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Novas editoras debatem na Bienal a renovação do mercado editorial brasileiro

Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 09/09/2017 - 19:16
Rio de Janeiro

Em meio a um mercado editorial dominado por gigantes, novas e pequenas editoras tentam buscar espaço com diferentes estratégias para alcançarem um objetivo comum: fazer o livro chegar ao leitor. O tema foi debatido hoje (9) no espaço Café Literário, da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, na mesa Novas Editoras.

Karla Melo, da editora Confraria do Vento, destacou que a essência do trabalho deve ser contribuir para a formação de leitores. “Fico impressionada com o número de publicações no Brasil. Tem editora com 70 publicações por mês, mas meu país está lendo desse jeito? As redes sociais são importantes para divulgar a marca e fixar, mas é complicado atrair o leitor. Apostando nisso, somos pequenos sim, mas claro que queremos que nossos livros cheguem ao máximo de leitores. A gente vai nessa batalha de encontrar bons autores e buscar um público. O entusiasmo é o que nos mantém nessa guerrilha pelo livro”, ressaltou.

Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), em 2016, o setor editorial brasileiro produziu 427,2 milhões de exemplares, vendeu 385,1 milhões e faturou R$ 5,27 bilhões, com a edição de 51,8 mil títulos, dos quais 17,37 mil novos.

Com os primeiros títulos lançados há apenas três meses, Flávio Moura, da editora Todavia, disse que a ideia não é “travar uma batalha” com as grandes editoras, mas sim, buscar mercados e leitores distintos. “Claro que é difícil brigar num espaço tomado por tantos grandes. A primeira dificuldade é fazer com que saibam dos seus livros. Vamos na linha de apostar num nome novo, um autor não tão conhecido. É um pouco guerrilha mesmo. Apostamos no Instagram, no Facebook, em eventos de lançamento. É difícil fazer com que as pessoas compareçam”, explicou.

Segundo Moura, os livros de ficção lançados no Brasil vendem, em média, 3 mil exemplares, chegando a 10 mil em casos de grande sucesso. “Dos 200 milhões de pessoas do país, 44% se declaram como não leitores, ou seja, não leram nenhum livro nos últimos 12 meses. Então, como fazer? Precisamos de investimentos no longo prazo para que tenhamos mais leitores no país. Vamos indo até achar um jeito de ver o livro ser escoado e encontrar seu leitor”, comentou.

Meios eletrônicos

As estratégias das pequenas editoras também divergem em relação às novas plataformas de edição e de venda de livros. Para Karla, é preciso juntar as duas ferramentas. “Não acredito que o livro eletrônico vá substituir o livro em papel, ele é apenas mais uma ferramenta para o nosso desenvolvimento”, disse.

Sócia da editora Oito e Meio, Tatiana Kely explicou que até publica e-books, mas que ainda não há retorno financeiro dessa plataforma. Por outro lado, as redes sociais têm ajudado a prospectar (revelar) novos autores para a editora.

“Nós temos a plataforma Carreira Literária, de ajuda a autores. Temos mais de 20 mil autores inscritos. Damos curso. Quando recebemos os livros e eles são bons, a gente chama para publicar. Numa maratona, recebemos mais de 600 originais, entre eles Modos Inacabados de Morrer [romance de estreia de André Timm], que venceu a maratona e é finalista do prêmio São Paulo de Literatura”, conta.

Fabiano Curi, da editora Carambaia, explica que o formato de e-books não funciona para suas publicações, já que o foco são projetos gráficos elaborados para obras em domínio público, cujos autores morreram há mais de 70 anos. Para ele, o comércio eletrônico é o principal canal de venda.

“Vendemos basicamente pelo site e usamos as redes sociais para divulgar, com filmes, fotos dos livros. Somos muito dependente da internet pra fazer a divulgação e temos uma relação muito próxima com os leitores. Hoje temos umas 30 livrarias com nossos livros. Tem funcionado, mas não temos de olhar as livrarias como os únicos pontos de venda”, declarou.

Segundo Curi, além de feiras e bienais literárias, eventos com outros focos podem render boas vendas. “Nenhum editor pode ser contra a livraria. Não pode jogar isso fora. Ela é fundamental, mas ela tem de começar a olhar para seu modelo, principalmente as grandes redes, que hoje vendem mais computadores e celulares do que livros, que ficam até escondidos. A grande vantagem de ser uma pequena editora é poder trabalhar nas franjas, participar de pequenos eventos. Às vezes não são literários, mas podem ser de interesse do seu leitor. A gente só quer vender nosso livro a um preço que a gente acha justo”, acrescentou.

Diversificação

Para a mediadora da mesa, Fernanda Diamant, editora da Revista 451, especializada em resenhas literárias, o debate das pequenas editoras em meio a um grande evento do mercado editorial como a Bienal, é importante para que elas possam ser conhecidas.

“Aqui tivemos quatro representado inúmeras [editoras], duas do Rio e duas de São Paulo, mas representando um universo muito grande. Elas estão se fazendo conhecer aqui, num ambiente um pouco dominado pelas grandes editoras. Certeza que são centenas, não saberia dizer um número. A experiência é muito variada, cada uma tem uma história muito diferente da outra. Algumas têm, outras não têm investimentos. Umas são mais artesanais, outras menos. O resultado é muito variado”, comentou.

Segundo o Snel, em 2016 as livrarias foram responsáveis pela venda de 119,4 milhões de exemplares, o que corresponde a 52,73% do total comercializado no mercado, excluindo-se as vendas para o governo. Os distribuidores venderam 39 milhões, o equivalente a 17,22%. O segmento porta a porta teve participação de 8,18%, com 18,5 milhões de livros.

A comercialização chegou a 4,88% em igrejas e templos, a 3,44% em supermercados, e a 2,5% nas escolas. A participação das livrarias exclusivamente virtuais subiu de 1,97% em 2015 para 2,43% em 2016, equivalente a 5,5 milhões de exemplares vendidos. A venda direta nos sites das editoras representou 0,73% do total.