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Igrejas de SP soam sinos em solidariedade a ucranianos em guerra

Comunidade ucraniana no Brasil lamenta agressão russa ao país
Dimas Soldi - Repórter da TV Brasil
Publicado em 27/02/2022 - 08:05
São Paulo
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, volta a celebrar missas com a presença de fiéis
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Neste fim de semana, os sinos das igrejas católicas e ortodoxas ucranianas que existem em São Paulo vão dobrar em um pensamento só: que a guerra deflagrada pela Rússia contra a Ucrânia acabe e cesse o sofrimento e a dor do povo daquele país, distante do Brasil quase 12 mil quilômetros. 

Várias celebrações religiosas estão marcadas para serem realizadas em São Paulo, reunindo nos templos católicos ucranianos e ortodoxos não só os imigrantes idosos e seus descendentes, já nascidos no Brasil, mas também amigos brasileiros solidários.

Uma das principais missas será celebrada na Paróquia Nossa Senhora da Glória, pertencente à comunidade católica ucraniana da cidade de São Paulo. A “missa pela paz na Ucrânia” será celebrada pelo padre Estefano Elton Wonsik.

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Outras missas devem acontecer ao longo do fim de semana, reunindo devotos de origem ucraniana, muitos dos quais possuem parentes vivendo em Kiev e em cidades do interior do país que estão sob ataque das forças russas.

Embora Brasil e Ucrânia sejam países distantes geograficamente,  o país tem hoje uma comunidade de 600 mil ucranianos e descendentes.

Nazismo e União Soviética

Os ucranianos começaram a vir para o Brasil no fim do século dezenove, estimulados pelas boas notícias divulgadas na Europa de que o país sul-americano era terra de fartura e faltavam trabalhadores agrícolas. Essas notícias também davam transmitiam um novo tempo de crescimento econômico do Brasil - por causa do café em São Paulo e Rio de Janeiro e da recente proclamação da República.

Outros grupos de ucranianos vieram para o Brasil depois da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais. Mas, dessa vez, os imigrantes estavam fugindo não só dos conflitos militares e do nazismo, mas também da fome e do regime comunista implantado por Moscou durante a expansão de domínios em dezembro de 1922, com a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a anexação dos países-satélites, como: Armênia, Azerbaijão, Bielorússia (hoje Belarus), Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão,  Uzbequistão e a própria Ucrânia. 

No Brasil

Hoje, as comunidades ucranianas e seus descendentes estão distribuídos pelos estados do Sul do Brasil e em São Paulo, onde vivem atualmente 10 mil pessoas. No interior do estado, na região de Campinas, foi fundada uma cidade que homenageia o povo ucraniano. Trata-se de Nova Odessa, fundada em 1906. Curiosamente, no início, o local foi colonizado por imigrantes russos, procedentes de Odessa, cidade que na época pertencia à União Soviética, atual Rússia.

Uma parte dos ucranianos de São Paulo vive na região metropolitana da capital, principalmente em São Caetano do Sul, município industrial do chamado ABC paulista.

Nessa cidade, a influência ucraniana é facilmente identificada nas ruas. A cidade é sede de duas igrejas ortodoxas: a Igreja Ortodoxa Ucraniana de São Valdomiro e a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana. 

A cidade tem também uma Rua Ucranianos, em homenagem ao povo que escolheu o Brasil para viver. As igrejas são cópias arquitetônicas dos templos daquele país, inclusive os desenhos e pinturas sacras seguem a mesma tradição.

Relatos durante a guerra

A fisioterapeuta Zélia Krukosz é colaboradora de uma das igrejas ortodoxas da cidade. Ela diz que os antigos imigrantes, hoje bem idosos, são muito religiosos e estão muito apreensivos com as notícias dos conflitos militares envolvendo o país de origem e os russos. Ao longo do século vinte, os russos subjugaram o povo ucraniano, enquanto durou a URSS.

Zélia disse que as missas em São Caetano são celebradas em ucraniano e em português, porque os mais jovens não dominam a língua dos imigrantes, mas todos agora estão unidos em orações pedindo pelo fim do conflito militar.

A dona de casa Maria Sawczak Kerecuk imigrou para o Brasil em 1968, quando tinha seis anos de idade e um filho de seis anos. “É um pesadelo o que está acontecendo com minha terra natal e meu povo”, disse ela. “Eu rezo o tempo todo para essa guerra insana acabar e as pessoas não sofrerem mais, pois não há qualquer razão para isso estar acontecendo”, afirmou.

A idosa disse que costuma ir para a Ucrânia, onde tem amigos e parentes. Hoje, ela estava muito preocupada com a falta de notícias das pessoas que conhece no seu antigo país.

O engenheiro Vitale Afanasiev informou que ligou para a mãe na Ucrânia e percebeu o nervosismo diante da chegada das tropas invasoras às cidades. “Ela me passou muitos telefones de parentes e pessoas amigas e próxima, de vizinhos, porque não quer correr o risco de que a gente fique sem contato no meio desses ataques e da ocupação russa ao país”, disse.

Quem está muito preocupada com a família no seu país é a ucraniana Olga Arroyo. Ela se casou com um brasileiro e veio morar no Brasil há quatro anos. “Telefonei para amigos e parentes e todos relatam os bombardeios durante a madrugada, destruindo instalações, prédios e portos. São relatos preocupantes. Estão destruindo meu país”, lamentou.