Soluções para atenuar a seca em Cabo Verde possibilitaram reduzir a fome

Autoridades dos países alertam que não há água suficiente para

Publicado em 19/03/2018 - 12:04 Por Pedro Peduzzi e Paulo Victor Chagas - Repórteres da Agência Brasil - Brasília

Presentes na sessão de abertura do 8º Fórum Mundial da Água, representantes de países do Caribe, da Europa, da África e da América do Sul apresentaram soluções que vêm adotando para lidar com a realidade atual que passam, com problemas como o acesso à água, a proteção de fontes de água doce e os investimentos em estrutura.

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde, durante o Fórum Mundial da Água

Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde, durante o Fórum Mundial da ÁguaDivulgação/ TV NBR

O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos de Almeida Fonseca, destacou o sucesso de seu país em dissociar os problemas de fome e de acesso à água. Fonseca relatou que, em seu país, os problemas ambientais estavam relacionados ao desmatamento e à estiagem, o que o levou a buscar “soluções alternativas”. Segundo o presidente de Cabo Verde, entre essas soluções estava a criação de instituições “cada vez mais aptas a responder em tempo as oportunidades e os desafios que surgiam”.

“Estou aqui para falar do esforço de Cabo Verde e do envolvimento das populações na gestão e na execução de práticas para produção e pesquisa, bem como das oportunidades de investimento e para a indústria. Meu país procura equilíbrio entre a satisfação da população e o dever e a responsabilidade do uso da natureza e do que ela nos proporciona”, disse.

Segundo Fonseca, esse problema afeta a todos países e, por isso, deve ser enfrentado de forma conjunta. “A gestão e o uso e eficiente da água exigem cooperação, parceria e troca de experiências e de saber. Esses problemas não poderão ser resolvidos isoladamente”, discursou o presidente cabo-verdiano.

“Meu país e alguns outros de nossa sub-região africana estão envolvidos em processo de atenuação dos efeitos da seca. No passado, enfrentamos a fome e a morte em Cabo Verde por razões de seca e estiagem. Mas aprendemos a viver e a conviver com a seca em uma harmonia simbiótica que nos permitiu afastar a fome em Cabo Verde, apesar da influência episódica da estiagem hídrica. Passou a estiagem e ficamos de pé”.

Os resultados, segundo ele, alargaram horizontes, após obter sucesso em reduzir a captação de água pela população e pelas empresas. “O acesso à água potável é direito de todo ser humano. Por essa razão, o acesso não deve ser condicionado ao poder econômico ou militar, nem ao poder do mercado”, acrescentou.

Água é questão de vida ou morte, diz presidente da Hungria

O presidente da Hungria, Janos Ader, disse, durante seu discurso, que relatórios preparados no âmbito da ONU deixam claro que a água é, atualmente, “uma questão de vida ou morte” e que a partir de agora “não se pode subestimar o fato de que não teremos água suficiente”

“Dados mostram uma situação dramática: duas em cada cinco pessoas no planeta já vivem em áreas com estresse hídrico, e mais de 2 bilhões de pessoas bebem água poluída. A previsão para 2050 é ainda pior: metade da humanidade viverá em áreas com estresse hídrico e desastres relacionados à água aumentarão drasticamente. Portanto, temos de resolver esses problemas, usando menos água per capita”, disse Ader, citando “os dramas hídricos” vividos na Califórnia (EUA) e na cidade do Cabo (África do Sul).

Ele também fez referência aos desastres e inundações ocorridos ano passado na China, no Japão e no Peru. Para amenizar esses problemas, o presidente húngaro ressaltou a necessidade de os países cumprirem as propostas contidas no Painel de Alto Nível da Água.

“Com relação ao uso, precisamos criar um sistema integrado e, assim, migrar para uma gestão hídrica, já que 40% da humanidade vive acima de aquíferos compartilhados [por diferentes países]. È importante que os países entrem em acordo sobre o uso comum”.

