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Operação Overload prende suspeitos de colaborar com tráfico de drogas no Rio

Da Agência Brasil
Publicado em 16/06/2015 - 19:58
Rio de Janeiro

Oito pessoas foram presas hoje (16) – três delas em flagrante, mulheres de confiança de criminosos e traficantes presos – na Operação Overload em comunidades do Rio de Janeiro. A investigação, iniciada pelo delegado Felipe Curi, da 27ª DP, acabou tomando outros rumos, além do tráfico de drogas nas comunidades do Juramento e Juramentinho, na zona norte do Rio.

Ao todo, 26 dos 65 mandados de prisão expedidos pela Justiça foram cumpridos. Segundo a polícia, somente nos municípios de São João de Meriti, Nova Iguaçu e Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o tráfico lucra R$ 7.290 milhões por mês com a venda de drogas. Uma das pessoas presas está sob custódia no hospital, grávida de nove meses.

A investigação durou cerca de oito meses e mostrou que a maior quadrilha que atua no Rio, o Comando Vermelho, é formada por traficantes de dentro dos presídios, entre eles, líderes conhecidos da polícia, como Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes.

Com a apreensão de celulares, a polícia constatou a comercialização de armas e drogas, chegou aos líderes e identificou a função de cada um na facção criminosa.

"Apesar de essas pessoas estarem recolhidas em presídios federais, elas continuam dando ordens e diretrizes à facção criminosa, usando visitantes, em Bangu. Identificamos um advogado, Elir Florêncio da Luz, que defende os traficantes dos Complexos do Alemão e da Penha. Ele atuava também na comercialização de armas e munições para a facção", disse Curi, lembrando  que o advogado está foragido.

A polícia descobriu que Marcinho VP age junto com os traficantes Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fú da Mineira, e Claudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, que, segundo a polícia, estão no Complexo do Chapadão, em Costa Barros. Esses traficantes, que estão em liberdade repassam as diretrizes dos líderes presos e fomentam o roubo de veículos e guerras entre facções rivais para conseguir ampliar os territórios, informou o delegado.

"O Marcinho VP ainda se comunica e chefia as ações do Comando Vermelho, o que é mais um problema na Justiça pelo qual ele vai ter que responder. Temos de desarticular toda essa questão de dentro do presídio, a facilidade que as pessoas têm de se comunicar nos presídios do estado", disse Curi.

A Polícia Civil constatou que traficantes postam fotos de fuzis em redes sociais, com o preço variando entre RS 45 mil e R$ 60 mil. E concretizam as negociações com depósitos bancários.

A segunda parte da operação, em ação conjunta com o laboratório de lavagem de dinheiro da Polícia Civil, vai identificar o suporte financeiro da organização. "Acho que é uma quebra de paradigma, porque antes tudo era muito empírico. E agora, nós temos provas robustas de como isso funciona e podemos avançar muito mais com os desdobramentos dessas investigações", acrescentou o delegado.

A polícia identificou também a origem das drogas e sua distribuição nos morros. O lucro chegava a 350%, ou seja, cerca de R$ 50 mil em cada quilo de cocaína. "Na investigação, ficou evidenciado que hoje o principal entreposto de drogas da facção é o Complexo do Chapadão e depois o Complexo do Caramujo, em Niterói. Lá, as drogas são trabalhadas, fracionadas e  misturadas. Depois de embaladas, são distribuídas para outras comunidades, com ou sem UPP [Unidade de Polícia Pacificadora]”, relatou Curi.

Além do controle de venda de drogas, armas e guerras entre facções rivais, traficantes do Comando Vermelho foram identificados como mandantes de ataques às UPPs do Complexo do Alemão, nos últimos meses. Segundo o delegado, houve um aumento significativo de violência na região, a partir das ordens dadas pelo traficante Edson Silva de Souza, o Orelha, do Complexo do Alemão. Orelha foi preso na operação Urano da Polícia Civil, em setembro do ano passado, mas, em novembro, conseguiu habeas corpus da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, e foi posto em liberdade.

Curi contou que a sede da 45ª Delegacia de Polícia, no Alemão, também foi alvo de criminosos. Orelha ordenou a morte de policiais militares e deu ordem aos moradores para que provocassem os policiais da UPP e gravassem vídeos para os veículos de comunicação, com o intuito de manipular os fatos.

"Isso tudo foi ordem dele, que determinava a presidentes das associações de moradores e mototaxistas que a população atacasse os policiais e fizesse filmagens, para manipular a  mídia. De vez em quando, havia  alguma reação policial. Aquilo era colocado em outro contexto e isso era passado para a mídia, de outra forma, por meio dos presidentes e de pessoas da comunidade, que estão sendo investigadas. Isso chegava à mídia como se fosse um problema das UPPs nas comunidades. E não é. São ordens de traficantes para manipular a mídia por intermédto da população", concluiu Curi.