Servidores do INPI cobram transparência sobre futuro do Edifício A Noite
Servidores do Instituto Nacional de Patrimônio Industrial (INPI) fizeram hoje (14) uma manifestação em frente ao Edifício A Noite, o primeiro arranha-céu da América Latina, na zona portuária do Rio de Janeiro. Eles pediram a manutenção do prédio como sede do órgão.
Tombado pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan),o edifício foi construído em 1930. Além do INPI, abrigava a Rádio Nacional, desde sua criação, em 1936. Foi totalmente desocupado em 2012 para reforma completa, mas está abandonado desde então. Dos 22 andares do prédio, 18 pertencem ao INPI e quatro à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A Secretaria do Patrimônio da União (SPU) sugeriu a transferência do prédio à União, por meio de acordo de cooperação técnica ou outro instrumento a ser acertado, de modo a fazer a alienação do bem, ou operacionalizar a venda do imóvel à iniciativa privada.
Na semana passada, representantes do INPI e EBC reuniram-se com representantes da prefeitura e do SPU e investidores estrangeiros. Os trabalhadores criticaram a falta de transparência e diálogo por parte da autarquia sobre o futuro do órgão. O presidente da Associação dos Funcionários do INPI, Saulo Carvalho, ressaltou que a saída dos funcionários do edifício, a partir de 2005, tinha como precondição a reforma do A Noite.
“Atualmente são gastos cerca de R$40 milhões anualmente com aluguel, taxas condominiais e manutenção desses prédios. Estamos sangrando os cofres da União, tendo um imóvel próprio que poderia ser reformado e servir ao INPI”, informou Carvalho. Em 2008, o Tribunal de Contas da União intimou o INPI a explicar os aluguéis e apresentar a obra. A manutenção do Edifício A Noite custa anualmente R$ 4,6 milhões e é paga pelo INPI.
Com o processo de revitalização da região portuária, várias empresas já demonstraram interesse em comprar o prédio. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarou que três empresas já demonstraram interesse na compra do imóvel, a fim de transformá-lo em hotel. “Tem gente doida para comprar o Edifício A Noite. É só a União, que está precisando de dinheiro, querer vender. Em vez de fazer pacote e aumentar imposto, vende imóvel”, declarou Paes, durante evento público na Praça Mauá em setembro.
Músico e compositor, Jards Macalé, que emplacou diversas músicas na Rádio Nacional, passava pelo ato no momento e parou para demonstrar apoio à causa. “Quando nasci, a Nacional já estava ligada em minha casa. É como se fosse uma família pra mim. E isso [virar hotel] é uma violação à história. Afinal de contas, a Rádio Nacional é um símbolo da cultura nacional, que formou, assim como eu, outros tantos artistas. Querem fazer um hotel de um prédio que abrigou tanta coisa importante para o país? É um absurdo!”
Em agosto, o INPI anunciou aos servidores a construção de nova sede em terreno da União em São Cristóvão, região central do Rio de Janeiro. A mudança para o novo endereço está prevista para 2020. A sede será construída pela prefeitura do Rio de Janeiro, como pagamento pela compra de terrenos da União.
“Vamos abrir mão de um edifício que é muito bom, que apenas precisa de reforma, por uma promessa de algo que não está nem construído, em um lugar inóspito”, criticou Saulo. O INPI tem ainda um prédio na Praça da Bandeira, avaliado entre R$ 40 e 60 milhões, também abandonado.
Para os servidores, a venda desse imóvel poderia viabilizar a reforma do A Noite, que é maior que a nova sede prevista e tem espaço suficiente para os cerca de mil funcionários ativos e para os documentos do órgão.
O radialista Cristiano Ottoni de Menezes trabalhou no A Noite em diferentes períodos. Então chefe do escritório da Rádio Nacional no Rio, Cristiano testemunhou a reforma de R$1,5milhão em um dos andares da rádio em 2003, patrocinada pela Petrobras. “O discurso da direção da empresa era que a saída era provisória. Aquele prédio foi construído pelo grupo que criou a Rádio Nacional. Trata-se de uma relação visceral”, lembrou.
“O Edifício A Noite é um totem cravado no coração da Praça Mauá, uma referência da história do rádio, da República. Isso deveria ser preservado com carinho, não com sentido nostálgico, mas para se manter o fio da meada.”
Até o fechamento da matéria, a assessoria do INPI não havia se manifestado a respeito das críticas dos servidores ou sobre o futuro do Edifício A Noite.
Em estilo art deco, o A Noite foi projetado pelo mesmo arquiteto do Hotel Copacabana Palace e do Palácio Laranjeiras, o francês Joseph Gire. Ele tem vista panorâmica da Baía de Guanabara. De acordo com o parecer do Iphan, o edifício é emblemático tanto pelo aspecto arquitetônico como cultural.
Durante a Era do Rádio, nos anos 1940 e 1950, a Rádio Nacional transmitia para todo o país notícias, músicas e novelas. Celebridades da época, como Dolores Duran, Cauby Peixoto, Emilinha Borba, Marlene Alves, atraíam multidões para os shows de auditório.