Coluna - Tudo começa pela base

Publicado em 06/01/2020 - 18:07 Por Lincoln Chaves - Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional. A coluna do jornalista é publicada pela Agência Brasil às segundas-feiras - São Paulo

A coluna passada destacou as caras novas entre os destaques do paradesporto brasileiro em 2019. O assunto renovação continua, mas sob outro prisma. É verdade que o Brasil está em um patamar acima dos maiores rivais nos Jogos Parapan-Americanos. Ainda assim, é interessante notar que das 308 medalhas conquistadas por atletas do país em Lima, no Peru, 107 vieram com esportistas até 23 anos — praticamente um terço. O recorte dos mais jovens representa 43 ouros, 33 pratas e 32 bronzes.

Significa que, se fosse um país a parte, a delegação sub-23 ficaria em quinto no quadro de medalhas do Parapan, superando a Argentina (26 ouros) e ficando a quatro ouros da Colômbia. E uma curiosidade: mesmo "descontados" os pódios desses atletas até 23 anos, o "resto" do Brasil seguiria no topo do quadro, e com vantagem confortável para os Estados Unidos.

É evidente que a abundância de atletas (olímpicos ou paralímpicos) é maior aqui do que em outros lugares com menor população — portanto, a renovação nas equipes paradesportivas brasileiras tende a ser menos complexa que nos vizinhos. O que não significa que não existam desafios. Justamente pelo Brasil ser extenso geográfica e culturalmente, ser assertivo na captação requer olhar para o que tem de melhor nos quatro cantos do país. E as ferramentas existem.

No fim de janeiro, o Centro de Treinamento Paralímpico, na capital paulista, recebe o camping escolar. Durante uma semana, os jovens entre 12 e 17 anos que se destacaram na Paralimpíada Escolar ficarão alojados no CT e vão viver — muitos deles, pela primeira vez — a rotina de um atleta de alto rendimento. Trata-se do início de um monitoramento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que voltará a avaliar essa turma em junho, após acompanhá-los também em outros eventos nacionais, para verificar a evolução de cada um.

Será a terceira temporada da vivência e a segunda com a presença de outras modalidades além de atletismo e natação. Naturalmente, é parte dessa renovação, assim como a própria Paralimpíada Escolar. No ano passado, dois atletas que estiveram no camping foram convocados para o Mundial de Jovens de Atletismo, disputado em Nottwil, na Suíça — onde, vale o registro, o Brasil ficou em quarto lugar no quadro de medalhas, três posições a frente da primeira edição em 2017. Outros três garotos do camping ganharam chance na seleção sub-23 de futebol de cinco.

Há, ainda, o Centro de Formação Esportiva, que promove a iniciação de crianças entre 10 a 17 anos, com alguma deficiência físico-motora, intelectual ou visual, no paradesporto. Esse projeto em especial, até pelas parcerias com as prefeituras, é voltado a jovens que moram na cidade de São Paulo ou municípios vizinhos. Ainda assim, encerrou 2018, primeiro ano da iniciativa, com mais de 300 alunos. Entre eles, Renízia Romaniello se tornou, em menos de um ano, a primeira aluna revelada no Centro a ser convocada para uma seleção (vôlei sentado).

A expectativa do CPB é que esses talentos sejam preparados para os ciclos paralímpicos de 2024 e 2028. O foco do Comitê é, naturalmente, o alto rendimento. Mas, as oportunidades para revelação de atletas, por si só, são incentivo para jovens com alguma deficiência de todo o país e suas famílias olharem com carinho para os caminhos que o esporte pode proporcionar. Inclusão, qualidade de vida e perspectiva.

Edição: Verônica Dalcanal

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