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Economia

Acordo com União Europeia vai enterrar ainda mais economia grega, diz economista

Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 15/07/2015 - 00:27
Brasília

O acordo assinado nesta semana entre a União Europeia e o governo da Grécia é nocivo ao país e vai prejudicar ainda mais a situação social. Esta é a opinião da economista Maria Lúcia Fattorelli, fundadora do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, que participou do programa Espaço Público, da TV Brasil nesta terça-feira (14).

Segundo ela, devido à situação de “crise humanitária, encolhimento do PIB [Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas de um país] e a questão social afetada”, seria melhor para a Grécia “enfrentar do que aceitar” as medidas de austeridade propostas pelos líderes europeus. “Vai cortar ainda mais? Tira do país a capacidade de se reerguer completamente.”

Ao responder a perguntas de jornalistas e internautas, Maria Lúcia Fattorelli disse que ainda não é possível entender o motivo pelo qual a Grécia aceitou as condições impostas pelos demais países da zona do euro, mas afirmou haver um desequilíbrio entre as partes. De acordo com a especialista, que participou de uma auditoria em Atenas, a convite do Parlamento grego, como os líderes europeus anunciam “abertamente” que não vão “emprestar mais moeda para a Grécia”, o país “teria que, de uma hora para outra, emitir uma moeda complementar”.

Apesar dessa previsão, Maria Lúcia vê possibilidade de a Grécia continuar pertencendo à zona do euro. “Ela não poderia ser expulsa. Diante da pressão de entregar a moeda, ela poderia usar uma moeda eletrônica ou moeda paralela temporária para não ficar totalmente inviabilizada a vida das pessoas”. Durante a entrevista, a economista apresentou uma série de argumentos segundo os quais há um “sistema da dívida” que opera para que os países em dificuldade financeira mantenham-se subordinados a uma lógica que, no caso da Grécia, objetiva um “apoderamento de todo aparato do Estado”.

Para a economista, é necessária uma aceleração do processo de auditoria da dívida grega para, somente depois, excluída a parte ilegítima da dívida, discutir como ela pode ser paga sem provocar crise humanitária. Ela informou que a auditoria na Grécia ainda é preliminar, não tendo sido submetida a crivos jurídicos nacionais e internacionais, como ocorreu, por exemplo, no Equador. No entanto, caso o país decida sair da mesa de negociações, essa reação “provocaria precipitação da revelação de todo sistema financeiro”.

“O acordo é nocivo ao país, vai enterrar ainda mais a economia. O único interesse [do acordo] é manter a Grécia sob os holofotes da grande mídia internacional", disse Maria Lúcia. “A saída da Grécia [da mesa de negociações] não interessa aos demais países, porque eles iriam perder cenário e escancarar muito rapidamente a utilização do país para esconder o salvamento bancário.”

A especialista acha que a Grécia não conseguiu reagir porque está só. “A partir do momento em que crescer esse movimento nos demais países, de investigação, porque estão chegando numa situação de sufoco total, que tende a se aprofundar. Não pensem que os bancos ficarão satisfeitos com a parte de ativos que foi transferida até agora”, afirmou Maria Lúcia, citando países que também se encontram em momento de dificuldades financeiras, como Espanha, Portugal e Irlanda.

O programa Espaço Público vai ao ar todas as terças-feiras, às 22h, na TV Brasil. É apresentado pelos jornalistas Paulo Moreira Leite e Florestan Fernandes Júnior. Na edição desta terça-feira, contou com a presença da jornalista Leandra Peres, do jornal Valor Econômico.