Rádio Nacional de Brasília completa 60 anos testemunhando a história
Criada em 1958 com a finalidade de apoiar a construção de Brasília e servir como meio de comunicação para os trabalhadores que estavam construindo a nova cidade, a Rádio Nacional AM de Brasília completa 60 anos nesta quinta-feira (31). A cerimônia de inauguração da Nacional de Brasília teve a presença do administrador da capital federal, Israel Pinheiro. Durante seis décadas, a história da emissora se confunde com a história do Brasil e da capital federal.
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Com o mesmo nome da emissora irmã do Rio de Janeiro, a Nacional Brasília noticiou, em primeira mão, uma série de fatos importantes que marcaram o país, como a tomada de Poder pelo golpe militar em 1964, a volta à democracia, as notícias da Constituinte, entre outros. De lá para cá, a informação é a marca registrada da emissora, assim como, a prestação de serviços de utilidade pública. Recentemente, inaugurou uma nova fase do seu radiojornalismo, com entrevistas e análises.
Durante todos esses anos, programas famosos se consolidaram ao longo da programação da rádio. No ar desde 1986, o Revista Brasil tem como foco a notícia e foi concebido para mudar a forma de fazer rádio no Brasil. Já o Viva Maria é referência na luta pelos direitos das mulheres há mais de 30 anos. As crianças também têm espaço cativo na programação da Rádio Nacional, atualmente por meio do programa Mambembeiro, que explora a arte circense e o artista de rua. E a cobertura esportiva é um dos destaques da rádio, que coleciona transmissões marcantes como a Copa das Confederações, a Olimpíada, a Copa do Mundo, além de campeonatos estaduais e brasileiro.
Mas nem só de informação e esporte é feita a programação da emissora. Por meio das ondas da Nacional, muitas histórias e vidas se cruzaram. Famílias se reencontraram e casais foram formados. São muitos encontros de amor promovidos pela rádio.
Para que todo o conteúdo seja produzido e veiculado com qualidade, cerca de 125 pessoas fazem a Rádio Nacional todos os dias. Jornalistas, produtores, editores, locutores, operadores, apresentadores, programadores musicais e sonoplastas se dedicam diariamente a levar informação de qualidade aos ouvintes. Desse total, as mulheres representam aproximadamente 67,2% da força de trabalho da Rádio Nacional e assumiram funções anteriormente ocupadas apenas por homens, como na área de operação de áudio.
>> Conheça um pouco mais sobre a história da Rádio Nacional de Brasília .
Notícias marcantes
A notícia é a cara da Rádio Nacional de Brasília desde o início. Serviços de utilidade pública foram sempre um dos pontos fortes da emissora que, ao longo de 60 anos, mudou muito, mas não perdeu a identidade.
Por estar na capital federal, não poderia deixar de ser referência no noticiário político, mas suas raízes locais e sua amplitude nacional pelas ondas curtas, fez e faz da rádio uma emissora muito peculiar.
No decorrer da construção da própria história, a Nacional se misturou com a história do Brasil. Noticiou em primeira mão fatos que marcaram o país: o golpe militar em 1964, a volta da democracia, a morte de Tancredo Neves e a sucessão do presidente que não chegou a assumir.
Mais tarde, a Rádio Nacional levou ao Brasil as notícias da Constituinte e, em seguida, a trágica morte de Ulysses Guimarães. Também fez chegar na casa dos ouvintes, as eleições diretas para presidente, depois da longa luta pelas Diretas Já.
Revista Brasil: 31 anos no ar
No dia 6 de agosto de 1986, entrava no ar o programa Revista Brasil. Sob o comando do apresentador Valter Lima, o novo programa da Rádio Nacional AM de Brasília foi concebido para mudar a forma de fazer rádio no Brasil.
