Segunda noite de desfiles em São Paulo reúne cinco campeãs
Cinco campeãs do carnaval se apresentam hoje (10), na segunda noite dos desfiles do Grupo Especial de São Paulo: X-9, Império, Vai-Vai, Mocidade e Gaviões passam em sequência na passarela do Anhembi. Fecham a festa Dragões da Real e Vila Maria. O desfile ocorre no Sambódromo do Anhembi, zona norte da capital.
Após um ano no grupo de baixo, a X-9, duas vezes campeã, abre a noite, seguida da Império de Casa Verde, que tem três títulos no currículo e é conhecida pelo luxo das fantasias e a grandiosidade das alegorias.
Em seguida é a vez de duas supercampeãs. A Mocidade Alegre, dez títulos e maior vencedora do século é a terceira escola a passar; depois, se apresenta a Vai-Vai, soberana com seus 15 campeonatos. Como tem ocorrido nos últimos anos, as agremiações do Bairro do Limão e do Bexiga, respectivamente, devem lutar pelas primeiras colocações.
Em seguida, o Anhembi vai assistir a um tira-teima. Primeiro entra em cena a corintiana Gaviões da Fiel, tetracampeã e única escola oriunda de torcida organizada a ter vencido um carnaval. Na sequência desfila sua desafiante, a são-paulina Dragões da Real, vice-campeã em 2017, com a mesma pontuação da vencedora Acadêmicos do Tatuapé, mas que perdeu o título nos critérios de desempate.
A apuração dos desfiles de ontem e hoje ocorrerá na terça-feira. As quatro primeiras colocadas entre as 14 agremiações participarão do Desfile da Campeãs, na sexta-feira. As duas últimas serão rebaixadas e disputarão o Grupo de Acesso em 2019.
As escolas e seus enredos
X-9 Paulistana (22h30)
A criatividade popular para criar expressões curiosas e engraçadas, mas que expressam ideias complexas. Este é o enredo da X-9 Paulistana em sua volta ao grupo de cima do carnaval paulista. A voz do samba é a voz de Deus. Depois da tempestade, vem a bonança! vai brincar na avenida com os ditados populares.
Segundo a escola, apesar de universais, os provérbios ganharam um sabor muito próprio no Brasil em razão da espontaneidade do povo brasileiro. Por isso, o desfile vai mostrar que essas expressões pitorescas revelam muito do caráter nacional. O próprio nome do enredo explica como a ideia será trabalhada. Depois da tempestade vem a bonança é uma referência ao fato de a X-9 estar voltando ao Grupo Especial após a queda em 2016.
A escola foi fundada em 1975 na Parada Inglesa com o nome de Filhotes da X-9, em alusão à tradicional agremiação X-9, de Santos. Sua primeira década de vida foi tímida, mas a partir de 1985 a agremiação teve um grande impulso e rapidamente subiu todas as divisões do samba paulista, até estrear no Grupo Especial em 1995.
A partir dali, a X-9 passou a ocupar os primeiros lugares no desfile. Foi campeã em 1997 e 2000 e fez grandes desfiles explorando temas criativos. Nos anos recentes, a escola havia se afastado da condição de favorita, até cair para o Grupo de Acesso em 2016, onde ficou apenas um ano.
Império de Casa Verde (23h35)
A Império de Casa Verde vai fazer em seu desfile uma conexão entre a Revolução Francesa e o atual momento político brasileiro. Com o enredo O Povo: A Nobreza Real, a agremiação vai imaginar como seria se o povo brasileiro resolvesse tomar as rédeas do país. As inspirações são o romance Os Miseráveis, de Victo Hugo, e a novela Que Rei Sou Eu?, da Rede Globo.
O desenvolvimento da ideia mostra a população saindo do papel de bobo da corte para lutar por seus ideais contra os carrascos da injustiça até ser coroada soberana dos destinos no país em plena avenida. E na conclusão, quem tem sangue azul é o povo.
