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Internacional

Nobel da Paz de 2023 inicia greve de fome no dia da entrega do prêmio

Ativista iraniana Narges Mohammadi está detida em prisão de Teerã
Andreia Martins - Repórter da RTP*
Publicado em 09/12/2023 - 17:28
Teerã
FILE PHOTO: Iranian human rights activist and the vice president of the DHRC Narges Mohammadi. Mohammadi family/REUTERS/File
© Mohammadi family/REUTERS/File
RTP - Rádio e Televisão de Portugal

A ativista iraniana Narges Mohammadi, detida numa prisão de Teerã, inicia neste domingo (10) nova greve de fome. O ato simbólico marca o dia em que seus dois filhos irão a Oslo receber o Prêmio Nobel da Paz em seu nome.

A decisão foi anunciada pela família na capital norueguesa, onde será entregue o Nobel da Paz. “Ela não está aqui conosco, está na prisão e fará greve de fome em solidariedade a uma minoria religiosa”, disse o irmão mais novo de Narges, Hamidreza Mohammadi, em entrevista.

Taghi Rahmani, marido da ativista, vencedora do Prêmio Nobel da Paz deste ano, reforçou que se trata de um gesto de solidariedade com a minoria bahá’i. Mais duas ativistas iranianas também detidas, Mahvash Sabet e Fariba Kamalabadi, estarão em greve de fome.

De acordo com Rahmani, Narges quis marcar dessa forma simbólica o dia em que o prêmio será entregue à sua família. “Talvez o mundo ouça falar mais disso”, afirmou a ativista, segundo o marido.

A comunidade bahá’i constitui a mais significativa minoria religiosa do Irã e é alvo de frequentes ataques e perseguições. A fé Bahá’i teve origem em Shiraz, na Pérsia, no século 19, mas a República Islâmica não a reconhece sequer como religião, considerando que se trata de uma “seita política”.

Luta de Narges

Narges Mohammadi tem se destacado na luta contra o uso obrigatório do hijab (véu islâmico) pelas mulheres e também contra a pena de morte no Irã, o que lhe valeu longos períodos de prisão ao longo de várias décadas. Está atualmente na prisão de Ervin, em Teerã.

"No total, o regime iraniano já a deteve por 13 vezes, condenou-a por cinco e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas", destacou o comitê norueguês em outubro, quando a ativista foi anunciada como vencedora do prémio.

De saúde frágil, esta não é a primeira vez que Narges entra em greve de fome. No início de novembro esteve vários dias em protesto pelo direito de ser transferida para o hospital, sem ter de cobrir a cabeça com o hijab.

Ali e Kiana Rahmani, filhos de Narges, vivem exilados em Paris com o pai e vão receber o prêmio amanhã em Oslo. Com 17 anos, os dois viram a mãe pela última vez há oito anos.

“Talvez a veja daqui a 30 ou 40 anos, mas acho que não vou vê-la novamente ”, afirmou Kiana em entrevista.

Família

Narges Mohammadi é uma das principais figuras do movimento “Mulher, Vida, Liberdade” que tem se manifestado no Irã desde setembro de 2022, quando Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana de 22 anos, morreu nas mãos da polícia após ter sido detida por utilização incorreta do véu islâmico.

O Parlamento Europeu decidiu atribuir o Prêmio Sakharov a Mahsa Amini, a título póstumo, e ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade”, reprimido com violência pelas autoridades iranianas ao longo dos últimos meses.

De acordo com a advogada da família, Chirinne Ardakani, os pais e o irmão de Mahsa Amini foram “proibidos de embarcar no voo que os levaria a França para a cerimônia de entrega do Prémio Sakharov" na sexta-feira.

Apesar de terem os vistos, os passaportes dos familiares de Amini “foram confiscados”, acrescentou a advogada em declarações à agência France Presse.

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