logo Agência Brasil
Geral

Em meio a incêndio, Alto Paraíso une secretarias de meio ambiente e agricultura

Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 27/10/2017 - 15:42
Alto Paraíso e São Jorge (GO)

Em meio ao maior incêndio já registrado na Chapada dos Veadeiros, a Câmara dos Vereadores de Alto Paraíso de Goiás aprovou, em segundo turno, no último dia 25, a união da Secretaria do Meio Ambiente com a Secretaria da Agricultura, criando a Secretaria do Meio Ambiente e Agricultura Sustentável. Segundo a assessoria da prefeitura, a nova secretaria deverá ser criada já na semana que vem, por decreto. O vice-prefeito Marlon Bandeira vai comandar a pasta.

A votação em primeiro turno ocorreu na terça-feira (24) e, no dia seguinte, foi a votação em segundo turno. Em meio ao incêndio e a toda a mobilização de moradores, ambientalistas e voluntários, a fusão das duas pastas está sendo amplamente criticada. O receio é de que as questões relacionadas ao meio ambiente sejam negligenciadas em detrimento das voltadas à agricultura.

No município, o embate entre agricultura e meio ambiente é claro: há suspeitas de que o incêndio criminoso tenha sido iniciado e mantido por fazendeiros da região em represália à recente ampliação da área do parque de 65 mil para 240 mil hectares.

A junção das pastas está prevista em projeto de lei que redefiniu a estrutura administrativa da prefeitura. Também serão unificadas as Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos com a Secretaria Municipal de Transportes, dando origem a Secretaria Municipal de Obras, Serviços Urbanos e Transportes.

Voto contra

São Jorge - O vereador Ivan Anjo Diniz integra mandato coletivo na Câmara de Vereadores de Alto Paraíso e foi o único voto contrário à proposta de fundir as secretarias de Meio Ambiente e Agricultura

São Jorge - O vereador Ivan Anjo Diniz integra mandato coletivo na Câmara de Vereadores de Alto Paraíso e foi o único voto contrário à proposta de fundir as secretarias de Meio Ambiente e AgriculturaValter Campanato/Agência Brasil

 

Dos nove vereadores da Câmara legislativa local, apenas um votou contra a fusão das secretarias de Meio Ambiente e Agricultura. “O nome [Secretaria do] Meio Ambiente e Agricultura Sustentável parece muito legal, mas quando se coloca um fazendeiro para cuidar dela, alguém que esteja diretamente relacionado com agronegócio, não tem nada de sustentável”, diz o vereador Ivan Anjo Diniz, um dos integrantes do mandato coletivo que ocupa uma das cadeiras na Câmara.

O mandato coletivo foi o único voto contrário: “É o agronegócio que está destruindo a Chapada dos Veadeiros. A gente vê na fusão das secretarias o reflexo desse pensamento geral que não consegue perceber o quanto a preservação da Chapada é importante para a preservação das suas próprias vidas e dos seus próprios filhos".

Segundo o prefeito, Martinho Mendes da Silva, a união das secretarias tem por objetivo reduzir os custos da prefeitura, que passa a ter dez pastas, em vez de 16. “Temos uma estrutura de pequeno porte com receitas pequenas, que não comportam esse número de secretarias”, diz. Ele ressalta que precisa liberar recursos para Saúde, Educação e Assistência Social. 

Conflito

Perguntado sobre a rixa entre ambientalistas e agricultores, ele responde: “Essa rixa se tornou uma rixa antiga, não é só municipal, ela é federal. Eu respeito o meio ambiente, sei da importância que tem o meio ambiente, considero que o meio ambiente antecede a agricultura, porém os dois estão intimamente ligados, não tem como desmembrar meio ambiente de agricultura ou agricultura de meio ambiente”.

O prefeito, no entanto, admite o conflito de interesses: “A gente sabe que são interesses conflitantes. A prefeitura, nesse contexto, tem que se preocupar com a questão do meio ambiente. Sei que a questão do suprimento da agricultura é importante, mas nós aqui estamos tentando desenvolver uma agricultura respeitável e responsável ao mesmo tempo, com produtos sustentáveis que não representem risco ao meio ambiente”.

Diante da repercussão da decisão, o prefeito diz que nada impede que a fusão seja rediscutida e revertida em 2018.



Incêndio na Chapada dos Veadeiros