De acordo com David Granger, presidente da República Cooperativa da Guiana, a proteção das fontes de água doce do planeta é essencial para garantir a segurança hídrica no planeta. Ao defender a saúde dos rios como necessária para garantir a "sobrevivência humana", Granger lembrou que, assim como o Brasil e a Guiana, vários países têm rios fronteiriços que precisam ser protegidos.

"A poluição dos rios tem impacto nefasto. A proteção das fontes naturais de água é de suma importância para garantir direito humano à água e o acesso das comunidades à água segura", disse, alertando para a necessidade da responsabilidade compartilhada da gestão da água.

Segundo ele, os Estados, principalmente os vizinhos, precisam colaborar para conservar os recursos hídricos e preservar a integridade dos "rios e lagos do planeta". "O que está em risco aqui é o futuro da humanidade. A República Cooperativa da Guiana deseja todo sucesso para o 8º Fórum Mundial da Água", finalizou.

Financiamento de projetos de água potável

Já o presidente de São Tomé e Príncipe, Evaristo Espírito Santo Carvalho, lançou um desafio aos presentes de continuar financiando políticas e projetos que forneçam água potável a todas as populaçõs, para o qual, segundo ele, seu país tem feito um "enorme esforço". Citando os problemas de seu país, disse que apenas 0,045% da água disponível atualmente é aproveitada para abastecimento da população.

Ele relatou que novos investimentos estão em curso com o objetivo de atingir os compromissos assumidos pelo país em nível nacional e internacional. Ele informou que recentemente foi promulgada a lei dos Recursos Hídricos, para promover uma gestão adequada e reorganizar o uso dos recusos.

Compartilhamento de tecnologia

O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Lee Nak-yon, defendeu o uso da tecnologia para melhorar a gestão da água. Ele associou a inovação como aliada com a possibilidade de geração de mais empregos e desenvolvimento econômico.

Brasília - O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Lee Nak-yong, participa da abertura oficial do 8 Fórum Mundial da Água, no Palácio Itamaraty (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Lee Nak-yong, participa da abertura oficial do 8º Fórum Mundial da Água, no Palácio Itamaraty Marcelo Camargo/Agência Brasil

Segundo o primeiro-ministro, a República da Coreia está pronta para compartilhar sua experiência com o mundo, utilizando os investimentos do setor privado na infraestrutura.

“Eu gostaria de sugerir que o mundo desenvolva e compartilhe tecnologias de gestão da água. Que o mundo se torne mais ativo na tecnologia e eficiente na gestão da água com base na inovação”, disse. Além das tecnologias sofisticadas avançadas, ele citou também a inteligência artificial.

Já como exemplos de recursos que “são realidade” nos dias de hoje, Nak-Yon Lee mencionou a dessalinização da água do mar e geração de energia hidrotérmica. Como argumento para a necessidade de se compartilhar os benefícios de cada país com relação à água, ele relatou a falta de acesso à água ou o contato com a poluição, o que pode causar doenças. “Portanto, todos os dias cerca de 1000 pessoas morrem por causa da água contaminada. E a demanda por água vai aumentar”, alertou.

Contaminação da água

Na mesma linha, o príncipe herdeiro do Japão, Naruhito Denka, lamentou o fato de a contaminação da água estar sendo ignorada em várias regiões do mundo, o que tem trazido danos. Segundo ele, apesar de fomentar o desenvolvimento de muitos países, inclusive o Japão, a água impõe problemas ao redor do mundo, como a seca e, de outro lado, as enchentes.

“Os problemas hídricos não podem ser resolvidos sem sabermos a história e a cultura da água em cada um dos países, regiões e comunidades. Precisamos entender profundamente essencialidade da água para compartilharmos informações e colaborarmos para uso hídrico”, disse, acrescentando que a situação hídrica global deve estar situada ao lado de outros grandes temas, como educação, desenvolvimento e pobreza.

>> Veja a cobertura completa da EBC no 8º Fórum Mundial da Água

Edição: Lidia Neves

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