Povo Xerente coloca times masculino e feminino nas finais do futebol

Publicado em 30/10/2015 - 19:36 Por Nathália Mendes - Repórter do Portal EBC - Palmas (TO)

Entre os 60 times de 23 etnias brasileiras e oito seleções estrangeiras, um povo virou a sensação do campeonato de futebol dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.  Os Xerentes, do Tocantins, estão nas finais feminina e masculina – as mulheres enfrentam as canadenses e os homens a Bolívia. As partidas ocorrem na noite de hoje (30), no Estádio Nilton Santos, em Palmas.

Palmas/TO - Kayapós assiste partida de futebol entre os Kayapós Mebêndôkre e índios do Panamá pela primeira rodada dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Kayapós assiste partida de futebol entre os Kayapós Mebêndôkre e índios do Panamá pela primeira rodada dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. As finais masculina e feminina ocorrem na noite de hoje (30) Arquivo/Marcelo Camargo/Agência Brasil

O time feminino chegou à decisão em um jogo cheio de reviravoltas no placar. No campo da Ulbra, as Tapirapés, povo de Mato Grosso, abriram o placar no primeiro tempo e levaram a vantagem para o intervalo. No segundo tempo, as Xerentes empataram e viraram o jogo, mas permitiram o empate. Nos últimos minutos da partida as Xerentes marcaram mais dois gols. O resultado de 4 a 2 levou as índias tocantinenses para a final contra o Canadá.

Além do talento das atletas, a disposição do time feminino dos Xerentes foi importante para chegar à decisão do título. “Foi com muito esforço e muita persistência que nós chegamos até aqui. Eu não esperava. Agora temos um jogo duro pela frente, mas é uma honra para a gente poder jogar pelo nosso povo”, disse a atacante Nair Xerente, de 17 anos. “Nosso time tem boas jogadoras. A gente treinou bastante, fizemos amistosos para chegar bem”, completou Keiliane Smikadi, de 14 anos, que também joga no ataque.

Para a lateral Ivanilena Xerente, o favoritismo das canadenses não assusta o time das índias do Tocantins. “Na hora, tudo pode acontecer”, afirmou. Uma das coordenadoras da delegação, Vanessa Xerente ressaltou que os times jogarão por muito mais que os 4 mil indígenas que representam. “Vamos defender o nome do Tocantins e também do Brasil nessas finais”.

Com campanhas idênticas, as mulheres saem um pouco à frente dos homens por terem um melhor saldo de gols: elas balançaram as redes 21 vezes e sofreram cinco gols, contra 15 gols marcados pelo time masculino, que sofreu dois.

Os jogadores Xerentes não tiveram dificuldade para confirmar a classificação para a final. No clássico dos povos de Tocantins, eles venceram os Karajás por 4 a 0. “Todos os jogos foram difíceis. O diferencial é que a gente estava preparado. Atingimos o nosso objetivo de chegar na final e vamos brigar por este título”, disse Vanderlei Xerente, que joga na posição de volante.

Na partida final, os xerentes terão a Bolívia, que surpreendeu o Paraguai na semifinal e quebrou uma invencibilidade de 11 jogos dos campeões da Copa América de Povos Indígenas ao vencê-los por 1 a 0. “Quem quer ser campeão não pode escolher adversário”, disse Felipe Xerente, que joga como zagueiro no time. Segundo ele, a base do time é formada por jogadores de duas aldeias, escolhidos entre as 33 do estado. “Os xerentes são a atração dos campeonatos locais que a gente disputa”.

“Viemos treinando forte, fazendo um trabalho desde antes, e evoluindo a cada jogo. O mais importante é que tivemos humildade”, afirmou o capitão do time masculino, Leonardo Xerente, em entrevista à Fundação Municipal do Esporte e Lazer. Apesar da falta de estrutura, a preparação dos jogadores e jogadoras xerentes começou ainda no começo do ano, com início dos treinos no mês de março. “Treinamos e jogamos juntos desde o começo. É o mesmo time do primeiro jogo até a final, e, por isso, estamos entrosados”, disse Vanderlei.

Responsável por treinar os dois times, Dorabel de Souza não pretende perder o momento histórico – mesmo depois de ter sido internado ontem (29) com problemas no coração. De acordo com seu auxiliar técnico, Silvino Sinawe, o treinador ficou em observação no hospital após o mal-estar, mas passa bem e negocia uma autorização do médico para acompanhar os jogos de perto. Depois de levar os dois times à final do campeonato mundial, o maior desafio de Dorabel será controlar a emoção durante os 80 minutos de cada partida – isso se as decisões não forem para os pênaltis.

As campanhas

Feminino

Fase de grupos:
Xerente 8 x 0 Terena
Xerente 4 x 1 Kaigang
Oitavas de final
Xerente 1 x 1 Kamayurá (nos pênaltis: Xerente 4 x 3 Kamayurá)
Quartas de final
Xerente 4 x 1 Xambioá Karajá
Semifinal:
Xerente 4 x 2 Tapirapé
Números: quatro vitórias e um empate, com 21 gols marcados e cinco sofridos 
 
Masculino

Primeira fase:
Xerente 2 x 2 Pataxó
Xerente 7 x 0 Erikibaktsa
Oitavas de final
Xerente 1 x 0 Pataxó
Quartas de final
Xerente 1 x 0 Kanela
Semifinal:
Xerente 4 x 0 Karajá
Números: quatro vitórias e um empate, com 15 gols marcados e dois sofridos.

Edição: Aécio Amado

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