI já ocupados. Isso é um dado bastante preocupante”, enfatizou Reple.
“Outro dado preocupante é o número de internações, bem como o de altas. Com todos os leitos que estão sendo feitos no estado de São Paulo, tivemos ontem mil internações [no estado] e 600 altas. Essa relação de internação e alta deveria ser muito próxima, porque, se o número continuar dessa forma, ou crescendo – e pelo que parece é o que vai acontecer, vamos entrar em uma fase extremamente complicada”, acrescentou.
Para evitar que o colapso chegue ao sistema de saúde paulista, o governo diz que pretende ampliar o número de leitos, principalmente após a chegada de respiradores ao estado. No entanto, só isso não será suficiente para conter o colapso: a taxa de isolamento no estado precisaria subir, atingindo próximo de 70%, alertam as autoridades do setor.
Por mais uma vez nesta semana, o isolamento social no estado de São Paulo ficou abaixo de 50%, valor mínimo considerado satisfatório pelo governo paulista para evitar a propagação do coronavírus e o colapso nos hospitais. Ontem (6), o isolamento manteve-se em 47%. “A meta [do governo paulista] era atingir 70%, mas estamos longe desse cenário”, disse Dimas Covas.
De acordo com Covas, a taxa de reprodução ou de contágio do coronavírus (R0) no estado era, no início, de 2,9, ou seja, uma pessoa infectada poderia contagiar cerca de três pessoas. Se a taxa de isolamento alcançasse 70% no estado, a taxa de reprodução ficaria abaixo de 1, ou seja, a epidemia passaria a deixar de existir.
“Uma taxa de 70% [de isolamento] reduziria a taxa de transmissão para menos de 1. Quando isso acontece, a epidemia para de crescer. Ela para de aumentar. Ela se estabiliza até que, lá na frente, ela tenderia a desaparecer”, ressaltou Covas, lembrando a importância de as pessoas permanecerem em casa neste momento.
Leitos privados
Segundo o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, deve ser publicado nesta sexta-feira (8), ou no sábado (9), um chamamento público para que hospitais privados iniciem uma negociação com o governo sobre a cessão de leitos para o tratamento dos casos de coronavírus.
Segundo Germann, isso deve começar pelos hospitais filantrópicos e só depois com os da rede privada. Em último caso, se não houver negociação de leitos, o governo poderá requisitá-los, obrigando a rede privada a cedê-los.