África, Nordeste e humor marcam desfile das escolas de São Paulo

Mesmo com chuva, escolas não tiveram sérios problemas técnicos

Publicado em 19/02/2023 - 12:02 Por Ludmila Souza - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

A chuva que não parou durante a madrugada não tirou a alegria das escolas de samba que desfilaram na Sambódromo do Anhembi, na segunda noite do Grupo Especial do carnaval de São Paulo em 2023. As escolas mostraram seus sambas-enredo que falaram de humor, da musicalidade e dos samurais africanos, do Nordeste e de questões existenciais. 

As sete escolas que desfilaram no Anhembi entre este sábado (18) e a madrugada do domingo (19) contaram com o mesmo desafio: a chuva oscilante, que ora vinha mais forte, amenizava e voltava a cair na avenida. Apesar disso, as escolas não tiveram problemas técnicos significativos e puderam desfilar suas alegorias e carros. 

A primeira a desfilar foi a Estrela do Terceiro Milênio, que estreou no Grupo Especial com o samba enredo Me dê a sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir

A escola levou para a avenida muito humor e alas diferentes, com tema sobre palhaços e sua vocação de sorrir e alegrar o público, fazendo um paralelo ao gesto de sorrir para encarar a repressão.

O desfile homenageou personagens emblemáticos do cinema, como O auto da Compadecida, e de rádio e televisão, como Jô Soares, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias de Os Trapalhões. A comissão de frente mostrou que o humor é o remédio para a dor e surpreendeu com trocas rápidas de fantasias. 

Acadêmicos do Tucuruvi

A Acadêmicos do Tucuruvi foi a segunda escola a entrar na passarela do samba com homenagem ao cantor, compositor, violonista, percussionista e intérprete Bezerra da Silva. Com o enredo Da Silva, Bezerra. A voz do Povo!, a escola mostrou, em seus carros e alegorias, a história do artista, que fez samba contra a fome e a opressão. 

A figura do malandro, cantada na música Malandragem dá um tempo, foi o tema a fantasia dos ritmistas da bateria. A comissão de frente representou brasileiros cantados nos versos de Bezerra da Silva. A escola homenageou também moradores das favelas. 

Mancha Verde

A Mancha Verde entrou na avenida com o enredo Oxente- Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil, e mostrou as culturas e tradições do sertão pernambucano no passo do xaxado, a dança de comemoração de vitória das batalhas de Lampião e seu bando. 

A dança criada no sertão pernambucano foi popularizada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que foi para a avenida representado por um boneco gigante em um dos carros da escola. 

O carro abre-alas fez alusão à caatinga e o carro Fé no Padim Ciço e a arte de Mestre Vitalino homenageou Padre Cícero. Todo o desfile foi marcado por referências ao Nordeste e a suas tradições, como as festas de São João.

Império de Casa Verde

A Império de Casa Verde entrou na avenida com o samba-enredo que exaltou o batuque e os tambores como expressões de religiosidade, tradição, cultura e musicalidade vindos da África à Casa Verde, reduto de sambistas.  

O samba enredo Império Dos Tambores — Um Brasil Afromusical levou para a avenida uma viagem aos sons e tradições africanas e surpreendeu com a comissão de frente, ao mostrar o parto de um bebê quase real surgido da flor de Baobá, e o rito musical que envolve esse nascimento. 

O desfile foi marcado pela musicalidade africana, mas também traçou um paralelo entre o continente e as periferias brasileiras, com um carro que retratava os bailes funk de São Paulo e do Rio de Janeiro. As alas ainda homenagearam as mulheres do samba, como Dona Ivone Lara, Elza Soares e Clara Nunes.

Mocidade Alegre

A Mocidade Alegre mostrou na avenida o samba-enredo Yasuke, um paralelo entre o Japão e a África com a história do samurai Yasuke, que saiu da África e virou guerreiro no Japão no século XV. 

O samba mostrou o samurai em armadura preta, para enfrentar guerrilhas e adversidades cotidianas do mundo contemporâneo, como o preconceito racial. 

Com os versos todo preto pode ser o que quiser, o desfile mostrou os desafios de se tornar um samurai. Um dos carros retratou um templo samurai e as  tradições religiosas e culturais do Japão, mostradas nos carros e alegorias. 

Águia de Ouro

A Águia de Ouro fez em seu desfile alusões às questões existenciais com o samba-enredo Um Pedaço Do Céu. O carro abre-alas mostrou o mundo encantado na visão dos sonhos das crianças, com bailarinas em um carrossel e muita cor do universo infantil. 

A escola apresentou um grupo com sacerdotes e guerreiros gregos, com foliões cadeirantes usando a fantasias de sacerdotes e conduzidos pelos guerreiros. 

Também mostrou momentos de encantamento e magia com suas alegorias e carros. Uma das alas mostrou a força da mulher e no fim do desfile, o carro do Olimpo, que representa o céu de conquistas para quem seguir os sonhos.

Dragões da Real

A Dragões da Real foi a última a entrar na avenida sob forte chuva, mas não perdeu a empolgação e apresentou o samba-enredo Paraíso Paraibano — João Pessoa, A Porta Do Sol Das Américas

A cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, foi para o Anhembi com a representação das praias, artesanato, xaxado e cariri e diversas tradições nordestinas da cidade. 

Durante o desfile, a escola mostrou manifestações culturais da capital paraibana, e principalmente, da festa de São João, uma vez que João Pessoa também é capital da quadrilha junina. 

Edição: Maria Claudia

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