A Império de Casa Verde é a caçula das campeãs do carnaval de São Paulo. Nascida em 1994 como dissidência da veterana Unidos do Peruche, a escola teve uma ascensão fulminante e já em 2003 estreava no Grupo Especial.
Já no terceiro ano na elite do carnaval, a escola levantou seu primeiro título, feito que repetiria no ano seguinte. O terceiro de seus campeonatos viria em 2016. Desde o início, a Império ficou conhecida por seu luxo e ostentação e pelas alegorias gigantes, especialmente os tigres, que são seu símbolo e compõem o carro abre-alas.
Mocidade Alegre (0h40)
A Mocidade Alegre vai cantar a voz de Alcione no desfile de hoje. O enredo Alcione: A voz marrom que não deixa o samba morrer, contará a vida da cantora de 70 anos de idade e 45 de carreira. Seus grandes sucessos vão servir de pano de fundo para a passagem da escola, que vai enaltecer também a cultura popular do Maranhão, terra da Marrom, como a cantora é chamada.
A participação da cantora na luta contra a ditadura será outro ponto trabalhado pela Mocidade. E como não poderia deixar de ser, a Mangueira, escola de Alcione, terá grande espaço na apresentação no desfile.
A Mocidade Alegre é uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo. Além disso, depois de um período de jejum, a agremiação do Bairro do Limão tornou-se a mais frequente campeã paulistana. Desde 2004, quando voltou a levantar um título, a Morada do Samba, como é chamada carinhosamente, acumula seis de seus dez campeonatos. O mais recente foi conquistado em 2014.
Fundada em 1967 por um trio de irmãos oriundos do estado do Rio de Janeiro, a escola ficou famosa por seus enredos de temática africana. No ano passado, não conseguiu celebrar o cinquentenário com um título, mas está confiante de que voltará ao topo agora.
Vai-Vai (1h45)
A Vai-Vai continua este ano a peregrinação pela Bahia que começou no carnaval passado. Em 2017, a escola do Bexiga homenageou Mãe Menininha do Gantois. Agora, vai apresentar o enredo Gilberto Gil - Sambar com fé eu vou.
O desfile passará pelos grandes sucessos de Gil e vai explorar o aspecto eclético de sua obra, que passeia pelo samba e pelo baião, pelo rock e pelo reggae, que vai da canção de protesto ao lúdico do Sítio do Pica-Pau Amarelo.
O desfile vai abordar a vocação política do artista, militante contra a ditadura, exilado, vereador em Salvador e ministro da Cultura. Também vai tratar da religiosidade, do sincretismo e dos cultos orientais. E não faltarão citações às grandes criações poéticas de um autor que tem nas metáforas um de seus segredos.
A Vai-Vai é uma das entidades carnavalescas mais antigas de São Paulo. Nascida cordão em 1930, na Bela Vista ou, como é mais conhecido, no Bexiga, bairro central de São Paulo, tornou-se escola de samba em 1972, com a unificação dos desfiles de carnaval.
Considerada a mais popular da cidade, a Vai-Vai é também a maior campeã, com 15 títulos. Dos tempos de cordão, mantém a tradição da batida forte e acelerada da bateria, apelidada “pegada de macaco”.
Gaviões da Fiel (2h50)
A cidade de Guarulhos, vizinha de São Paulo, é a inspiração da Gaviões da Fiel para este carnaval. Com o tema Guarus – Na Aurora da Criação, a Profecia Tupi… Prosperidade e Paz aos Mensageiros de Rudá, a escola pretende contar a história do povo guaru, que habitou a região e inspirou o nome do município.
Segundo a agremiação, a mitologia tupi-guarani narra a recriação do mundo pelo mensageiro Rudá, que escolheu um ponto especial para fazer renascer a humanidade após a grande destruição promovida por Tupã. Este lugar especial, em que Rudá instalou os guarus, estava destinado a servir de berço da convergência de diferentes povos, ou seja, índios, brancos e negros.
