Homem baleado por PM em protesto em Pernambuco continua em estado grave
Moradores do município de Itambé, no interior de Pernambuco, fizeram um protesto hoje (20) em que pedem a punição do policial que atirou em Edvaldo da Silva Alves, de 20 anos, que participava de uma manifestação contra a violência na cidade na última sexta-feira (17). Os moradores querem também que o Estado seja responsabilizado pelo caso. O homem está internado em estado grave.
Um vídeo, que circula nas redes sociais, mostra o momento em que Edvaldo Alves, de 20 anos, é baleado na coxa por um policial militar. O jovem participava de um protesto, feito por moradores de Itambé, e que fechou a Rodovia PE-75 por várias horas.
No início da gravação, três policiais e manifestantes aparecem discutindo para a retirada do bloqueio. Uma mulher tenta convencer os demais moradores a se retirar. Edvaldo questiona a ordem e reclama de ameaças que teriam sido feitas pelos agentes de segurança de atingir os moradores com balas de borracha. Um dos policiais então fala: “É esse quem vai levar um tiro primeiro?” e ordena que outro policial, com um arma de calibre 12 na mão, efetue o disparo.
Edvaldo é atingido à queima-roupa na coxa e cai no chão, sangrando. O policial militar que deu a ordem para atirar arrasta o homem pela camisa até a viatura. Enquanto é arrastado, Edvaldo é agredido pelo policial na cabeça. Os agentes o erguem pela bermuda e o jogam na carroceria da viatura, uma caminhonete, da qual não é possível identificar a placa. Em seguida, o motorista arranca com o veículo.
Edvaldo Alves está internado na UTI do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, município da região metropolitana do Recife. O último boletim divulgado pelo hospital informa que o estado dele é grave. O tiro atingiu a veia femoral, o que fez com que Edvaldo perdesse muito sangue. “Neste domingo (19), ele foi submetido a uma intervenção para retirada de compressas colocadas em cirurgia para estancar sangramentos. Seu estado de saúde vem apresentando melhora significativa. Continua realizando hemodiálise e respirando através de aparelhos”, diz a nota.
Família pretende recorrer à Justiça
Em entrevista à Agência Brasil, o auxiliar de serviços gerais José Roberto da Silva, de 27 anos, irmão de Edvaldo, disse que a família vai recorrer à Justiça. “Ainda não sei quando, vou esperar acalmar um pouco, agora o importante é a vida do meu irmão”, disse José Roberto, por telefone. No momento em que falava com a reportagem, ele acompanhava 14 pessoas de Itambé ao Recife para doar sangue ao irmão.
Ele conta que Edvaldo mora com a mãe e está desempregado. Ajuda na renda domiciliar com bicos em marcenaria e pintura. “[Foi o] primeiro protesto que ele foi. Meu irmão é uma ótima pessoa, não faz mal a ninguém, um cidadão de bem. Justiça é a primeira palavra que eu tenho para dizer.”
Inquérito é aberto
Procurada pela Agência Brasil para falar sobre as medidas que devem ser tomadas no caso, a Secretaria de Defesa Social respondeu, em nota, que instaurou inquérito policial na delegacia de Itambé, além de procedimento administrativo para apurar a ocorrência. Segundo a nota, a oitiva de testemunhas, tanto dos policiais militares quanto dos manifestantes, já foi iniciada e continuará até o esclarecimento dos fatos.
O Comando-Geral da Polícia Militar informou, também em nota, que abriu inquérito policial militar para apurar a conduta dos policiais. De acordo com a nota, os agentes foram “retirados das funções de policiamento ostensivo até a apuração completa dos fatos. A PM está colaborando com a Corregedoria da SDS [Secretaria de Defesa Social], que também está atuando no caso”.
Assembleia Legislativa acompanha caso
A Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco acompanha o caso. O presidente da comissão, deputado Edilson Silva, esteve ontem (19) em Itambé e acompanhou o protesto desta manhã.
O parlamentar informou, por meio de sua assessoria, que vai convocar uma reunião extraordinária da comissão nesta quarta-feira (22) para definir a atuação do grupo no caso. Segundo Edinho Silva, a intenção é pedir ao Ministério Público de Pernambuco e à Procuradoria-Geral de Justiça que cobrem agilidade nas investigações.