Irã divulga relatório preliminar sobre morte de Mahsa Amini
Mais de duas semanas depois da morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, continuam os protestos no Irã e em outros países contra as leis do governo iraniano e a repressão que atinge sobretudo as mulheres. Nesta segunda-feira (3), foi divulgado relatório preliminar sobre a morte da jovem, após ser detida pela polícia da moralidade. O documento visa "mostrar a determinação da República Islâmica do Irã em ilustrar os fatos do incidente".
A Embaixada da República Islâmica do Irã em Lisboa comunicou que o governo iraniano se comprometeu a “investigar o incidente imediatamente e sem tolerância” e a “lidar legalmente com qualquer negligência ou possível violação relacionada à causa” da morte de Amini.
“Infelizmente, em relação a esse incidente e antes do anúncio dos resultados finais da investigação pelas autoridades competentes, muitas controvérsias e acusações sem fundamento foram feitas pelas autoridades e pelas chamadas instituições de direitos humanos em alguns países”, afirma a embaixada em nota, acrescentando que “os meios de comunicação social, principalmente no Ocidente e na Europa, publicaram reportagens falsas e propaganda midiática sobre a questão e os protestos relacionados no Irã”.
Admitindo estar “consternado com a morte de Mahsa Amini”, o Alto Conselho para os Direitos Humanos do Irã divulgou o relatório, “elaborado com o objetivo de mostrar a determinação” do governo em “ilustrar os fatos do incidente”, assim como “os relativos à exploração dos eventos subsequentes” que levaram à “inquietação e insegurança da sociedade”.
Segundo o documento, baseado em texto redigido pela polícia, “devido ao descumprimento da lei islâmica sobre o uso do hijab e à impossibilidade de corrigir o estado do vestuário diante da polícia”, a jovem iraniana foi “transferida para uma sala de conferências do Departamento de Assuntos Sociais e Educação para Mulheres na Polícia de Segurança Pública, sem qualquer abuso verbal, maus-tratos físicos ou coercitivos, para receber as informações necessárias”.
Mahsa Amini "perdeu subitamente a consciência" e caiu “no chão após 26 minutos”, de acordo com os dados divulgadas.
“As medidas iniciais, implementadas por um médico da Polícia de Segurança Pública e serviços de emergência, assim como o encaminhamento imediato para o hospital, não deram resultado”, acabando, posteriormente, por ser “declarada morta, apesar de várias tentativas de ressuscitação cardiorrespiratória”.
Investigação
De acordo com a embaixada iraniana em Portugal, o chefe do Poder Judiciário nomeou comissão especial, na Organização de Medicina Legal, para examinar o assunto e apresentar relatório.
Protestos
A revolta pública explodiu depois de Amini ter morrido sob custódia, em 16 de setembro, três dias depois de ser detida por supostamente violar as regras rígidas do Irã para as mulheres usarem lenços hijab e roupas modestas.
Vídeos mostraram carros de bombeiros, estações de trens e bancos queimados. O governo afirma que os distúrbios, incluindo tiros disparados pela multidão, são da responsabilidade de grupos terroristas. Os manifestantes, por seu lado, acusam a polícia de disparar na multidão.
No Irã, é obrigatório as mulheres cobrirem o cabelo em público. A polícia fiscaliza ainda as mulheres que usam casacos curtos, acima do joelho, calças justas e jeans com buracos, além de roupas coloridas, entre outras regras.
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