Coluna - Mercado de games está dominado por remakes?
Nos últimos dias, vimos o lançamento muito esperado pelos fãs: os remakes de Final Fantasy VII - anunciado na E3 2015 - e Resident Evil 3, que chegou apenas um ano depois do aclamado remake de Resident Evil 2. Os dois títulos são a ponta do iceberg de uma avalanche de remakes e relançamentos. Só esse ano, já tivemos Persona 5 Royal, Doom 64 e Pokémon Mistery Dungeon DX. Nas próximas semanas, chega ainda Trials of Mana, Xenoblade Chronicles, Sakura Wars, The Wonderful 101 e Saints Row The Third. Sem falar em Streets of Rage 4 que, embora não seja um remake, pega muito emprestado o carisma e a mecânica da clássica trilogia do Mega Drive dos anos 1990.
Quando olhamos as listas prévias de melhores games de 2020 ou os mais aguardados, além de uma enxurrada de remakes e relançamentos, há ainda uma extensa lista de sequências: Animal Crossing: New Horizons, Half-Life: Alyx, Ori and the Will of the Wisps, Nioh 2, Doom Eternal, Halo Infinite, Dying Light 2, No More Heroes 3, Watch Dogs Legion, Hollow Knight Silksongs... Novas propriedades intelectuais nos videogames são coisas raras: fora Ghost of Tsushima e Cyberpunk 2077, é difícil lembrar algum outro, ao menos um que não esteja ligado a uma franquia famosa do cinema ou dos quadrinhos (ou não poderia esquecer de Marvel´s Avengers).
Estaríamos vivendo uma era de remakes, falta de originalidade? Não acredito nisso. A verdade é que alguns dos jogos citados - Half-Life: Alyx, Resident Eil 3 e Final Fantasy VII - resolveram sair da zona de conforto e mudaram profundamente vários aspectos da mecânica de jogo. São mudanças muito elogiadas, mas que, claro, angariaram críticas dos fãs mais puristas.
A acusação de falta de originalidade, porém, é recorrente, vez ou outra aparece. O motivo, para mim, é claro: como vamos esperar por algo que ainda não conhecemos? É difícil prever sucessos que primam pela inovação, mas às vezes somos surpreendidos por fenômenos de vendas, principalmente no meio independente, setor que costuma ousar mais. Untitled Goose Game e Disco Elysium estão aí para provar. Mas mesmo entre grandes empresas, surgiram recentemente novidades elogiadas como Sekiro, Control, Astral Chain, e Apex Legends.
Hoje, também é mais fácil trabalhar com nostalgia, à medida que a base de fãs de videogames vai envelhecendo. Para completar, a cada ano que passa, os jogos estão mais ambiciosos e, consequentemente, mais caros. É preciso muita coragem e um bom colchão de segurança para apostar dezenas de milhões de dólares e anos de desenvolvimento em algo muito inovador. Hideo Kojima tentou essa estratégia com Death Stranding, mas nem mesmo o nome famoso do criador de Metal Gear Solid foi capaz de tornar o game na obra-prima que muitos esperavam. Embora tenha conquistado uma nota relativamente alta no Metacritic (82 pontos), o jogo dividiu a crítica e teria decepcionado em vendas segundo alguns boatos.
Há ainda o fato que estamos vivendo o final de uma geração de videogames. Se a crise do novo coronavírus (covid-19) não provocar nenhuma alteração, o PlayStation 5 e o Xbox Series X serão lançados no fim deste ano. Nessas fases de transição, é comum as empresas priorizarem o próximo videogame para suas ideias mais ambiciosas, ou ao menos fiquem tão divididas entre duas gerações que priorizem minimizar riscos e custos apostando de forma segura.
Pode ser que conheçamos alguns novos games em junho, mês em que aconteceria a E3, a maior feira de games do mundo. O evento foi cancelado por conta da crise provocadas pelo novo coronavírus, mas as empresas prometem contar as novidades em apresentações digitais. A pandemia de covid-19, aliás, pode ainda alterar muitos planos nos próximos meses. Com tempos incertos, não seria surpreendente se a quantidade de remakes, relançamentos e sequências aumentasse consideravelmente.