Desafiou os mais descrentes quando se propôs a focar na notícia e fez história nas ondas do rádio, como conta Valter Lima: "Mas é que o rádio para poder sobreviver tem que estar sempre sendo mutante. E o Revista chegou para ser um novo modelo de programação dentro do rádio. Focar na notícia."
E nesses anos, que já podem ser contados em décadas, a prestação de serviços sempre foi uma característica da Rádio Nacional e do Revista Brasil. E, não aleatoriamente, dentre casos que marcaram a carreira do apresentador Valter Lima, está o surto de cólera que abalou o Brasil e o mundo na década de 1990.
"Em 1992, quando se começou a ter notícia que a cólera estava surgindo lá no Alto Solimões, o Revista foi deslocado e então formamos uma equipe e fomos lá naqueles locais, que eu jamais imaginava na minha vida chegar, nas regiões ribeirinhas, nas aldeias indígenas. Passamos 20 dias lá, e o foco era justamente contar para as grandes populações que tinha uma equipe lá trabalhando para não deixar que o vírus descesse o Solimões e atingisse os grandes centros porque senão seria uma catástrofe. Então, foi realmente um trabalho muito grande", disse.
Viva Maria é referência na luta pelos direitos das mulheres
No dia 14 de setembro de 1981, nascia o Viva Maria. Junto com o programa estreava também, como apresentadora, a jornalista e radialista Mara Régia, que vem marcando a vida de mulheres em todo Brasil.
A inspiração vem da história de vida da própria Mara Régia, que ainda na infância sonhava em poder ajudar mulheres que, como a sua mãe, sofriam com a violência doméstica.
"A semente do Viva Maria foi plantada na minha infância, quando infelizmente a minha mãe, vítima de violência doméstica me ensinou os primeiros passos de tentar se libertar numa época em que isso era muito difícil porque as mulheres não tinham o direito de se divorciar muito menos separarem dos maridos, tinham que sofrer caladas. […] Em um desses momentos difíceis, devia ter uns 8 anos eu pensei: 'Quando eu crescer eu vou fazer alguém coisa para as mulheres não sofrerem, para as mulheres não apanharem de seus maridos'", disse.
A história do Viva Maria se mistura com a luta das mulheres no Distrito Federal, na Amazônia e em tantos outros lugares do país. Na conta do programa, estão mobilizações que deram origem à construção da primeira delegacia de mulheres da capital federal, foi berço para a criação do Fórum de Mulheres do DF e foi responsável por pressionar parlamentares para a inclusão, na Constituição Federal, de direitos até hoje importantes às mulheres, como a licença-maternidade de 120 dias e creche de zero a seis anos.
Como as ondas da Nacional de Brasília, são também as ondas da Nacional do Rio de Janeiro, da Amazônia, do Alto Solimões, o Viva Maria adentrou, dos concretos à floresta e foi mudar a vida de mulheres, algumas delas que nunca tinham ouvido falar sobre seus direitos, sobre as especificidades dos seus corpos. Algumas que tinham as vidas sombreadas pelo machismo e pelo patriarcado, fortes características da cultura brasileira.
O Viva Maria na sua jornada encorajou mulheres e mudou a vida de pessoas como Kennya Silva, ouvinte fiel do programa. "O programa Viva Maria na minha vida, especialmente, ele é divisor de águas. Foi através desse programa que a poesia que eu fiz em homenagem as trabalhadoras rurais, Uma Maria Quarquer, teve visibilidade e conquistou o coração das mulheres da Amazônia. Essa poesia acabou virando representação dessas mulheres, e ao mesmo tempo essas mulheres se identificando com esse poema, escreviam para o programa da Mara, que por sua vez também me impulsionavam. E foi através disso que eu voltei para faculdade, voltei para a escola, na verdade, tinha nem terminado o fundamental. Hoje eu sou pós em língua portuguesa. Graças a Deus e a essa força dessas mulheres que me incentivaram através do Viva Maria".
