Diretor de festa universitária da USP nega acusações da CPI
O diretor do Show Medicina, evento anual de artes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Silvio Tacla Alves Barbosa, negou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) que existiu homofobia, exclusão de mulheres, contratação de prostitutas e indução ou coação para que os estudantes ingerissem bebida alcoólica ou ficassem nus no palco durante os ensaios e a edição de 2014 da festa. Em 2013, ele foi secretário e, em 2012, tesoureiro do evento.
Além dele, dois estudantes depuseram hoje (10) na CPI, que apura violações de direitos humanos nas universidades paulistas. São eles Leonardo Bicarata Turra e Michel Oliveira Souza.
O estudante Alan de Oliveira, apesar de não ser um dos convocados para depor nesta tarde, apresentou relato de que, em 2013, foi induzido a beber. Após vomitar e, quando já não tinha consciência do que estava fazendo, outras pessoas colocaram bebida em sua boca, segundo ele. Na ocasião, ele caiu e bateu o rosto, sofreu lesão no queixo e contou que teve traumatismo cranioencefálico.
Silvio Tacla era colega dele na época e ajudou no socorro. No entanto, ele apresenta outra versão, dizendo que nunca houve obrigação de beber dentro do show. “Institucionalmente o Show [Medicina] jamais faria alguma coisa nesse sentido. Em 2014, eu fiz questão de frisar para que isso não acontecesse.”
Estudantes presentes no auditório falaram ainda que o Show Medicina organizava eventos com a participação de prostitutas e também com a exposição de pessoas fazendo sexo. O diretor da festa negou também que isso tenha ocorrido e disse que desconhecia a prova apresentada pela estudante da Faculdade de Medicina Maria Renata Mencacci.
Maria Renata levou ao presidente da CPI, Adriano Diogo (PT), uma cópia de uma conversa que teria acontecido entre ela e o ex-diretor do Show Medicina Rodrigo Bolini, na qual o rapaz admitia que estudantes faziam sexo para os outros verem, mas que ele não conseguiu acabar com tal tradição, pois não havia reclamações e as pessoas pareciam não ver aquilo como “absurdo”, segundo ele.
Em depoimento, no dia 20 de janeiro, o ex-aluno de medicina da USP e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Fernando Tofoli narrou momentos de horror pelos quais passou, em 1991, ao tentar entrar no Show Medicina.
“Apresentamos uma esquete, ficamos enfileirados e ia ser apresentado o resultado se a gente tinha passado no vestibular [do show] ou não. Nesse momento, abriam-se as portas do inferno”, disse, ressaltando que o teatro estava lotado.
“Obrigavam a gente a se despir e aí começa um trote típico das instituições masculinas. Fomos obrigados a dançar lambada pelados. Alguns foram obrigados a fazer o chamado 'cusquete', apanhar laranjas com as faces das nádegas e jogar em um balde. Para minha surpresa, um dos funcionários da faculdade, com um falo de madeira, ficava cutucando a bunda dos presentes”, disse.
De acordo com a CPI, o Show Medicina teve suas práticas pouco alteradas desde os anos 90 até hoje.