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Esportes

Coluna - De onde vem a grife no basquete brasileiro

NBB terá equipes tradicionais do futebol, mas só camisa não basta
Igor Santos, apresentador do programa Stadium da TV Brasil. A coluna do jornalista será publicada pela Agência Brasil semanalmente às sextas-feiras
Publicado em 11/10/2019 - 12:11
Rio de Janeiro
Flamengo e Minas BAsquete
© Orlando Bento/MTC

A 12ª edição do NBB começa nesse sábado (12). A principal competição do basquete brasileiro vem ganhando cada vez mais atenção de público e mídia, e a própria sigla já se tornou um vocábulo inconfundível do esporte nacional. Mas, diante de uma história de mais de 50 anos de campeonatos no Brasil, de uma certa forma o NBB ainda é um menino cuja estrutura se fortalece a cada ano, com novos traços e mudanças constantes, características do processo de crescimento. A temporada 2019-2020 chega com 16 clubes, um quarto deles (quatro) representando times chamados 'de camisa' do esporte mais popular do país, o futebol: Flamengo, Botafogo, Corinthians e São Paulo. Só que no basquete essa definição de "camisa" é um pouco mais complexa. Admito que não sou adepto da teoria do peso que o nome da equipe tem no resultado de uma partida. No nosso basquete, é ainda mais difícil sustentá-la. A receita para o sucesso costuma passar por outros atributos.

Basta ver que o maior campeão nacional é Franca, com 11 títulos (nenhum desde que o NBB começou a ser disputado, em 2009). Em segundo, aparece o Sírio, com sete. O clube, que já nem participa mais das principais competições, recentemente comemorou os 40 anos da conquista do Mundial Interclubes. Empatado com o Sírio está o Flamengo, que ganhou todos os seus sete títulos de 2008 para cá. Se ampliarmos o escopo do bom desempenho para além de simplesmente títulos, as principais forças atuais e também históricas do nosso basquete são os chamados clubes sociais, como Paulistano, Minas, Pinheiros, entre outros. Ou seja, a nata da modalidade não possui qualquer laço com o futebol. É curioso perceber que algumas equipes oriundas dos gramados têm também uma certa tradição nas quadras. Além do Flamengo, Botafogo, Corinthians e Vasco possuem títulos brasileiros no currículo, conquistados em diferentes épocas. No entanto, só foram estrear no NBB nas últimas três temporadas. Parece contraditório, mas na letra fria é verdade, em razão dos anos e anos em que o basquete ficou em segundo plano ou inteiramente negligenciado. O Vasco, aliás, depois de três temporadas na liga, já não vai participar desta edição, por ter preferido destinar verbas de patrocínio às categorias de base do futebol em vez de ao basquete. Palmeiras e Vitória também passaram pelo NBB por períodos curtos, com destino semelhante.

Mas também há motivos para dar um voto de confiança e enxergar o lado positivo. No ano passado, o Botafogo ampliou consideravelmente o investimento para a segunda temporada na liga e saltou do 12º para o quarto lugar. Agora, o time consegue fazer frente ao rival Flamengo, equipe mais forte do país. O Corinthians desembarcou no NBB já com uma boa campanha e o sexto lugar, e agora é finalista do concorrido Campeonato Paulista. O São Paulo aparece pela primeira vez no NBB agora, chegando não pela via tradicional, que é a divisão de acesso, mas porque comprou a franquia de Joinville. Independentemente disso, investiu para trazer bons reforços, como Shamell e Georginho. Em comum entre essas equipes existe o (aparente) compromisso de se pensar de forma séria e independente na modalidade, entendendo um princípio básico que provavelmente os departamentos de futebol já compreendem: sem uma visão de negócio é impossível prosperar.

O NBB estabelece um orçamento mínimo e a obrigação de comprovar a capacidade de arcar com ele para poder fazer parte da competição. Ao longo dos anos, vários clubes, "de camisa" ou não, entraram e saíram da liga justamente por não conseguirem se sustentar. Aconteceu com o Brasília, por exemplo, três vezes campeão. Quase aconteceu com Franca. Segundo Kouros Monadjemi, presidente da LNB (a gestora do NBB), durante anos os clubes tinham vontade mas não condições de participar. Acabavam devendo salários e prejudicando ao invés de colaborar com a modalidade. A imagem de despreparo se afastava do que a liga desejava. Por isso esse ajuste fino se tornou necessário. Bruno Savignani, técnico do Corinthians, aponta a importância de uma gestão profissional. Não faz diferença se vem do futebol ou não. O tamanho e a paixão da torcida podem ajudar, mas no fim das contas depende de quem estiver à frente do projeto. Léo Figueiró, melhor técnico do último NBB pelo Botafogo, vai pelo mesmo caminho. Ele entende que é complicado tentar levar o basquete para a frente apenas com gente "do bem" mas que não vive disso.

Desde que surgiu, o NBB teve muito mais altos do que baixos, e agora vai ter 100% das partidas transmitidas pela televisão ou internet. Com mais equipes e também mais pesos pesados reconhecidos nacionalmente. Figueiró destaca que já jogou fora de casa com mais torcida do que o time mandante. Porém, a receita para o bolo não parar de crescer não envolve olhar para nome e cara. O técnico do Botafogo considera que o NBB tem de crescer para as frentes que queiram fazer o basquete de maneira séria e responsável. Bruno Savignani, por sua vez, crê que é preciso se preocupar com a qualidade e também em fortalecer as divisões de acesso. Com dificuldade, entre primeiro e segundo escalão, conseguimos colocar 30, 32 equipes para atuar profissionalmente em um campeonato nacional, enquanto na vizinha Argentina, recém consagrada vice campeã mundial, somente na capital Buenos Aires são quase 200 equipes. Diferença técnica não existe tanta. Mas sim de mentalidade. Independentemente da roupa que se veste.