Rádio Nacional viveu a história do samba; ouça áudio com Ismael Silva
Ensaios de escolas de samba eram transmitidas diretamente das quadras
Publicado em 21/06/2018 - 08:03 Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil* - São Paulo
Os sambas que apaixonam os agrupamentos e fazem seus integrantes subirem o morro em busca da memória ainda viva dos sambistas da velha guarda foram compostos nas primeiras décadas do século 20, sobretudo o chamado samba batucado, com marcação propiciada pela invenção do instrumento chamado surdo, o que permitiu o surgimento das escolas de samba.
Parte da história do ritmo pode ser contada por meio das transmissões da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que foi inaugurada em setembro de 1936. “Na época de ensaios das escolas, nas quadras, a Rádio Nacional, a gente dava muita notícia. A rádio cobriu até ensaios nas quadras”, relembrou Alberto Luiz Santos, que desde 1978 trabalha no acervo da rádio, hoje integrada à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Segundo Alberto Santos, os arquivos históricos disponíveis na EBC datam, principalmente, a partir das décadas de 1950. “Os materiais que temos dessa época do acetato [do início da rádio] são, algumas coisas, de 1948, 1949, mas poucas coisas. Era um material muito perecível.”
Um pouco da história da Rádio Nacional foi contada em um especial publicado por ocasião dos seus 80 anos, completados em 2016. Clique aqui para conhecer.
Aqui, o repórter transmite resultado do carnaval de 1949, ano em que a Escola de Samba Império Serrano foi a campeã:
Matrizes do samba
Aos 102 anos de sua primeira gravação, o samba é mais do que um gênero musical característico do Brasil: é uma forma de expressão e um modo de socialização. Em 1916, ele se materializou em gravação com a música Pelo Telefone, de autoria do músico e compositor carioca Ernesto dos Santos, o Donga.
Desde 2007, o samba – nas variações partido-alto, samba de terreiro e samba-enredo – é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial do Brasil.
O Dossiê Matrizes do Samba no Rio de Janeiro, do Iphan, explica cada uma das modalidades. “O samba de terreiro faz referência aos espaços de encontro e celebração dos sambistas, que ali dançam um samba livre com as marcas de sua ancestralidade. Nos terreiros, pátios das escolas de samba, cantam as experiências da vida, o amor, as lutas, as festas, a natureza e a exaltação das escolas e da própria música”, diz o texto.
O partido-alto, por sua vez, é marcado pelo improviso. Essa matriz nasceu nas rodas de batucadas, “onde o grupo marca o compasso, batendo com a palma da mão e repetindo o refrão e inventando estrofes segundo um tema proposto”.
Ismael Silva
Com as primeiras escolas de samba, surge o samba-enredo no final da década de 1920, adaptando-se às necessidades do desfile. “O compositor elabora seus versos com base no tema (enredo) a ser apresentado pela escola, descrevendo uma história, de maneira melódica e poética. De sua animação e cadência depende todo o conjunto da agremiação, tanto em termos de evolução como de envolvimento harmônico”, segundo o Dossiê Matrizes do Samba.
Aqui, o radialista Hilton Abi-Rihan entrevista Ismael Silva para a Rádio Nacional, na década de 1970. Um dos mais importantes compositores da história da música popular brasileira, o sambista conta como ocorreu a criação da primeira escola de samba, a Deixa Falar, no bairro do Estácio, em 1928.
* Colaborou Francisca Sousa, estagiária da Agência Brasil
Edição: Davi Oliveira