Companhia teatral do Morro dos Cabritos apresenta musical a preços populares

Publicado em 10/06/2016 - 07:01 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Cia de Teatro Abraço da Paz

Cia de Teatro Abraço da Paz -Divulgação/Luiz Paulo Silva

A Cia de Teatro Abraço da Paz, criada em 2011 na comunidade do Morro dos Cabritos ou Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, zona sul do Rio, estreia hoje (10) seu terceiro espetáculo - No Passinho dos Tabajaras - no Teatro João Caetano, com preços populares: R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia-entrada. Serão, ao todo, três apresentações às sextas-feiras do mês de junho, sempre às 19h, disse o diretor da companhia e autor do texto do espetáculo, Jonas França.

O musical, de 60 minutos, tem como tema a dança do passinho. Ele narra a história de Lequinho, rapaz de origem humilde que gosta de jogar futebol e adora dançar. Criado na comunidade dos Tabajaras, Lequinho se divide entre o primeiro emprego, para ajudar a família, onde conhece uma jovem por quem se apaixona, e a dança. Ele ensaia ao lado de seus amigos, em busca do sonho de ser artista. “É um texto muito bem humorado. A maioria do tempo é muita dança, muita coreografia”.

A fundação da companhia teatral partiu de um movimento do produtor Cabbet Araújo, após confronto violento entre bandidos e policiais na comunidade, em 2009. No ano seguinte, Araújo promoveu o primeiro "abraço da paz” no local, com a participação de artistas, dançarinos, diretores e produtores. O mutirão transformou uma construção precária em espaço para a expressão artística e cultural da região, que levou o nome de Lajão Cultural Esportivo. Cabbet Araújo convidou Jonas França para dirigir um grupo de dançarinos de break (estilo de dança de rua), e França decidiu criar a Cia de Teatro Abraço da Paz.

“Por meio dos exercícios que a gente fazia durante as aulas, foram surgindo coisas bacanas. Eu resolvi então fazer um texto para eles [dançarinos de break]. Surgiu assim o primeiro espetáculo da companhia chamado A Vida de um B-Boy, em 2012, com o ator Matheus Nachtergaele fazendo a supervisão artística geral. Em seguida, veio a peça Morro da Trincheira, com texto de Jonas França e Alex Borges que, a exemplo do primeiro espetáculo, passou por vários palcos da cidade.

No momento, enquanto se prepara para estrear No Passinho dos Tabajaras no Teatro João Caetano, a companhia do Morro dos Cabritos ensaia o novo musical Anjos do Calçadão, na Sala Paulo Ponte, com o apoio do Teatro Net, que também cederá o espaço para a estreia, prevista para agosto próximo. O Anjos do Calçadão conta a história de meninos de rua de Copacabana que, por meio da arte, têm suas vidas transformadas. “Já vamos para o quarto espetáculo”, disse o diretor.

Integração

França informou que o espetáculo No Passinho dos Tabajaras foi contemplado com o Prêmio Favela Criativa, da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Ele lembrou que no começo da companhia teatral, o elenco era integrado apenas por moradores da comunidade do Morro dos Cabritos. Ao longo dos anos, depois das temporadas em vários teatros da cidade, entre eles o Ipanema, Net Rio, Maria Clara Machado, Imperator e a Sala Baden Powell, foram sendo incorporados atores e atrizes de outras companhias, bem como artistas de comunidades de outros bairros. “Hoje, é uma coisa muito aberta. É uma companhia de prática de montagem de espetáculo para quem tem vontade de fazer teatro, fazer arte. Hoje, a gente tem pessoas de quase todo o Rio de Janeiro”.

Não existe restrição para que os integrantes da companhia sejam oriundos apenas de comunidades. “A partir do momento em que você só aceita pessoas de comunidade na companhia, você limita a arte. Acho que arte tem que ser para todo mundo”, reiterou. Para Jonas França, além de promover a inclusão cultural, o teatro afasta os jovens da violência e das drogas. “Acho que essa é a melhor forma de educar, porque eles [jovens] se apaixonam pelas brincadeiras que estão fazendo no palco. Muitos se apegam tanto e, com certeza, preferem estar ali no teatro. É uma minoria que falta às aulas e aos ensaios durante o ano”.

A Cia. de Teatro Abraço da Paz não tem nenhum patrocínio, mas “a gente luta e sempre consegue fazer. De uma forma ou de outra, no final, acaba montando o espetáculo e levando para teatros grandes”. França destacou que para os jovens que estão na companhia é uma satisfação muito grande, porque muitos deles pisam no palco pela primeira vez. Considerando atores, atrizes, colaboradores e técnicos, a Cia Abraço da Paz reúne atualmente uma equipe de 100 pessoas. “É uma doação de cada pessoa para que o trabalho fique pronto. O trabalho acaba sendo de todo mundo”, afirmou.

*Matéria alterada às 17h39 do dia 16/06/2016, para inclusão do crédito do fotógrafo autor da foto

Edição: Graça Adjuto

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