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Polícia investiga disparos feitos contra travestis no Rio

Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 07/01/2016 - 14:24
Rio de Janeiro

A Polícia Civil do Rio de Janeiro está fazendo investigações para chegar ao autor dos disparos feitos na noite de ontem (6) contra duas travestis em Madureira, na zona norte do Rio. A apuração está sob a responsabilidade da 29ª Delegacia de Polícia. Não há informação sobre o nome social delas, mas nos documentos usados para os registros são identificadas como Douglas Freitas, de 27 anos, e Wallison Marques Muniz, de 19 anos. Os policiais estão à procura de imagens de câmeras de segurança que possam ajudar a identificar como o crime ocorreu e por quem foi praticado.

De acordo com testemunhas, as duas estavam na esquina da Rua Carolina Machado com a Travessa Almerinda de Freitas, próximo à boate Papa G, quando foram baleadas por um homem. Depois de socorridas no local por uma equipe do Corpo de Bombeiros, foram levadas para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na zona norte.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Wallison recebeu alta às 3h15 de hoje (7), mas Douglas, embora tenha o estado de saúde estável, permanece em observação na unidade e deve passar ainda hoje por uma cirurgia de maxilar. A secretaria informou que Douglas teve ferimentos no ombro, na face, nádega e braço. Não há, até o momento, previsão de alta. A Polícia Civil aguarda a melhora no estado de saúde das vítimas para que sejam ouvidas na 29ª DP.

O superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Direitos Humanos e coordenador do Programa Estadual Rio sem Homofobia e do Rio Com Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento, disse que ainda não há informações sobre os motivos do crime.

Ele destacou que a área onde ocorreu já registrou, há três anos, um outro crime contra pessoas trans. Na avaliação dele, existe “um certo sentimento de rejeição de setores contrários ao trabalho sexual de travestis, transexuais e mulheres” naquela região. “Ainda não há dados suficientes para fazer algum nível de afirmação”, disse, em entrevista à Agência Brasil.

Para Cláudio Nascimento o crime é resultado de uma violência ligada à questão da identidade de gênero delas, mas destacou que há também no cotidiano uma banalização da violência contra as travestis. “Se não foi uma violência direta pela questão de rejeição a elas naquele espaço, de alguma violência transfóbica contra elas, pode ter sido também uma situação de rejeição cotidiana delas, porque tem esse sentimento de rejeição às travestis no cotidiano. Segundo o superintendente, todas as situações de violência contra as travestis, em geral são feitas com requintes de crueldade. "Uma bala pode matar uma pessoa, mas dão vários tiros. Isso mostra um sentimento de ódio e de rejeição muito grande."

O superintendente pediu para quem tiver qualquer tipo de informação sobre o crime, que ligue para o Disque Cidadania LGBT no número 08000234567 ou procure a 29ª DP.

A transexual e tradutora de libras, Alessandra Ramos, ficou triste ao saber que ainda hoje pessoas trans atravessam este estado de vulnerabilidade tão grande. Para ela, a situação de violência é comum e ocorre por causa de uma sensação de impunidade. “As pessoas sabem que, se fizerem alguma coisa contra uma pessoa travesti ou transexual, não vai ter apuração, e é muito fácil sair impune. A transfobia é o grande motivo."

Alessandra Ramos espera que a polícia trabalhe junto a pessoas do Movimento Trans para encontrar o autor dos disparos e que ele seja preso. Ela defendeu ainda a aprovação de uma lei que identifique estes crimes como hediondos. “Este tipo de controle social ajuda e faz com que estes crimes possam ter resolução”, afirmou.