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Direitos Humanos

MTST faz manifestação na Praia do Leblon para comemorar Dia da Consciência Negra

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 20/11/2014 - 16:26
 - Atualizado em 20/11/2014 - 17:20
Rio de Janeiro
Famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que vivem na ocupação Zumbi dos Palmares, em São Gonçalo, fazem passeata na praia do Leblon para comemorar Dia da Consciência Negra (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A maioria das famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) nunca havia ido ao LeblonFernando Frazão/Agência Brasil

Centenas de pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fizeram uma manifestação hoje (20) passando o dia na Praia do Leblon, no Rio de Janeiro, para comemorar o feriado da Dia da Consciência Negra. De ônibus, eles partiram de São Gonçalo, na região metropolitana, onde a ocupação Zumbi dos Palmares foi desmontada semana passada. A ideia era aproveitar o dia para lembrar que o racismo e a exclusão social nas cidades dificultam o acesso à moradia digna.

Um dos coordenadores do MTST, Carlos Augusto Melo, disse que a sociedade precisa acelerar o acesso a direitos para a população negra, como forma de superar a exclusão provocada pela escravidão e a falta de políticas públicas desde então. “Há racismo na própria ausência de negros em espaços privilegiados como esse [Praia do Leblon, na zona sul]. E, mais diretamente, na revista que as pessoas sofrem, por exemplo, para chegar até aqui”, criticou. Nos ônibus que levaram os manifestantes, foi feita uma pesquisa e quase a totalidade das pessoas nunca havia ido até o Leblon.

Nas contas do movimento, cerca de 55% da população de São Gonçalo – município mais populoso do estado – são formados por pessoas pretas e perdas, os chamados negros, que também eram maioria na ocupação Zumbi dos Palmares. Vivendo de aluguel e em moradias precárias, eles aderiram ao MTST, com a expectativa de receberem imóveis do Programa Minha Casa, Minha Vida Entidades, em que o governo atua em conjunto com organizações da sociedade.

Tendo que cuidar dos filhos, Celi Gomes, de 42 anos, diz que a renda não sobra para comprar a casa própria. “Moro de favor. Tenho seis filhos e preciso de uma casa”, disse. Hoje, a família dela se divide entre um quarto e uma sala em uma área com pouca infraestrutura. “Precisa de posto de saúde, escola e praça de lazer. Vivemos em meio a bandidagem, vala negra [esgoto a céu aberto], não tem nada para as crianças e, quando chove, molha mais dentro do que fora de casa”.

Famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que vivem na ocupação Zumbi dos Palmares, em São Gonçalo, fazem passeata na praia do Leblon para comemorar Dia da Consciência Negra (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Os manifestantes partiram de São Gonçalo, na região metropolitana, onde a ocupação Zumbi dos Palmares foi desmontada semana passadaFernando Frazão/Agência Brasil

Com a valorização imobiliária em São Gonçalo, reflexo de grandes obras no entorno da cidade, os moradores reclamam do aluguel alto e do preço dos imóveis na região. O pedreiro Birau Peixoto, de 65 anos, que foi à praia com o MTST, disse que esses fatores dificultam a compra da casa própria por famílias pobres, com pouca renda, e cobra políticas públicas de habitação.

Peixoto lembrou que esta semana, um conjunto do Minha Casa, Minha Vida, chegou a ser invadido em Guadalupe , na zona norte da cidade do Rio. “Isso mostra a necessidade do povo. São pessoas que realmente precisavam das casas e, no fim, aceitaram sair de lá pacificamente. É como aqui [no MTST]. Só está na luta quem precisa de um lugar para morar”, afirmou.

Rosane Maria Pinto decidiu aderir ao movimento na fase da ocupação. Ela vive com o marido, o sogro, dois filhos e duas sobrinhas em uma unidade com dois quartos e cozinha. “Meu marido e eu, trabalhamos muito, mas não conseguimos juntar para construir uma casa nossa. Sozinha eu não vou conseguir ter, minha família também não conseguiu, todo mundo sempre morou de aluguel. A gente precisa dar algo melhor para os nosso filhos. Por isso, estamos aqui”.

O movimento esperava uma reação hostil dos frequentadores do Leblon, mas não houve tumulto. Segundo o barraqueiro que atua no local, Leonardo da Paixão Frederico, muitos banhistas apenas se retiraram. “Aqui, infelizmente, é zona sul. Nossos clientes foram embora por causa do barulho, com medo de confusão. Os bacanas não gostam disso”, disse, reclamando do prejuízo.

Nas contas da prefeitura de São Gonçalo, o déficit habitacional é 20 mil pessoas.

 

*matéria atualizada às 17h20 para acréscimo de informações


 



MTST faz manifestação na Praia do Leblon