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Um ano após desabamento, déficit habitacional ainda é realidade em SP

Desabamento Edifício Wilton Paes de Almeida deixou 7 mortos
Elaine Gonçalves – Repórter do radiojornalismo da EBC
Publicado em 01/05/2019 - 19:23
São Paulo
Bombeiros trabalham na busca pelos desaparecidos e retirada dos destroços do prédio que desabou após incêndio da madrugada de ontem (1), em São Paulo, no Largo do Paissandu.
© Rovena Rosa/Agência Brasil_02/05/2018

Há um ano, o Dia do Trabalhador começava marcado por uma tragédia: o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, após um incêndio. O desastre deixou vítimas e revelou uma das maiores feridas da capital paulista: o déficit de moradia.  

O prédio de 24 andares, no Largo do Paissandu, foi inaugurado em 1968, chegou a ser sede da Polícia Federal mas estava abandonado há 15 anos. Virou moradia de 171 famílias. No prédio comercial, paredes de madeirite delimitavam o lugar de cada família. A ocupação era controversa: os coordenadores cobravam uma taxa para fornecer água e energia elétrica que chegavam ao prédio por gambiarras.

De acordo com inquérito policial, um curto-circuito pode ter provocado o incêndio que se alastrou pelo prédio. Os bombeiros encerraram as buscas nos destroços no dia 13 de maio, com o número oficial de sete vítimas encontradas e identificadas. Duas pessoas que também moravam no prédio continuam desaparecidas.

Neide das Dores trabalha em um salão de beleza que ficava próximo ao edifício e não consegue esquecer da cena: "[Era] 3h da manhã, né? Pensei que fosse o prédio do fundo. Quando eu tava chegando aqui, o prédio tava acabando de descer, inclusive aquele rapaz que morreu ali do lado, né?". O rapaz era Ricardo Galvão, uma das sete pessoas que morreram sob os escombros. Imagens registradas por celulares, mostram que ele despencou da cadeirinha dos bombeiros no momento do resgatado.

Desabrigados do prédio que desabou após incêndio na madrugada desta terça-feira acampam em frente a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, região central
Desabrigados do prédio que desabou acamparam por mais de 100 dias em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, região central - Rovena Rosa/Agência Brasil

Depois do desastre, um grupo de trabalho montado pela prefeitura visitoriou cerca de 50 prédios com ocupações. Cinco deles, estavam em situação de segurança considerada crítica e foram desocupados. O Minsiterio Público entrou com uma ação civil contra proprietários de outros 15 imóveis ocupados cobrando investimentos em segurança.

Para o promotor Roberto Pimentel, da promotoria de Justiça e Habitação, a falta de moradia continua sendo um problema grave. "O que a gente notou é que houve essa movimentação do poder público para avaliar quais as medidas mais urgentes e agora a gente tem esses laudos de vistoria. Na verdade, o problema do déficit habitacional continua existindo para o enfrentamento desse problema que é muito grave no estado de são paulo. Todos sabem que é muito grave", disse Pimentel.

Secretaria de habitação

O orçamento da prefeitura de São Paulo para 2019 é o menor nos últimos dez anos e a área de habitação foi a segunda mais atingida, com um corte de R$ 136 milhões, ficanto atrás apenas da Secretaria de Infraetrutura  e Obras.

Questionada sobre os cortes, a Secretaria de Habitação disse, em nota, que tem trabalhado em diversas frentes para combater o déficit habitacional na capital e que busca recursos nas esferas estadual e federal, além da iniciativa privada, para  a construção de moradias. A promessa é entregar 25 mil moradias até 2020.

Hoje, os antigos moradores do Wilton Paes de Almeida fazem parte de uma fila de quase 500 mil famílias que aguardam um imóvel para morar.