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Mãe de jovem morto na Maré diz que testemunha reforça culpa do Estado

Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 25/06/2018 - 21:36
Rio de Janeiro

A busca pela verdade sobre a morte do filho é o que sustenta Bruna da Silva, mãe de Marcus Vinícius da Silva, de 14 anos. O adolescente morreu depois de ser baleado durante uma operação no Complexo da Maré, zona norte do Rio, na quarta-feira passada (20). “Não existe o oculto que Deus não revele. Deus vai revelar”. Bruna espera que o depoimento de uma testemunha na Delegacia de Homicídios (DH) ajude no esclarecimento da morte do adolescente.

Bruna mãe Marcus Vinicius
Bruna da Silva, mãe do adolescente Marcus Vinicius, alvejado na semana passada, durante operação na Maré - Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

“Eu tenho uma testemunha que estava com o meu filho na hora e o socorreu. É também um jovem de 16 anos. Ele era estudante na escola do meu filho”, disse.

Bruna contou que ao sair de casa, o filho passou na casa do amigo para irem juntos para a escola. No caminho, diante do intenso movimento na comunidade por causa da operação, os dois resolveram voltar para a casa e Marcus Vinícius foi atingido. A mãe reafirmou a conversa que teve com o adolescente no hospital, quando ele afirmou que o tiro que o atingiu teria partido de um veículo blindado da polícia.

O advogado João Tancredo de Bruna disse que tanto o depoimento da sua cliente como o da testemunha mostram que o menino foi ferido por um integrante da Polícia. “Nós levamos a Bruna para prestar depoimento e também uma testemunha presencial. Com isso a gente chegou à conclusão fácil de que foi um tiro disparado de um blindado da CORE. Fica muito clara a responsabilidade do estado”, observou, acrescentando que vai entrar com uma ação de indenização do estado em favor da família.

Bruna acredita que a repercussão do caso, inclusive no exterior, deve pressionar para o esclarecimento do assassinato. “Calaram meu filho, mas abriram a boca do mundo inteiro. É muita gente comigo”.

Notícias falsas

Hoje à tarde, acompanhada do advogado João Tancredo, Bruna se reuniu com o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj). O encontro foi no gabinete do parlamentar e ficou acertado que a Comissão vai encaminhar um pedido ao Facebook para retirar postagens que acusam o jovem de envolvimento com o tráfico.

“Essas pessoas que estão falando mal do meu filho, nunca viram Marcus Vinícius da Silva na vida. Não conhecem a mim, não conhecem o pai. Ninguém vai falar mal do meu filho que estuda desde os 4 anos de idade”, disse Bruna ao reafirmar: "são mentiras, são calúnias e essas pessoas têm que pagar de um jeito ou de outro”, completou.

O deputado Marcelo Freixo lembrou que a ação será semelhante a que ocorreu quando começaram a ser divulgadas notas falsas sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março. “Para tirar do Facebook todas as acusações criminosas e covardes contra uma criança de 14 anos que perdeu sua vida indo para a escola. Não é possível que tentem matá-lo novamente. É um procedimento muito parecido com o que aconteceu com Marielle. No caso da Marielle a gente conseguiu tirar do ar notícias falsas. Em outras redes a gente também vai tentar através da delegacia”, afirmou Freixo.

Além disso, segundo Freixo, a Comissão de Direitos Humanos vai providenciar o pedido de atendimento psicológico para toda a família de Marcus Vinícius e para o adolescente de 16 anos, que é testemunha.

Luto

Bruna disse que ainda não sentiu o luto pela morte do filho, porque a necessidade agora é mostrar a imagem correta do menino criado com dificuldade em uma comunidade que frequentemente enfrenta a violência causada por intensos tiroteios, mas, ainda assim, fez questão de falar com carinho do lugar onde mora e do apoio que tem recebido.

“A minha comunidade é quente. É calorosa. Foi ela que me apoiou e me abraçou. Ela que me beijou quando eu cheguei lá com o meu filho já alvejado no hospital. Ela é doce e não precisa de operação truculenta desse jeito não.”

A Delegacia de Homicídios da Capital abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Marcus Vinicius e disse que todos os protocolos de investigação serão adotados "rigorosamente".