ONU pede à França plano de emergência para migrantes de Calais
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu hoje (7) à França para apresentar um plano global de “emergência civil” para criar acomodação digna para os milhares de migrantes acampados em Calais, no Norte do país, na esperança de conseguirem viajar para o Reino Unido.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) advertiu, por outro lado, que um reforço das medidas de segurança no Canal da Mancha apenas levará os migrantes que tentam atravessá-lo a correr riscos maiores.
“Vamos tratar isso como uma emergência civil”, disse Vincent Cochetel, chefe da Divisão Europa do Acnur, depois de ressaltar que o Alto Comissariado pede há um ano uma “resposta urgente, abrangente e sustentável” para o agravamento da crise migratória.
Cochetel destacou que um plano de emergência civil é uma resposta apenas parcial para o problema, mas que pode ser facilmente aplicada desde que haja vontade política. “Esta é uma situação gerenciável”, disse ele.
Cerca de 3 mil migrantes e refugiados, muitos deles fugidos de conflitos e perseguições em países como a Síria, a Líbia e a Eritreia, estão acampados em Calais à espera de uma oportunidade para passar para o Reino Unido em "condições terríveis", segundo descrição de Cochetel.
O Acnur manifestou também preocupação com o crescente número de mortes de pessoas que arriscam a vida ao tentarem passar o túnel sob o canal – foram mais de dez desde o início de junho.
Cochetel sublinhou que tanto o governo britânico quanto o francês têm se oposto à construção de um centro de acolhimento em Calais por recear que se torne um atrativo para mais migrantes. Ele salientou, no entanto, que esse receio não os isenta da responsabilidade de encontrar uma solução adequada. Para o chefe do Acnur, a França poderia transformar algumas das suas muitas instalações militares em centros de acolhimento.
O Acnur pediu também ao governo francês para resolver os “atuais significativos atrasos” na resposta aos pedidos de asilo, com uma espera de sete meses para que um pedido seja simplesmente registrado em Calais e mais meses de espera por um local de acolhimento.
O Alto Comissariado criticou igualmente a falta de cooperação das autoridades britânicas, afirmando que Londres recusou-se a avaliar pedidos de transferência legal de candidatos a asilo na França com fortes ligações ao Reino Unido.
Admitindo que as medidas de segurança tomadas de ambos os lados do túnel são compreensíveis, Cochetel frisou, no entanto, que elas são apenas parte da solução. “Não é com mais cães e mais cercas que vamos resolver Calais. Precisamos de um plano abrangente e de uma resposta sustentável”, insistiu. "Este problema existe há 14 anos e vai continuar, porque não se pode mudar a geografia”.