Embaixada do México foi território dividido para ver jogo com Brasil
Um lugar onde um homem veste uma máscara de atleta de luta livre e se acomoda com um prato de comida em meio a dois bandos rivais, hipnotizado pelo que é transmitido em uma tela. Se nem mesmo o cinema consegue convencer o público a largar o celular por duas horas, o futebol segue mostrando que ainda consegue fazê-lo, como ocorreu hoje (2), em Brasília, na Embaixada do México, país que perdeu, por 2 a 0, para o Brasil. Cerca de 60 pessoas compareceram ao local, em número bastante equilibrado entre as torcidas.
Ainda que não seja a primeira reunião organizada no local, a sensação de fraternidade tem perdurado com a mesma intensidade vivida nas edições anteriores da Copa do Mundo. "O sentimento é de permanente amizade", declarou, sorridente, o embaixador mexicano, Salvador Arriola, vestindo uma democrática camiseta verde, tom presente nas bandeiras de ambos os países.
Revelando que irá sempre torcer pelos irmãos latino-americanos, ele pontuou que Brasil e México mantêm sua irmandade também pela similaridade de mazelas que afligem os dois governos, incluindo, em breve, o de López Obrador, candidato de esquerda que venceu as eleições presidenciais mexicanas neste domingo (1º). "Nós temos os mesmos problemas, que vêm da desigualdade", resumiu Arriola.
Galhofeiros, alguns jovens mexicanos presentes bradavam gracejos a cada vez que o camisa 10 da seleção brasileira, Neymar Jr., aparecia na TV com um semblante de dor após sofrer uma queda no gramado. Desconfiado de que se tratava apenas de uma mera performance do craque, o grupo parecia não poupar nem a si mesmo das pilhérias. Depois de o Brasil marcar seu primeiro gol, aos 19 minutos de jogo, eles ainda brincavam, fingindo atender um telefonema, dizendo, com humor cáustico: "Alô. Si, si, tenemos un problema: fui extraditado!".
Tomar partido e assumir a preferência por um dos times não foi tão fácil para a secretária da embaixada, Berla Medrano, de 45 anos. Nascida no México e trazida ao solo brasileiro por seus pais, aos três anos de idade, ela comentou que a disputa entre as duas seleções a entristece. "Eu não queria que tivesse esse confronto, não é, mas a gente tem que aguentar. Eu tenho amor pelo Brasil, minha vida é aqui. Eu estudei aqui, eu me formei aqui", afirmou.
Berla disse que seus pais vieram para o Brasil para ficar quatro anos, mas o tempo passava e eles iam ficando. "Meus irmãos foram casando, criando raízes. Éramos cinco irmãos, agora somos quatro. Todos mexicanos. Só um que nasceu no Brasil, o caçula, que tá com 27 anos. Ele nasceu aqui, mas torce mais para o México do que eu", contou
Mesmo estando diante de uma bola que custou a correr de forma mais livre pelo campo, pelo grande número de passes interrompidos, os torcedores convidados pela embaixada pouco movimentavam suas cabeças, talvez menos até que o tripé da câmera dos cinegrafistas que cobriam o evento. A ausência de tensão, porém, era apenas aparente.
Agitador dos aplausos reservados ao time mexicano e sentado na ponta da cadeira durante toda a partida, Jesús Manuel, que cursa mestrado em Agronomia na Universidade de Brasília e que compareceu com amigos à confraternização, disse que custou a conter seu entusiasmo. "Não gosto muito de sair, mas hoje saí", disse. "Meu estado é, geralmente, mais alegre", acrescentou, rindo.
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