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Indígenas e minorias étnicas trocam histórias de luta pela água no Fórum Mundial

Da Agência Brasil
Publicado em 16/03/2018 - 19:02
Brasília
Alto Xingu (MT) - Índio lavando colar na lagoa Mawaiaka. Festa do Kuarup, na aldeia Kamayurá. (Foto Marcello Casal Jr./ABr)
© Foto Marcello Casal Jr.
Alto Xingu (MT) - Índio lavando colar na lagoa Mawaiaka. Festa do Kuarup, na aldeia Kamayurá. (Foto Marcello Casal Jr./ABr)

Os indígenas têm uma relação profunda e visceral com o meio ambiente, como este índio do Alto Xingu. Marcello Casal Jr./Agência Brasil/Arquivo

Os Direitos e Acesso à Água por Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Minorias Étnicas: histórias e aprendizados a partir de conquistas e insucessos é um dos debates que reunirá representantes de mais de 150 países no 8º Fórum Mundial da Água, que se realiza a partir deste final de semana até o dia 23, em Brasília.

O professor de antropologia Henyo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), será um dos coordenadores da sessão que, segundo ele, terá como principais protagonistas os representantes dos povos e comunidades que irão relatar experiências na luta pela água.

“Nossa expectativa é que possamos aprender com eles, a partir dos relatos de nativos de diversos rincões do planeta, como Nova Zelândia, Estados Unidos, Índia e também do Brasil”, disse Barreto. Segundo ele, o Brasil tem um “patrimônio de disponibilidade de água para todos”. As terras indígenas e das comunidades tradicionais, na condição de terras ainda florestadas, seja na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga e outros biomas, prestam importantíssimos serviços ecossistêmicos, seja na manutenção do ciclo hidrológico ou na proteção de nascentes, impedindo o avanço desenfreado do desmatamento.

Agronegócio predador

Barreto tem participação na formulação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas do governo brasileiro e disse que o Cerrado, em especial, é um bioma especialmente crítico para a manutenção dos aquíferos e para a disponibilidade de água para todo o país. Ele defende a proteção de espaços territoriais do bioma para estancar o avanço desenfreado do agronegócio e das monoculturas de exportação.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o antropólogo comentou ainda o impacto das atividades de garimpo, pecuária e monocultura, citadas como fatores de degradação ambiental de rios e cursos d'água, especialmente nas áreas indígenas. Ele explica que, quando os sintomas de contaminação aparecem, a situação geralmente já está crítica.

Barreto diz que muitos povos que vivem em regiões de nascentes e cursos d’água têm com esses habitats uma relação “como se fosse com pessoas, como nós. Têm relações integrais e não somente materiais. Para eles, não são recursos naturais; são entes do mundo da vida. E, nessa relação com os nativos e a natureza,  eles podem até adoecer e morrer”.

Na opinião do professor, as áreas de mineração, aquelas onde se instalam obras de infraestrutura, como hidrelétricas e onde há o agronegócio, são sempre as mais afetadas. “Vejam o que aconteceu com os povos do Rio Xingu com a construção de Belo Monte, com o povo Krenak com a tragédia do Rio Doce e agora a situação em Barcarena. A principal ação de política pública a ser adotada para minimizar os efeitos dessa degradação é fortalecer a regulação ambiental,” disse.

Segundo Barreto,  capacitação e qualificação para monitorar a qualidade da água são sempre bem-vindas. Ele diz que muitos povos e comunidades indígenas têm reivindicado uma articulação intercientífica entre os seus regimes de conhecimento e os nossos, na identificação de problemas e de violações de direitos à água. Porém, diz que monitorar, identificar crimes contra o meio ambiente e não dispor de uma estrutura que permita a responsabilização dos criminosos é o mesmo que nada.