Mães fazem caminhada em São Paulo para lembrar Crimes de Maio e cobrar justiça
Uma caminhada pelas ruas do centro de São Paulo relembra hoje à noite (13) os dez anos dos Crimes de Maio. como ficou conhecida a série de ataques promovida por integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e policiais, em maio de 2006, e que provocaram a morte de mais de 560 pessoas, entre policiais e civis, durante duas semanas.
Os manifestantes pediam justiça e o fim do terrorismo de Estado, no ato que recebeu o nome de Cordão da Mentira. O número de manifestantes não foi informado. A caminhada começou na frente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco. A primeira parada dessa caminhada, promovida pelo movimento Mães de Maio, criado por mães que perderam seus filhos nos ataques de 2006, será em frente à sede da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), onde elas relembraram os mortos e cobraram Justiça.
Depois, a caminhada deve passar pela Praça da Sé, pelo Tribunal de Justiça, o Pátio do Colégio, a prefeitura e o Theatro Municipal, com encerramento previsto no Largo do Paissandu. Além das Mães de Maio, também havia a presença de mães de outros estados brasileiros, que também tiveram seus filhos mortos por policiais militares, e de coletivos de mulheres.
Uma das mães que acompanhou o ato de hoje é a diarista Ilza Maria de Jesus, que teve o seu filho assassinado no dia 14 de maio de 2006. Segundo ela, seu filho, um estudante que tinha 19 anos na época, morreu com nove tiros enquanto jogava fliperama em uma pizzaria.
“Ele foi assassinado por policiais”, disse Ilza. Segundo ela, testemunhas viram policiais matando seu filho, mas não dão o testemunho com medo de serem mortas: “Eles [policiais] não mataram só nossos filhos, mas também a mim e a outras mães, que choram e não têm descanso”. Ela afirmou que não recebeu indenização do estado pela morte de seu filho e não viu punição para seus assassinos: “Meu sentimento é de revolta e de injustiça. Sou uma morta-viva. Não tenho esperança nenhuma”.
Um relatório da Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, elaborado em 2012, informou que, na esfera criminal, a quase totalidade dos inquéritos policiais envolvendo a morte de civis foi arquivada pelo Poder Judiciário, a pedido do Ministério Público. Já as mortes de agentes públicos, segundo o relatório, foram esclarecidas, o que demonstraria “uma investigação seletiva”.
“Temos um país genocida e que tem classe social dentro dos presídios, cor e pigmento. Temos um país violento e torturador” disse Débora Maria da Silva, criadora do movimento Mães de Maio e que perdeu um filho, o gari Edson Rogério Silva dos Santos, 29 anos, que foi morto no dia 15 de maio de 2006, na Baixada Santista, quando tentava abastecer a sua moto em um posto de gasolina.
A Secretaria de Segurança Pública informou, por meio de nota, que “as mortes ocorridas em maio de 2006 foram investigadas pela Polícia Civil e pela Corregedoria da PM. As investigações foram acompanhadas pelo Ministério Público e relatadas à Justiça. Todas as ocorrências de morte foram apuradas, à época, com rigor, assim como as denúncias de eventuais homicídios que poderiam ter policiais como autores”.
Um aplicativo, denominado Nós por Nós, foi criado no Rio de Janeiro para denunciar a violência policial. O aplicativo é gratuito, de fácil acesso e está disponível para celulares com o sistema Android. O aplicativo serve para denunciar crimes ocorridos apenas no Rio de Janeiro, por enquanto, mas futuramente poderá ser liberado para São Paulo e demais localidades do país.