Outra Maria que teve a vida cruzada pelo programa foi a escritora Sônia Hirsch. Especializada em saúde e bem-estar de mulheres, chegou pelas longas ondas curtas que carregam o Viva Maria pelo Brasil, em locais nunca antes imaginados por ela. Sônia conta como foi a primeira participação no Viva Maria há 34 anos. "Quando eu cheguei na rádio para dar entrevista para Mara Régia eu tive uma surpresa maravilhosa. Porque eu encontrei ali uma pessoa que vibrava com o assunto, que vibrava com a saúde, que vibrava por eu ser uma escritora mulher e por estar levantando bandeiras para favorecer o bem-estar das pessoas. Naquela época, assim como hoje, era difícil encontrar um jornalista que tivesse uma simpatia pela questão do bem-estar. E ali também foi uma surpresa para mim que eu encontrei uma feminista bacana com uma linguagem acessível lidando com a mulher do povo, a mulher da Amazônia, a mulher que escrevia cartinha para rádio".
A história do Viva Maria foi reconhecida como de importância para a visibilidade feminina em 1990, quando o dia 14 de setembro foi reconhecido como o Dia Latino-Americano e Caribenho da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação. E em 2016, nesta data foi também fundada a Rede de Jornalistas com visão de Gênero das Américas fazendo chegar o legado do programa a mais mulheres no mundo.
Criança também tem espaço
As crianças também têm um espacinho cativo na programação da rádio. Um lugarzinho bem especial, cheio de alegria e também de informação.
Durante algum tempo, a programação infantil era emprestada das “rádios-irmãs”. Programas como o Encontro com Tia Heleninha, da Rádio Nacional da Amazônia, e Estação Brincadeira, da Rádio Nacional e Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, encantaram também, em alguns momentos da nossa história, o público infantil da Rádio Nacional AM de Brasília.
Mas a Rádio Nacional de Brasília também fez programa infantil e teve até programa de rádio apresentado por criança: Os Radionautas. Foram seis anos de sucesso e uma experiência de vida para crianças e adolescentes de Samambaia (DF), que junto com o professor Edvaldo invadiram as ondas do rádio e marcaram a nossa história. E parece que essa experiência marcou a história deles também, como conta Lennon Ferreira, hoje professor de línguas, mas lá em 2004, aos nove anos de idade, apresentou junto com outras crianças e adolescentes um programa todo pensado por eles e para gente pequena como eles.
Agora, a criançada só quer saber de TV, telefone celular, internet, games e redes sociais. Não é verdade? Tem muita criança sintonizada nas ondas do rádio, deixando a imaginação criar seu próprio espetáculo e a Rádio Nacional segue com programas infantis, como o Mambembeiro, com apresentação de Priscila Crispi, e também na está Internet. Todos os programas podem ser ouvidos a qualquer momento, é só entrar na página e botar a criançada pra dançar.
Cobertura esportiva: uma marca
Nem todo dia tem bola rolando, mas sempre tem esporte na Rádio Nacional AM de Brasília. O futebol é a marca, mas todas as modalidades têm seu lugar.
A tradição na cobertura esportiva existe antes mesmo do nascimento da rádio, é herança transmitida por, nada mais nada menos, que a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a irmã mais velha e grande inspiração.
Responsável por disseminar a paixão pelo futebol para todo o Brasil, a emissora do Rio criou marca e fez história levando os jogos, os gols e os ídolos das torcidas para dentro da casa dos brasileiros. Isso, antes mesmo de a TV chegar.
A Nacional AM de Brasília nasceu com muitas responsabilidades. E uma das mais importantes foi mostrar a força do esporte da capital federal para os brasilienses e para todo o país.
Ao completar 60 anos, a Rádio Nacional AM de Brasília segue, em parceria com a Rádio Nacional do Rio de Janeiro e com as Rádios Nacionais da Amazônia e do Alto Solimões, levando as notícias de esporte para todo o Brasil.