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Pressão política americana dificulta legalização das drogas, diz jornalista

Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 24/11/2014 - 13:08
Rio de Janeiro
O norte-americano Glenn Greenwald, duarnte o debate da liberdade, mídia e poder na 12 Festa Literária Internacional de Paraty (Flip)(Fernando Frazão/Agência Brasil)

Estudo  de  Glenn  Greenwald  aborda efeito positivo
da legalização  em Portugal   Arquivo Agência Brasil

A pressão política exercida pelos Estados Unidos dificulta iniciativas de legalização das drogas em outros países do mundo, disse hoje (24) o advogado e jornalista norte-americano Glenn Greenwald. Ele falou à Agência Brasil depois de participar de um seminário sobre a legalização das drogas no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Greenwald, que vive no Rio de Janeiro, ficou mundialmente conhecido por divulgar a informação, vazada pelo ex-agente de inteligência americano Edward Snowden, de que os Estados Unidos espionavam a comunicação de empresas e chefes de Estado de vários países.

O jornalista americano também é autor de um estudo sobre o impacto positivo da descriminalização do uso de drogas em Portugal. “A guerra contra as drogas é muito importante para os Estados Unidos. Eles colocam muita pressão sobre os países que consideram alternativas ao sistema de criminalização [do uso das drogas]. Foi por isso que, quando Portugal considerou alternativas à criminalização, os Estados Unidos disseram que eles não podiam considerar a opção da legalização, porque havia tratados internacionais”, disse Greenwald.

A maioria dos países-membros das Nações Unidas é signatária dos tratados internacionais de combate às drogas, que estabelecem que esses Estados criminalizem a produção e o comércio de substâncias como a maconha e a cocaína.  “Agora há países que estão percebendo que o sistema de criminalização não funcionou bem e que a descriminalização [como feita em Portugal] não é suficiente”, ressaltou Greenwald.

Um desses países é o Uruguai, que há um ano decidiu legalizar a produção, o comércio e o consumo da maconha, como forma de reduzir a violência, diminuir o número de presos e enfraquecer financeiramente os traficantes de drogas, disse a médica uruguaia Raquel Peyraube.

Raquel que também participou do seminário no Tribunal de Justiça, é assessora do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca), órgão do governo uruguaio responsável pela implantação da política de regulação do mercado de maconha no país. Segundo a médica, o Uruguai recebeu pressão de outros países para que não levasse a política adiante, mas manteve a decisão.

Ativistas fazem ato público na Esplanada dos Ministérios em defesa da regulamentação da maconha no Brasil para uso medicinal, recreativo, religioso e industrial (Valter Campanato/Agência Brasil)

Uruguai legalizou, há um ano, produção, comércio e uso da maconha  Valter Campanato/Agência Brasil

“A imprensa mundial está lá no Uruguai e diz: 'Pensamos que chegaríamos aqui e estaria todo mundo drogado'. Essa é a fantasia da proibição, mas não aconteceu nada disso. Nada mudou. As pessoas continuam na mesma atitude”, afirmou Raquel.

Segundo ela, cerca de 2 mil pessoas se registraram como produtoras para consumo próprio e há cerca de 30 clubes de cannabis sativa (maconha) cadastrados no país.

A médica informou que a venda nas farmácias só deve começar em março do ano que vem, já que atualmente está sendo feita uma licitação para escolher os produtores comerciais que poderão trabalhar no país. Mais de 20 empresas uruguaias e estrangeiras se apresentaram para concorrer na licitação.

O seminário Drogas: Legalização+Controle foi promovido pela organização não governamental Leap Brasil, que reúne policiais e juízes que defendem a legalização das drogas no país.