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Internacional

Afeganistão: talibãs proíbem entrada de mulheres nos lagos de Bamyan

Governo alega que elas não usam corretamente o lenço islâmico
Rachel Mestre Mesquita - Repórter da RTP*
Publicado em 28/08/2023 - 09:34
Cabul
FILE PHOTO: An Afghan schoolgirl reads from her book inside a house in Kabul, Afghanistan, March 23, 2022. REUTERS/Charlotte Greenfield/File Photo
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RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Os talibãs anunciaram, nesse domingo (26), que querem proibir as mulheres afegãs de frequentar o Parque Nacional Band-e-Amir, patrimônio mundial da  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na província turística de Bamyan, aumentando assim a longa lista de restrições a que estão sujeitas. Uma decisão "cruel" e "totalmente intencional" condenaram, nesta segunda-feira (28), as organizações humanitárias.

O Ministério do Vício e Promoção da Virtude do Afeganistão anunciou que usará as forças de segurança para impedir que as mulheres visitem uma das atrações turísticas mais populares do país, alegando que elas não usam corretamente o lenço islâmico.

 

"Não contentes por privarem as jovens e as mulheres da educação, do emprego e da liberdade de circulação, os talibãs querem também retirar-lhes os parques e o desporto, e agora até a natureza", denunciou Heather Barr, diretora adjunta dos direitos das mulheres da organização Human Rights Watch.

As organizações de defesa dos direitos humanos condenaram a decisão "cruel" de impedir o acesso das mulheres afegãs ao Parque Nacional Band-e-Amir, na província de Bamyan, majoritariamente habitada pela minoria xiita Hazara e considerada a menos perigosa e uma das menos conservadoras do país.

"Passo a passo, os muros estão se fechando sobre as mulheres, com cada casa tornando-se uma prisão", denunciou Heather Barr em comunicado.

O vale do Bamyan, no centro do Afeganistão, é o principal destino turístico do país, esculpido por longos penhascos e formado por uma rede de lagos turquesa. Foi declarado patrimônio mundial da Unesco em 2023.

Aqui, muitas famílias afegãs costumavam alugar “gaivotas” para navegar nos lagos e passear ao longo das margens, mas agora esse direito parece estar reservado exclusivamente aos homens.

Mohammad Khalid Hanafi, ministro da Prevenção do Vício e da Promoção da Virtude, justificou a proibição, durante visita à província de Bamyan, alegando o uso incorreto do hijab, o lenço islâmico, nos últimos dois anos.

"Temos de tomar medidas sérias agora. Temos de impedir o desrespeito pelo hijab", afirmou o ministro afegão. "As mulheres e as nossas irmãs deixarão de poder viajar para Band-e-Amir enquanto não tivermos estabelecido diretrizes. O turismo existe, elas podem fazer turismo, mas o turismo não é obrigatório", acrescentou.

O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação dos Direitos Humanos no Afeganistão, Richard Bennet, questionou a nova medida tomada pelo governo talibã, na sua conta da rede social X, antigo Twitter.

"Alguém pode explicar por que razão essa restrição às mulheres que vão à Band-e-Amir é necessária para cumprir a lei da Sharia e a cultura afegã?”, perguntou.

A organização Human Rights Watch considera que "a explicação sobre o fato de uma mulher não usar um hijab adequado não faz qualquer sentido" e que "também está em causa a sua capacidade de sentir alegria".

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