Ancine libera R$ 60 milhões para produção de conteúdo regional para TVs públicas
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e o Ministério da Cultura anunciaram hoje (2) os contemplados da primeira chamada pública para produção de conteúdo regional e independente destinado às emissoras de televisão públicas - educativas e culturais, universitárias e comunitárias. As 94 obras selecionadas serão produzidas até agosto de 2016 e veiculadas por um ano em cerca de 200 TVs, incluindo a TV Brasil. São 250 horas de programação inédita para os públicos infantil, jovem e adulto. Serão investidos R$ 60 milhões, de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, para produções nas cinco regiões do país, R$ 12 milhões para cada.
O diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel, disse que o processo de construção das linhas de programação foi colaborativo, com a participação de 193 emissoras, e que mais de 700 projetos foram inscritos nos editais. “A televisão brasileira sai fortalecida desse processo porque teremos os diversos olhares, sotaques e a cultura brasileira em toda a sua força. Para essa diversidade vir à tona, nós teremos a possibilidade de entregar à sociedade uma programação de qualidade dialogando com os diversos aspectos da realidade do país”.
A Mandra Filmes, de Goiânia, foi contemplada com dois projetos de animação para o público infantil, Júlio e Verne, Irmãos Geniais e Muralzinho. Kelly Alves, roteirista de Júlio e Verne, explicou que o edital pedia que o conteúdo tivesse como tema o amadurecimento das crianças na primeira infância. Serão 13 episódios que contarão a história dos gêmeos Júlio e Verne, que já superaram várias dificuldades e agora ajudam outras crianças, como a irmã mais nova, a largar a chupeta e o amigo a superar o medo de dormir fora de casa.
A inspiração de Kelly está nas obras do autor francês, Júlio Verne. “Hoje, a própria facilidade de acesso a conteúdo digital faz com que crianças e jovens leiam menos. Nós trazemos as histórias do Júlio Verne como pano de fundo, mas não contamos o que traz no livro. Então, isso instiga a criança a querer saber mais sobre Viagem ao Centro da Terra ou Vinte Mil Léguas Submarinas e tantas outras obras que o Júlio Verne deixou para a humanidade”, disse.
As duas obras da Mandra Filmes receberão pouco mais de R$ 1,2 milhão para a produção. Na avaliação de Kelly, o mercado audiovisual brasileiro está amadurecendo e criando uma economia criativa que vai se tornar autossustentável. Mas, enquanto isso não acontece, é preciso, segundo ela, fomentar a produção com editais como os anunciados hoje. “Isso desenvolve, promove o intercâmbio, a aquisição de tecnologia, a busca por conhecimento, a melhoria profissional e técnica das equipes. E essa descentralização que o edital promoveu é fundamental porque o Brasil é rico, é plural, existem excelentes técnicos e artistas que tiveram oportunidade de participar e ter seu produto na TV”, disse.
A linha de financiamento dessas produções faz parte do Programa Brasil de Todas as Telas, do Ministério da Cultura, lançado em 2014. A ação teve o apoio das associações brasileiras das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (Abepec), de Canais Comunitários (Abccom) e da Televisão Universitária (Abtu).
Outro projeto aprovado foi a série de ficção Cidade Invisível, do roteirista Thiago Foresti, da produtora Forest Comunicação, de Cuiabá. A série, destinada ao público adulto, aborda o trabalho escravo moderno e conta a história de cinco pessoas que vão para a cidade fictícia de Nova Esperança e acabam no trabalho degradante.
“A Forest trabalha há quatro anos com a pauta socioambiental e já produzimos muitos materiais sobre trabalho escravo. É um assunto que já temos familiaridade e resolvemos partir para o desafio de transformar as histórias reais em ficção. A intenção é fazer uma reflexão sobre o trabalho escravo para que as pessoas reflitam sobre o próprio consumo, que, às vezes, fomentam esse tipo de atividade ilegal”, disse. A Forest vai receber R$ 650 mil para a produção de cinco episódios que serão gravados em Alter do Chão, no Pará.
Segundo o diretor-presidente da EBC, Américo Martins, a empresa teve o papel de organizador do processo de seleção, de articulação do campo público por meio de sua rede. “A EBC está ajudando em um projeto fundamental para produção audiovisual independente para as TVs públicas no Brasil. É um projeto muito importante, especialmente pelo tom regional. Estamos saindo daquele centro-sul, onde basicamente são feitas as grandes produções hoje”.