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Policiais chegaram atirando, diz mãe de menina baleada no Rio

Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/02/2019 - 20:16
Rio de Janeiro
Kátia Cilene, mãe da menina Jenifer Selena Gomes, de 11 anos, morta após ser baleada com tiro no peito no bairro da Triagem, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
© Fernando Frazão/Agência Brasil

A comerciante Katia Cilene, mãe da menina Jenifer Cilene Gomes, de 11 anos, morta com um tiro no peito na tarde desta quinta-feira (14), afirmou que policiais já chegaram atirando à pequena favela onde ela mora e tem um bar, junto à estação de trem de Triagem, na zona norte do Rio.

Kátia Cilene, mãe da menina Jenifer Selena Gomes, de 11 anos, morta após ser baleada com tiro no peito no bairro da Triagem, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
"Moço, até quando isso vai continuar?", pergunta Katia Cilene, amparada por amigas - Fernando Frazão/Agência Brasil

"Moço, na porta do meu bar, a minha filha ser baleada, até quando isso vai continuar? Os policiais já chegam atirando. Não pode. Minha filha ganhou um tiro de fuzil no peito. Eles já chegam atirando, não querem saber de nada. Foram quatro tiros. Eles já chegam fazendo isso, então a gente nem sabe o que eles procuram. Minha filha estava na porta do meu bar, conversando com quatro crianças. De repente, saíram quatro disparos, e ela virou pra mim: 'Mãe, eu tô baleada’”,contou, aos prantos, a comerciante.

Segundo Katia, não houve tiroteio antecedendo a chegada dos policiais, que, segundo a Polícia Militar (PM), estavam no local para investigar roubos de carga.

“Não tinha tiroteio. Quando socorreram a minha filha, não tinha tiroteio. Porque os quatro canas estavam vindo lá do ferro-velho. Mas de onde surgiu esse tiro? Não tinha bandido, não tinha ninguém armado. De onde surgiu? E só eles que apareceram. Foi quem, então? Eu não tenho arma, ninguém tem arma na minha família. Alguém foi, não foi?”, questionou Katia, em frente ao Hospital Salgado Filho.

Perguntada como seria sua vida sem a filha, daqui para a frente, ela apenas respondeu: “Eu não posso posso fazer nada. Tenho que viver e enterrar minha filha”.

Versão da PM

A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que, no início da tarde, equipes do 3º BPM (Méier) foram acionadas para checar um roubo de carga no condomínio Morar Carioca, em Triagem. Segundo o comando da unidade, “ao chegarem ao local os policiais depararam com populares carregando uma criança ferida”, diz a nota.

Na sequência, de acordo com a secretaria, a equipe prestou socorro à menina e a encaminhou para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier.

Segundo o texto, nenhum policial efetuou disparos. “Em ação subsequente, um grupo de moradores tentou impedir o fluxo das vias da região atirando objetos e lixo nas ruas, porém foram contidos pelos policiais”.

Rio de Paz

A organização não governamental (ONG) Rio de Paz emitiu nota dizendo que acompanha o caso da morte de Jenifer e que está solicitando auxílio do governo do estado para a família da menina, além ‪de empenho na investigação. O Rio de Paz também lançou a hashtag #QuemMatouJenifer, com objetivo de buscar uma resposta no caso.

A organização instalará amanhã (15), às 13h, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na altura da Curva do Calombo, um cartaz com o nome da menina Jenifer. No local já existe uma instalação com o nome de outras crianças que foram vítimas de bala perdida no Rio de Janeiro desde 2007. “É válido lembrar que, entre 2007 e 2019, 53 crianças foram mortas por bala perdida no Rio de Janeiro. Em geral, crianças pobres, moradoras de favela, mortas em confronto entre policiais e bandidos”, afirmou o presidente e fundador da ONG, Antônio Carlos Costa.

*Matéria alterada às 11h33 do dia 15/02/2019 para esclarecer informação passada pela Secretaria de Estado de Polícia Militar.