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Direitos Humanos

Começa identificação de corpos enterrados como indigentes em São Paulo

Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 23/07/2014 - 14:01
Brasília
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, se reúne com os membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV) (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Segundo  Ideli  Salvatti,  remoção  das  ossadas deve começar em setembro Antônio Cruz/Agência Brasil

Os peritos que vão identificar as 1.049 ossadas encontradas em uma vala clandestina no Cemitério de Perus, em São Paulo, em 1990, começaram a trabalhar nesta semana e hoje (23) fazem a primeira reunião com parentes dos desaparecidos políticos.

A ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, informou que os peritos nacionais contratados pela Secretaria de Direitos Humanos visitaram segunda-feira (21) a casa onde ficará instalado o laboratório de análise das ossadas para orientar as reformas que precisam ser feitas. “Alugamos um imóvel porque houve rejeição das famílias à possibilidade de se fazer esse trabalho no IML [Instituto Médico-Legal]. Como não temos um banco de DNA completo dos familiares, hoje eles já iniciam a coleta do material, mesmo antes da reforma da casa”, explicou Ideli.

Segundo a ministra, em setembro ou outubro, começará a remoção das ossadas do cemitério para o imóvel, mas a identificação dos restos mortais deve continuar até o ano que vem.

O projeto conta com apoio do Ministério da Educação e Cultura e tem parceria com a Universidade Federal de São Paulo. Segundo a ministra, as duas instituições já tem um projeto em andamento para a criação de um centro de informações em antropologia forense. “É um trabalho extremamente delicado, o de confrontação de DNA. Apesar de ser algo antigo, para as famílias envolvidas, é uma questão decisiva”, disse Paulo Sérgio Pinheiro, um dos membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Ele e mais dois integrantes da comissão, José Carlos Dias e André Saboia, estiveram hoje com a ministra para tratar também do laudo sobre a morte do ex-presidente João Goulart, que deve ser incluído no relatório final da CNV. 

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, se reúne com os membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV) (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Membros da Comissão da Verdade reúnem-se com

a ministra de Direitos Humanos Antônio Cruz/ABr

“O corpo [de Goulart] foi trazido a Brasília, houve uma cerimônia tocante, em que vimos os chefes militares batendo continência e, portanto, a sociedade exige uma resposta sobre a causa mortis. Precisamos dar uma resposta à nação, se o ex-presidente foi morto ou não. Pleiteamos que, até outubro, tenhamos isso em mãos”, disse Dias.

De acordo Idelii,no caso do ex-presidente da República, os exames estão sendo feitos por laboratórios em São Paulo, na Espanha e em Portugal. Os laudos dos exames dos gases do túmulo, feitos na capital paulista, já foram encaminhados à Polícia Federal, assim como o laudo do laboratório português.

Apenas o laboratório na Espanha ainda dá andamento aos exames. “Não temos como adiantar os resultados porque os laudos são complementares, mas vão integrar o relatório final da CNV”, disse Salvatti.

João Goulart morreu no exílio, no dia 6 de dezembro de 1976 em Mercedes, na Argentina. A suspeita da família é que Jango, como era conhecido o ex-presidente, tenha morrido envenenado, e não de ataque cardíaco, conforme divulgaram na ocasião as autoridades do regime militar.

A entrega do relatório final da CNV está marcada para 10 de dezembro, data em que se celebra a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, feita em 1948.