Audiência pública em São Paulo discute liberação da fosfoetanolamina
Pacientes de câncer, parentes, pesquisadores, deputados e representantes do governo estadual participaram hoje (16) de audiência pública, na Assembleia Legislativa de São Paulo, para discutir a proibição da produção e distribuição da fosfoetanolamina sintética, substância que vem causando polêmica nos últimos meses por ter sido anunciada como cura para o câncer.
O composto gerou controvérsia após sua distribuição ter sido aprovada, por decisão judicial, para alguns pacientes em tratamento contra o câncer. No último dia 12 de novembro, no entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu o fornecimento da substância. Em seguida, no dia 23 de novembro, o governador Geraldo Alckmin anunciou que solicitaria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a liberação de uso da fosfoetanolamina, em regime compassivo, a pacientes com câncer que não apresentem melhora por meio de medicamentos autorizados.
Mesmo assim, parlamentares e pacientes afirmam que enquanto se espera a liberação e a conclusão das pesquisas, o governo poderia liberar o uso aos pacientes que conseguirem garantir a substância na Justiça. A paciente Bernardete Cioffi, que tem um câncer metastático ósseo e utiliza a fostoetanolamina, participou da audiência.
Bernadete contou que descobriu um câncer de mama em 2012, fez o tratamento e depois apareceu a metástase, em abril deste ano. Em agosto, começou a tomar o remédio junto com a medicina convencional. Usou por 38 dias e os marcadores tumorais caíram. Mas ela ficou sem as pílulas e imediatamente teve uma recaída. Agora, está tomando novamente, mas não sabe ainda se houve efeito.
“O clamor pela fosfoetanolamina é verdadeiro e justo. Nós estamos falando de ciência, não de garrafada, de crença. Essa substância tem 25 anos de pesquisa e não se transformou em medicamento por questões inexplicáveis. Essa situação tem que ter um fim. Não podemos viver com a ansiedade de não saber se teremos a cápsula no dia seguinte. Todas as pesquisas são necessárias, mas isso não é suficiente para pacientes que não têm tempo para esperar. Queremos que os pacientes que optarem por esse tratamento sejam liberados”.
O oncologista Paulo Hoff, que representou o secretário de Saúde, David Uip, explicou que a situação é de certa forma inesperada porque houve interesse público muito grande no produto e, apesar de todos os relatos positivos, a substância não foi testada adequadamente, o que impede a recomendação.
“O estado de São Paulo tem o interesse de acelerar os estudos e temos um desenho com grande número de pacientes fazendo o uso com segurança. Esse estudo está aprovado pelo Comitê de Ética da USP e estamos aguardando a disponibilidade da fórmula para que possa ser produzido pelo laboratório oficial do estado e tenhamos autorização das autoridades estaremos prontos para iniciar, para então averiguar a real eficácia do produto”, disse Hoff.
Ainda segundo Hoff, se a autorização acontecer rapidamente, no início do ano que vem já se começa o estudo, abrangendo dez tipos de câncer mais comuns. O ideal é que o medicamento apresente eficácia em pelo menos 20% dos casos. “Não há por que não acreditarmos que a substância não tenha ação. Ela só precisa ser testada adequadamente”.
O médico Adão Ferreira de Freitas, que atua no serviço de saúde pública de Ribeirão Preto e Sertãozinho, no interior de São Paulo, disse que reuniu dez casos de relatos de parentes segundo os quais os pacientes que usaram a substância tiveram melhoras enquanto estavam utilizando o produto e apresentaram recaídas ao parar de tomar o medicamento.
“Essas pessoas que pararam de utilizar acabaram morrendo. Mas reuni dados que mostraram que a qualidade de vida aumenta, diminuem os retornos médicos e as pessoas passaram a ter alegria de viver. As pessoas que usaram três vezes por dia tiveram melhora a partir do terceiro mês e melhora ótima a partir dos seis meses”.
A fosfoetanolamina sintética foi estudada pelo professor Gilberto Orivaldo Chierice, hoje aposentado. Na época, ele ainda era ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros da USP.
![Marcelo Camargo/Agência Brasil Fachada do edifício sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)
![Reuters/Mike Segar/Poibida reprodução Elon Musk gestures at the podium inside the Capital One arena on the inauguration day of U.S. President Donald Trump's second term, in Washington, U.S., January 20, 2025. Reuters/Mike Segar/Poibida reprodução](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)
![Arquivo: Agência Brasil Indústrias](/sites/default/files/thumbnails/image/loading_v2.gif)