Lixões liberam 6 milhões de toneladas de gás de efeito estufa ao ano

Queima irregular de resíduos também contribui para esse resultado

Publicado em 05/06/2019 - 20:01 Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

A permanência de lixões para descarte de lixo no Brasil e a queima irregular de resíduos respondem por cerca de 6 milhões de toneladas de gás de efeito estufa ao ano (CO2eq), aponta levantamento do Departamento de Economia do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb). O montante é o equivale ao gás gerado por 3 milhões de carros movidos a gasolina anualmente. O estudo foi divulgado por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje (5), que tem como temática em 2019 – definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) – a questão da “Poluição do Ar”.

“Os resultados expressivos revelam um descaso em relação a uma questão que, muitas vezes, é invisível, que é a destinação inadequada de resíduos, mas que apesar de ser aparentemente invisível, impacta de uma maneira profunda na sociedade, principalmente em termos ambientais”, disse o economista do Selurb, Jonas Okawara, responsável pelo estudo. Os dados estão baseados em um cruzamento de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a partir de um cálculo sugerido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, pela sigla em inglês), da ONU.

Segundo o levantamento, a emissão dos gases decorrentes da queima de lixo nos depósitos irregulares é equivalente ao movimento anual de uma frota superior a 130 mil carros. A pesquisa aponta que, de acordo com o IBGE, cerca de 7,9% do total de resíduos gerados são queimados na própria residência. “Considerando que cerca de 78,4 milhões de toneladas de resíduos foram geradas no país em 2017, significa dizer que aproximadamente 6 milhões de toneladas de resíduos foram incinerados ilegalmente”, diz o estudo. Partindo desses dados, chegou-se ao resultado de que a queima de lixo irregular é responsável pela geração anual de 256 mil toneladas de CO2.

A produção de gás metano (CH4) oriundo da decomposição dos resíduos levados para lixões, por sua vez, é próximo ao impacto da atividade do vulcão Etna, na Itália, para o aquecimento global. O Selurb aponta que, se essa quantidade fosse revertida em biogás para produção de energia elétrica em aterros sanitários apropriados, seria possível abastecer a área residencial de uma cidade com 600 mil habitantes. Okawara explicou que a produção de CH4 não acaba com a interrupção do despejo irregular de resíduos. O lixo destinado de maneira errada hoje pode deixar de emitir o gás definitivamente daqui a 30 anos.

Solução

Entre as medidas necessárias para mitigar os efeitos a decomposição dos resíduos sólidos, a Selurb destaca o fim dos “cerca de 3 mil lixões existentes no país e instalação de cerca de 500 aterros sanitários capazes de fazer toda a gestão dos resíduos”.

Dados do Selurb e da PwC (PricewaterhouseCoopers) apontam que 53% das cidades brasileiras ainda destinam o lixo incorretamente para vazadouros clandestinos; a cobertura dos serviços de limpeza urbana (coleta porta a porta) está longe da universalização (76%); 61,6% dos municípios ainda não estabeleceram fonte de arrecadação específica para custear a atividade; e o índice de reciclagem no Brasil não passa dos 3,6%.

Para Okawara, as soluções passam por um planejamento e atuação conjunta das esferas municipais, estaduais e federal. Ele avalia, no entanto, que são necessárias medidas punitivas mais severas para fazer avançar a Política Nacional de Resíduos Sólidos. 

“Hoje não vai pra frente porque não tem punição mais severa em relação não só aos prefeitos, mas a sociedade em si. A sociedade não tem um engajamento necessário para fazer com que o tempo dos resíduos sólidos possa evoluir da maneira como o tema demanda”, disse.

Saiba mais na TV Brasil: Brasil é o quarto produtor de lixo plástico do mundo

Edição: Fábio Massalli

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