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Cientista diz que minicérebros podem ajudar estudos sobre vírus zika

Stevens Rehen acredita que é possível agora desenvolver medicamentos
Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 11/06/2016 - 19:52
Rio de Janeiro
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© Cristina Índio do Brasil - Agência Brasil

Stevens Rehen

Stevens Rehen disse que o uso dos minicérebros para o estudo do zika é um bom modelo para buscar medicamentos para o tratamento de mulheres grávidas Cristina Índio do Brasil - Agência Brasil

O uso dos minicérebros, criados em laboratório, para o estudo do zika, que serviu para a comprovação de que havia uma relação entre a infecção pela doença e a microcefalia, é um bom modelo para buscar medicamentos para o tratamento de mulheres grávidas, mas precisa avançar.

A avaliação é do professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB-UFRJ), pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e coordenador do Projeto de Criação do Biobanco de Células-Tronco de Pluripotência Induzida (iPS) do Ministério da Saúde, Stevens Rehen. Ele participou hoje (11), no Observatório do Museu do Amanhã, do debate Minicérebros de laboratório: uma revolução na medicina?

A relação entre o zika e a microcefalia foi comprovada por pesquisa realizada no Brasil, da qual Rehen é um dos responsáveis. O estudo foi publicado na revista americana Science. Para o cientista, não basta só entender os mecanismos que levam à microcefalia causada pelo zika, mas prosseguir na busca de medicamentos e alternativas para evitar a infecção e as consequências para o sistema nervoso em desenvolvimento.

Avatares

Rehen informou que os minicérebros funcionam como avatares, que são resultado da transformação de uma célula da pele em uma outra que pode virar qualquer tecido do corpo. “A partir desta reprogramação, a gente cria uma célula que pode virar qualquer tecido e aí a gente instrui esta célula para se transformar nessas estruturas tridimensionais, que têm em torno de 2 milímetros, mas que se desenvolvem como se fossem um cérebro fetal de 2 meses de idade. Com isso, abre uma série de possibilidades para entender como se forma o cérebro humano para estudar doenças”, disse.

O cientista afirmou que a pesquisa é consequência de uma capacidade instalada no Rio de Janeiro, alcançada após investimentos do governo nos últimos 10 anos, mas se mostrou preocupado com a continuidade dos trabalhos.

“Hoje é um problema para a gente, porque existe uma insegurança em relação ao futuro da pesquisa, com a questão da fusão do ministério e outras questões que nos deixam inseguros. Ela foi feita em 25 dias, entre o começo da pesquisa e a publicação para a revista Science, mas isso é porque a gente já tinha a faca e o queijo na mão”, contou.

Combate

De acordo com o pesquisador, é preciso combater o mosquito que já está completamente adaptado ao ambiente urbano e ter uma estratégia de vacinação e um medicamento para uso agudo em pessoas infectadas.

“No caso específico da microcefalia, a gente acha que tem uma outra coisa envolvida também que pode ser o ambiente. O zika está muito presente em áreas pobres, áreas carentes, onde muito provavelmente o pré-natal não foi bem feito e a mulher pode ter deficiência nutricional. Então, tem outras coisas envolvidas que temos que explorar, mas, talvez, por aí seja uma forma de evitar a doença”, disse. Acrescentou que se sente feliz com o nível de pesquisas e estudos realizados no Brasil para o esclarecimento da infecção do zika e os seus reflexos.

Células tronco

Ainda no debate, o professor apontou que, no futuro, o tratamento de células com o uso de outras células produzidas a partir de partes do próprio paciente poderá ser usado contra o câncer. Ele reconheceu que isso pode gerar um tipo de discussão sobre ética. “É natural desafiar os limites éticos da sociedade”, finalizou.