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Direitos Humanos

Comissão Nacional da Verdade conclui que JK não foi assassinado

A conclusão contraria a tese de homicídio defendida pela Comissão
Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 22/04/2014 - 17:39
Brasília
Pedro Dallari, coodenador da Comissão Nacional da Verdade, divulga relatório sobre a morte de Juscelino Kubitschek (Valter Campanato/Agência Brasil)
© Valter Campanato/Agência Brasil

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu em relatório preliminar apresentado hoje (22), em Brasília, que a morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek e seu motorista, Geraldo Ribeiro, foi decorrente do acidente automobilístico sofrido na Rodovia Presidente Dutra, em agosto de 1976. A conclusão contraria a tese de homicídio defendida em dezembro pela Comissão Municipal da Verdade de São Paulo.

Pedro Dallari, coodenador da Comissão Nacional da Verdade divulga o relatório parcial de pesquisa do caso Juscelino Kubitschek (Valter Campanato/Agência Brasil)
Pedro Dallari disse que a CNV não foi convencida pelas conclusões da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, que aponta para o assassinato de JKValter Campanato/Agência Brasil

“Não há documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise, qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso”, de acordo com trecho do relatório da comissão. Peritos criminais da Comissão Nacional da Verdade trabalharam com provas materiais do acidente, pesquisas documentais, diligências e perícias.

A investigação da comissão avaliou, inclusive, o fragmento metálico encontrado na cabeça de Geraldo Ribeiro em exumação feita em 1996. Tal evidência levantou suspeitas de que o motorista havia sido assassinado com um tiro na cabeça. Porém, após análise desse fragmento e do próprio crânio, os peritos concluíram que se tratava de um cravo metálico usado para fixar o revestimento do caixão.

A análise da própria peça de ferro encontrada na ossada convenceu os peritos de que Geraldo não havia sido baleado. “Não dá para confundir a peça de ferro encontrada no crânio com um projétil”, disse o perito criminal Pedro Cunha. O acidente do qual JK e seu motorista foram vítimas também foi analisado por meio de documentos periciais da época. O comportamento do motorista durante o acidente, quando o veículo em que viajavam foi tocado por um ônibus e, já em pista contrária, atingido por um caminhão, provou, conforme o relatório da CNV, que não há indícios de homicídio doloso.

“Se o Geraldo tivesse tomado um tiro, sobretudo na cabeça, o carro teria dado uma guinada muito maior para o lado. Mas, nesse caso, ele virou à esquerda, tendo uma perda de controle momentânea do veículo e, em seguida, tentou voltar à pista, quando o caminhão surgiu. Isso mostra que o senhor Geraldo Ribeiro estava consciente, tentando retomar o leito da via. Ele não foi vítima de disparo de arma de fogo”, explicou Cunha.

O coordenador da CNV, Pedro Dallari, comentou a conclusão da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, à qual reafirmou respeito. Segundo ele, o relatório dessa comissão foi utilizado durante o trabalho da CNV. “Nossa equipe de peritos trabalhou com o documento deles, colheu depoimentos, mas não se convenceu. Temos todo o respeito pela comissão de São Paulo, o que não significa que tenhamos que concordar com tudo”. O laudo do relatório preliminar sobre a morte de JK será divulgado no site oficial da Comissão Nacional da Verdade (www.cnv.gov.br).

A comissão está preparando, ainda, um relatório sobre o atentado do Riocentro, quando uma bomba matou o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e feriu o capitão Wilson Luiz Chaves Machado dentro de um automóvel Puma, em 1981. O relatório deve ser apresentado no próximo dia 29, no Rio de Janeiro. Em fevereiro, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro denunciou seis pessoas pelo atentado- cinco militares, inclusive Wilson Machado, e um delegado.