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Manejo de pragas e produção orgânica são contrapontos ao uso de agrotóxicos

Redução do uso de defensivos químicos é um principais desafios da
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 20/12/2015 - 13:25
Rio de Janeiro
Agricultura
© Agencia Brasil/arquivo

A produção orgânica é o componente mais importante para ser utilizado como contraponto aos agrotóxicos no Brasil, na avaliação do professor Carlos Hugo Rocha, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Paraná mostram que a adoção do chamado Manejo Integrado de Pragas pode reduzir em até 50% o uso de agrotóxicos na agricultura. A mesma metodologia tem sido usada em outras regiões do Brasil e em outros países, segundo Rocha.

“O conhecimento acadêmico para isso já existe e ele vem sendo aprimorado por pesquisadores em diversas universidades no país”.  Segundo ele, já há nas faculdades de agronomia conhecimento consolidado sobre o manejo de pragas como referencial para a redução do uso de agrotóxicos no dia a dia da agricultura brasileira.

Sítio Pinheiro, na região de Brazlândia, no DF. A produção de alimentos orgânicos no sistema de agroflorestas vem ganhando destaque entre produtores rurais (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Estudo diz que produção orgânica é o componente mais importante para se contrapor ao uso de agrotóxicos    Antônio Cruz/Arquivo/Agência Brasil

No entanto, segundo Rocha, o método esbarra nos interesses econômicos das empresas que vendem produtos agroquímicos. Os técnicos dessas empresas têm o trabalho e o salário atrelados à venda dos defensivos e exercem muita influência nas decisões dos agricultores sobre a produção, o que faz com que a redução do uso de agrotóxicos seja um dos principais desafios da agricultura nacional.

No Paraná, por exemplo, o total de produtos agroquímicos vendidos alcançou 10 quilos por habitante, por ano, em 2011. “Esse é um número extremamente elevado quando a gente compara isso com qualquer outra região do Brasil e do mundo. São dados bastante preocupantes”, disse o professor à Agência Brasil. Daí a busca de alternativas para o controle de agrotóxicos ser fundamental para a saúde dos ecossistemas em geral, incluindo o solo, a vida silvestre, os mananciais de água e também para a saúde da população, apontou Rocha. “Esses produtos são perigosos, entram nas cadeias alimentares e isso afeta a saúde da população brasileira em geral”.

Agricultura orgânica

De acordo com o especialista, as propriedades que trabalham com agricultura orgânica não usam, por princípio, produtos agrotóxicos. Os agricultores conseguiram desenvolver métodos adaptados de cultivo no qual a presença da vegetação dos ecossistemas naturais se mescla à paisagem agrícola e o manejo das culturas e do solo é feito de maneira mais harmônica com a natureza, o que evita o aparecimento de pragas. Quando elas surgem, são controladas naturalmente pelo próprio meio ou por recursos não tóxicos.

Rocha avalia que a transição de uma agricultura altamente contaminante para o método orgânico também está entre os desafios da produção brasileira. Segundo ele, é crescente o número de agricultores que estão partindo para esse sistema de produção, com predomínio de pequenos proprietários, embora a mudança também em áreas mais extensas, por exemplo, em plantações de cana-de-açúcar em São Paulo, que são cultivadas de maneira orgânica. “É crescente e é potencial”.

Na Dinamarca, o governo tem a meta de transformar 100% de sua agricultura em orgânica. Na Holanda, mesmo a agricultura convencional tem baixo uso de produtos químicos. Além do manejo integrado de pragas, as medidas de legislação ajudam nessa transição, observou Rocha. Por exemplo, na Holanda, que é o maior exportador de batatas semente do mundo, há uma lei que obriga o agricultor a fazer rotação de culturas. “Só pode plantar batatas de quatro em quatro anos porque, se plantar seguidamente, acaba infestando o seu solo e de toda a região por conta disso”, explicou.

No Paraná, está em discussão a necessidade de os plantadores de soja adotarem o regime de rotação de culturas. O uso de agrotóxicos nas duas safras anuais de soja favorece o aparecimento de mais pragas e mais doenças devido à não adoção da rotação de culturas. No estado, 90% das propriedades são de pequeno porte. Pesquisa feita pela UEPG mostra o papel dessas propriedades para a proteção da floresta e, ao mesmo tempo, para a prestação de serviços ambientais para a sociedade, como produção de água, proteção da biodiversidade, proteção contra erosão e estabilidade das margens.

A UEPG está apoiando a transformação dessas propriedades familiares em propriedades orgânicas. Das 1,4 mil propriedades orgânicas certificadas no estado, mais de 300 tiveram suporte do programa de apoio à certificação da universidade, que combina a adequação ambiental, proteção de rios e nascentes e conservação de solos ao apoio para o agricultor levar sua propriedade de um sistema intensivo para um sistema ecológico de produção.