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Homenagens a Iemanjá reúnem milhares em Salvador em festa no Rio Vermelho

Sayonara Moreno - Correspondente da Agência Brasil
Publicado em 02/02/2017 - 18:14
Salvador
Homenagens a Iemanjá reúnem milhares em Salvador em festa no Rio Vermelho
© Sayonara Moreno/Agência Brasil
Homenagens a Iemanjá reúnem milhares em Salvador em festa no Rio Vermelho

Milhares de pessoas se reuniram em Salvador para homenagear a Rainha do MarSayonara Moreno/Agência Brasil

Milhares de moradores de Salvador e turistas participaram hoje (2), em Salvador, das homenagens a Iemanjá, conhecida como Rainha do Mar no candomblé. Os festejos oficiais começaram ainda de madrugada e seguiram ao longo do dia sob sol forte e calor de mais de 30 graus Celsius.

A festa religiosa é organizada pela Colônia de Pescadores da Praia de Santana, no Rio Vermelho, onde fiéis e pescadores passaram a noite levando oferendas ao mar. Antes do amanhecer, uma imagem de 1,5 metro de Iemanjá chegou ao local carregada em um andor de madeira rodeado de flores e espaço para mais oferendas à homenageada.

A fila para entregar presentes a Iemanjá ia da Praia da Paciência à Praia de Santana, onde se concentram as homenagens, ao lado da Casa de Iemanjá e da sede da colônia de pescadores. A aposentada Irene Moscalenco esperou mais de uma hora para conseguir entregar as flores que levou para a entidade.“Venho aqui todos os anos, há muito tempo, e sei que ainda tem muito o que esperar, mas sei que vale a pena, porque tudo depende da fé. As flores que trago são em agradecimento, sempre, porque ela me concede muitas graças.”

Também em agradecimento, a jornalista Carla Aragão participou da homenagem ao lado da filha e do marido e também levou flores. Diagnosticada com endometriose, a jornalista temia não poder ter filhos e diz ter conseguido graças à fé. “Minha filha foi encomendada a Iemanjá. Há três anos eu vim pedir a graça da gravidez, no ano seguinte vim agradecer por estar grávida. No ano passado vim com a minha pequena nos braços, aos 4 meses. Este ano, retornamos juntos agradecer pela vida da nossa filha e pelo um ano e 4 meses ao lado dela. Fiz muitos pedidos a ela e agora só tenho agradecimentos”, disse, emocionada, a mãe de Maria Luna.

Sincretismo Religioso

Apesar de a festa ser organizada por adeptos do candomblé, a festa do Rio Vermelho evidencia o sincretismo religioso da capital baiana e reúne católicos, espíritas e fieis de religiões de matriz africana. Até quem não segue uma religião específica foi saudar a homenageada, por reconhecer a importância da data para os devotos.

“Cheguei aqui em Salvador com 13 anos. Desde então sou adepta do candomblé, do espiritismo e do catolicismo. Apesar de não ser daqui, me sinto uma baiana, porque moro aqui há muitos anos. Estou levando flores, cada uma de uma cor: a vermelha é para Iansã, a amarela de Oxum, a branca e a azul, para a homenageada do dia. Só tenho a agradecer por tudo que recebo de bom”, disse a sergipana Gera Silva.

A ialorixá Jacira Ferreira ficou todo o tempo ao lado da oferenda principal – a estátua de 1,5 metro sobre o andor florido. Vestida a caráter, com uma volumosa saia branca, a religiosa recebia as flores dos devotos e enfeitava ainda mais a imagem da orixá. A delicadeza nos gestos demonstravam a calma e a tranquilidade que ela mesma diz terem vindo de Iemanjá. Após a colocação de cada flor, o líquido perfumado de alfazema era jogado sobre os objetos.

“Nós festejamos em prol de Iemanjá. Com muita alegria, estamos juntos festejando o dia dela. É muito prazeroso tudo isso. Apesar do calor, do sol quente e da minha roupa de baiana que esquenta mais ainda, não sinto nada disso, só o prazer de festejar e a certeza do trabalho bem-feito e isso é reconfortante. [Tenho] muito mais a agradecer do que pedir a ela. Nesse tempo ruim e difícil que vivemos, pedimos toda hora, mas agradecemos sempre”, disse a mãe de santo.

Por todo o percurso até o local de entrega dos presentes, ambulantes vendiam de água mineral e cerveja a acessórios de enfeite, flores naturais e lavandas de alfazema, tradicionalmente oferecidas a Iemanjá. A comerciante Jai Teles disse que só não vendeu mais por conta da concorrência, mas comemorou o sucesso na venda de colares (guias de candomblé), imagens e lembranças da festa de Iemanjá.

“Aproveito o dia de festas aqui no Rio Vermelho para melhorar as minhas vendas, que já faço em meu bairro. A procura tem sido muito grande e isso me deixa satisfeita. Aqui na minha banquinha você pode comprar alfazema, colares de contas e lembranças para turistas, enquanto eu consigo melhorar um pouco a minha renda.”

Oferendas biodegradáveis

A preocupação com o meio ambiente e o acúmulo de lixo no fundo do mar fez com que as campanhas por oferendas não poluentes se intensificassem este ano. A recomendação vem sendo feita desde o mês de janeiro, para que os devotos joguem no mar apenas flores naturais, barcos de papel e para que a alfazema seja jogada sem os frascos. A população e os organizadores atenderam às recomendações: durante as doações, integrantes da organização da festa separavam o que não poderia ser jogado ao mar e depositavam em um cesto a ser entregue, posteriormente, para reciclagem.

Por volta das 15h (horário local), uma multidão acompanhou os pescadores que levaram o andor com a imagem de Iemanjá, além dos milhares de presentes ofertados durante todo o dia. A comemoração religiosa no Rio Vermelho terminou às 18h e a folia poderá seguir até as 22h, horário acordado entre órgãos oficiais, polícia e moradores da região.

História

A tradição diz que as oferendas a Iemanjá começaram a ser feitas pelos pescadores em 1923, quando um grupo de pescadores ofereceu presentes à Rainha do Mar após um período de escassez de peixes. A partir daí, os pedidos foram atendidos e, desde então, todos os anos os pescadores levam as oferendas em agradecimento e pedidos por fartura e pelo mar tranquilo durante as atividades.

Há mais de 50 anos frequentando as festas de Iemanjá, um dos pescadores da colônia da Praia de Santana, Gilson dos Santos, conta que nem dormiu na última noite devido aos preparativos para a festa. Um dos organizadores do evento, o pescador faz questão de ser chamado pelo apelido que recebeu dos amigos pescadores, Comprido. Ele conta que, apesar do cansaço, consegue energias da orixá “para fazer tudo com amor e dedicação”.

“Ela que nos dá energia, porque a gente trabalha com tanta satisfação para agradecer pelo sustento da nossa família durante o ano inteiro. Temos muito o que agradecer, foi um ano bom para a nossa pesca e nossa subsistência, o mar foi generoso com a gente”, disse o pescador, prestes a completar 80 anos.