Crianças de comunidades pacificadas no Rio expõem fotos no Palácio do Catete
A percepção sobre as comunidades pacificadas, do ponto de vista das crianças e adolescentes que vivem nesses locais, é a proposta da exposição Conexões de Olhares, aberta na tarde de hoje (3) no Museu da República, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro. São 200 fotos tiradas por 178 jovens de 10 a 16 anos, que participaram do programa Sesi Cidadania em 12 comunidades que receberam unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
As oficinas, ministradas em 2013 pela fotojornalista japonesa Hikaru Nagatake, fizeram parte do projeto global Wonder Eyes, que já passou por 13 locais, incluindo acampamentos de refugiados. A mostra tem o objetivo de desenvolver a criatividade de crianças e adolescentes por meio da fotografia. Também curadora da exposição, que já passou por Tóquio, Hikaru explica que a finalidade é também mostrar a realidade brasileira para o povo japonês, como parte do intercâmbio cultural entre as duas cidades olímpicas, já que Tóquio vai receber os Jogos de 2020.
“Dizem que o Brasil é um país do século 21, do futuro, e também já está realizando esse futuro. O Brasil tem muita diversidade e, como um país do futuro, tem muita coisa para apresentar, ensinar e estimular para outros povos, de outros países, inclusive crianças do Japão. Estou muito impressionada pelas fotografias das crianças, eu aprendi muitas coisas com as fotografias e sobre a relação delas com a comunidade”, disse Hikaru.
Foram reunidas imagens de doze comunidades: Santa Marta, Tabajaras, Mangueira, São Carlos, Formiga, Andaraí, Complexo do Alemão, Providência, Cidade de Deus, Macacos, Morro Azul e Borel. De acordo com a superintendente do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Maria Lúcia Telles, a ideia é mostrar aos visitantes a realidade vivida por grande parte da população carioca, mas desconhecida do brasileiro em geral.
“O Consulado do Japão nos procurou, ela [Hikaru] já rodou mais de 12 países com esse projeto, e nós entendemos que levar essas oficinas para as comunidades pacificadas é trazer para as crianças uma nova oportunidade de ter acesso a máquinas fotográficas, de desenvolver a criatividade e se sentir parte de um mundo desconhecido para elas: o da fotografia. Por outro lado, mostrar a comunidade com o olhar das crianças, e o resultado é fantástico, a sensibilidade que têm sendo crianças e vivendo dentro das comunidades. [Elas] veem ângulos que nós não vemos”, ressaltou Maria Lúcia.
Uma das fotógrafas é Kássia do Nascimento Amaral, de 13 anos, que retratou a mina onde a comunidade busca água, quando falta nos canos. Moradora no morro Santa Marta, ela diz que já gostava de fotografar, mas só tinha experiência com o celular. “Me sinto importante [de participar da exposição] com essa foto 'maneira' que eu quis mostrar. Foi ela [a professora] que escolheu, mas eu fotografei também o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Lagoa. Com o curso, eu aprendi a tirar foto e guardar para mim, e outras coisas também.”
Morador do Andaraí, Gabriel Elias Zotti de Souza, 14 anos, diz que a primeira vez que fotografou foi na oficina. A foto escolhida mostra um muro em que se lê “aqui não é lixeira, seu porco”. De acordo com Gabriel, as pessoas costumam jogar lixo ali, por preguiça de ir até o local apropriado. Para ele, o curso mudou sua visão sobre a comunidade onde vive. “Mudou bastante para mim, porque depois que eu comecei a ver esse lado [da fotografia], percebi que não é a gente que escolhe as coisas, são as coisas que atraem a gente para mostrar como realmente são.”
A exposição Conexões de Olhares pode ser vista até o dia 3 de maio. São 168 fotos reunidas em painéis na entrada do museu e 55 grandes painéis espalhados por todo o jardim do Palácio do Catete. Nos domingos de março, o público também pode aproveitar apresentações musicais, sempre às 10h. Abre a temporada, no dia 8, o artista Dudu Oliveira, depois virão os shows de Jaime Alem e Dino Rangel, e o violonista Turíbio Santos fecha a agenda, no dia 29 de março.