A Gaviões da Fiel nasceu das batucadas nas arquibancadas da torcida organizada do Corinthians, criada em 1969. Nesta época, seus integrantes formavam uma ala da Vai-Vai. Em 1975, a entidade decidiu participar dos desfiles de blocos, que venceu 12 vezes em 13 anos. Foi então convidada a transformar-se em escola de samba, o que aconteceu em 1989.
Em 1995, no desfile em que festejou os 20 anos de sua trajetória como entidade carnavalesca, conquistou o primeiro de quatro títulos com o enredo Coisa Boa é Para Sempre, cujo samba foi o primeiro de São Paulo a tornar-se conhecido nacionalmente. Em 1999 viria o segundo título.
Depois do bicampeonato de 2002/2003, a escola se envolveu em disputas judiciais com a Liga, que queria confinar as torcidas organizadas num desfile próprio. Desde então, deixou de aparecer entre as primeiras colocadas e chegou a afirmar que havia uma predisposição em prejudicá-la.
Dragões da Real (4h55)
Vice-campeã em 2017 com um desfile que falava do Nordeste e tinha a canção Asa Branca como fio condutor, a Dragões da Real decidiu prosseguir na mesma linha e este ano vai cantar a música sertaneja. Com o enredo Minha Música, Minha Raiz: Abram a porteira para essa gente caipira e feliz!, a escola baseará sua apresentação na vida do campo, na simplicidade do povo do interior, sua fé e costumes, aspectos que inspiraram a moda de viola.
A partir daí, mostrará como a canção sertaneja cresceu, invadiu a cidade e tornou-se o maior fenômeno musical das últimas décadas no país. Vão passar pela avenida os maiores sucessos e os grandes artistas do gênero.
A Dragões da Real é a mais jovem das escolas do Grupo Especial. Surgiu em 2000, formada por torcedores do São Paulo que participavam de outras agremiações. Em 2012, estreou no Grupo Especial e conseguiu o 7º lugar.
A partir de então, consolidou-se na elite, ocupando sempre da quarta à sexta colocação e rivalizando com Gaviões da Fiel e Mancha Verde, em um campeonato informal à parte entre escolas/torcidas. Até que, em 2017, obteve o segundo lugar depois de ficar na frente da Acadêmicos do Tatuapé na maior parte da apuração e perder o título no critério de desempate.
Unidos da Vila Maria (5h00)
Antes mesmo do carnaval, a Unidos da Vila Maria se destaca por ter o mais longo nome de enredo do ano. Aproveitam-se de minha nobreza, você não soube, não te contaram? Suspeitei desde o princípio. Não contavam com minha astúcia. Arriba, Bolaños, Arriba Vila, Arriba México! vai homenagear o ator, diretor e humorista Roberto Bolaños, que imortalizou o personagem Chaves e sua turma.
Bolaños, na verdade, servirá como cicerone de um desfile que pretende, a partir dele, falar sobre o México, sua história e as contribuições que as civilizações maia e asteca deram para a humanidade. Merecerão destaque também a culinária, a música, as novelas e as belezas naturais do país. Outro personagem de destaque da apresentação será a artista e ativista política Frida Kahlo.
A Unidos de Vila Maria é uma das escolas mais antigas de São Paulo. Fundada em 1954, lutou por quase 40 anos para conquistar um lugar no Grupo Especial, o que conseguiu em 2002. Rapidamente tornou-se uma concorrente de valor e conquistou boas colocações, como o vice-campeonato de 2007.
Em 2013, depois de 12 anos na elite, caiu para o Grupo de Acesso, mas voltou no ano seguinte. Nesta segunda fase, no entanto, iniciada em 2015, a escola ainda não conseguiu repetir os grandes desfiles do período anterior à queda.