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Internacional

Estado de saúde de jovem iraniana em coma se agrava

Armita Garawand foi agredida pela "polícia da moralidade" no metrô
Rachel Mestre Mesquita - Repórter da RTP
Publicado em 11/10/2023 - 15:51
Lisboa
Armita Garawand, de 16 anos, entrou em coma após ter sido agredida pela
© Anistia Internacional
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Os meios de comunicação social iranianos noticiaram nesta quarta-feira (11) que o estado de saúde de Armita Garawand, a jovem de 16 anos que entrou em coma após ter sido agredida pela "polícia da moralidade" no metrô de Teerã, no início de outubro, piorou nos últimos dias.

"Apesar dos esforços contínuos da equipa médica, os sinais vitais relativamente estáveis de Armita Garawand evoluíram e deterioraram-se um pouco nos últimos dias", informaram as agências noticiosas Irna e Borna, ligadas ao ministério iraniano da Juventude e dos Desportos.

As agências acrescentaram que os esforços da equipe médica prosseguem para tentar salvar a jovem, que se encontra hospitalizada no hospital da Força Aérea, Fajr, em Teerã, sob rigorosas medidas de segurança.

A organização de defesa de direitos humanos no Irã Hengaw, com sede na Noruega, sublinhou o "estado crítico de Armita Garavand, com sinais vitais alarmantemente baixos", numa publicação na rede social X, antigo Twitter.

Causa do coma é controversa

Armita Garawand terá sido fisicamente agredida por membros femininos das autoridades iranianas na estação de Shoada, do metrô da capital, no dia 1º de outubro, alegadamente por não ter respeitado o uso obrigatório do hijab (véu islâmico).

Ela foi levada para o hospital militar de Fajr, onde se encontra desde então em estado de morte cerebral, mas ainda assim privada de “visitas nem mesmo de família”, de acordo com a ONG Hengaw.

Segundo informação da mesma fonte, a jovem foi vítima da repressão da "polícia da moralidade", cuja missão é assegurar a aplicação da obrigação de as mulheres iranianas usarem o véu islâmico em público.

Teerã desmente

No entanto, Teerã desmentiu a notícia e acusou os governos ocidentais "intervencionistas" de espalharem rumores sobre o estado de saúde de Armita, segundo a agência France Presse. As autoridades iranianas têm negado sistematicamente qualquer agressão física a Armita Garawand e informam que ela sofreu uma “queda da tensão arterial”, versão veiculada pela agência noticiosa oficial iraniana e vários meios de comunicação estatais nos dias seguintes.

Segundo a Anistia Internacional, diante da negação do governo iraniano e do acúmulo de provas de encobrimento por parte das autoridades iranianas, é necessária uma investigação independente das Nações Unidas para apurar a causa dos ferimentos graves da jovem.

"As autoridades iranianas levam a cabo uma campanha concertada de negação e distorção para encobrir a verdade sobre as circunstâncias que conduziram ao colapso de Armita Garawand, o que faz lembrar de forma arrepiante as suas narrativas falsas e explicações pouco plausíveis sobre o caso de Mahsa/Zhina Amini", afirmou a diretora regional adjunta da Anistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Diana Eltahawy.

"Mulher, Vida, Liberdade"

O controverso caso de Armita Garawand surge pouco mais de um ano após a morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma jovem iraniana curda de 22 anos, detida pela “polícia da moralidade” por alegadamente também violar as rigorosas regras de vestuário impostas às mulheres no Irã.

A morte polêmica de Mahsa Amini, em 16 de setembro de 2022, desencadeou fortes protestos no Irã, sob o lema "Mulher, Vida, Liberdade", mas a contestação foi perdendo força com o passar dos meses fruto da brutal repressão da polícia iraniana.

Na última sexta-feira (6), a jornalista e defensora dos direitos humanos iraniana Narges Mohammadi venceu o Prêmio Nobel da Paz pela sua luta contra a opressão de que as mulheres são vítimas no Irã e dedicação na defesa dos direitos humanos e da liberdade de toda a população oprimida.

Narges Mohammadi, de 51 anos, está privada de liberdade há anos, e, mesmo presa e torturada pelo regime iraniano, nunca deixou de lutar incessantemente pela liberdade.

No anúncio feito na sexta-feira, o Comitê Nobel Norueguês considerou que o lema adotado pelos manifestantes "Mulher, Vida, Liberdade" expressava "adequadamente o trabalho e dedicação" da iraniana. "Este Prêmio Nobel da Paz é um tributo a todas as mulheres que lutam pelos seus direitos, pondo em risco a sua liberdade, a sua saúde e até a sua vida", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Guterres considerou que "é importante recordar que os direitos das mulheres e das jovens estão sob forte pressão, nomeadamente através da perseguição das mulheres defensoras dos direitos humanos, no Irã e noutros países", numa declaração sobre a atribuição do Nobel da Paz a Narges Mohammadi.

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